Como anotar com eficiência

Não há uma técnica universal de anotação. A opção depende muito do tempo disponível, do estilo pessoal e da importância do livro para o seu projeto de aprendizagem.

Um princípio básico é o seguinte: quanto mais importante for a obra, mais detalhado deve ser o sistema de anotação. Assim, nada impede que você misture alguns métodos de anotação, mesclando informações textuais, visuais e auditivas, seja durante a leitura, seja após a leitura.

O método de anotação que costumo utilizar é bem simples e pega emprestado alguns elementos de vários outros métodos semelhantes. Ele é dividido em três fases.

Na primeira fase, procuro fazer anotações no próprio material durante a leitura (marginalia). É um processo simples em que costumo colocar setas indicando um parágrafo importante, um colchete no trecho relevante e um círculo nas palavras-chaves do referido trecho. Na margem, anoto um comentário ou um símbolo (ver abaixo), geralmente com um comentário meu na margem contrária.

Os símbolos que costumo usar são dinâmicos e variam conforme a necessidade. Apenas para ilustrar, eis alguns exemplos mais comuns que usualmente utilizo:

Ao contrário do que possa parecer, não há tanta sofisticação nesse processo, pois minha leitura costuma ser bem passional e, frequentemente, as emoções são transferidas para as notas e para os símbolos.

Para ter uma ideia, eis um exemplo de um trecho de um livro anotado a partir desse método:

Portanto, a primeira fase consiste simplesmente em adotar alguma técnica de anotação no próprio material de leitura.

Em uma segunda fase, tento organizar as notas em um sistema mais sofisticado, sobretudo quando se trata de uma leitura que vale a pena investir o tempo. Não uso o sistema de fichamentos, nem de flashcards, nem o método Cornell, que são os mais populares (há vários tutoriais no Youtube ensinando a usá-los). Prefiro métodos mais visuais e baseados em associações ou categorizações de ideias, como a elaboração de mapas mentais, sketchnotes ou organogramas.

Esse processo de registro das anotações é sempre dinâmico e pode variar conforme a importância do texto. Em geral, desenho o mapa mental à mão, a partir de uma folha em branco contendo a ideia principal no centro. Às vezes, quando desejo organizar melhor as ideias, uso um aplicativo chamado Xmind para me auxiliar na elaboração do mapa mental.

A ideia básica é tentar estruturar as principais ideias do texto em tópicos e subtópicos, como se fosse uma árvore deitada. Não se trata simplesmente de sumarizar o texto, pois é preciso detalhar cada linha de raciocínio com as palavras-chave para visualizar a conexão entre as ideias e possibilitar a compreensão holística do texto.

Tenha em mente que o grande valor do ato de anotar um texto está na própria compreensão da leitura e na adoção de mecanismos que proporcionem o processamento da informação. A elaboração criativa das notas e de mapas mentais pode, nesse contexto, consolidar a memória e atuar como output do processo de aprendizagem. A consulta futura é apenas um ganho adicional.

Na terceira e última fase, procuro gravar um áudio ou vídeo expondo os pontos essenciais do texto, usando minhas próprias palavras. Durante a gravação, sempre indico em qual página as ideias podem ser encontradas, pois isso facilita uma citação futura. É o que chamo de audionota.

Em geral, gravo uma audionota logo após a elaboração do mapa mental de um capítulo lido, tentando explicar com minhas palavras e de modo simplificado o que entendi do texto (técnica Feynman).

O ideal é tentar se conectar intensamente com o texto, seja num nível intelectual, seja num nível emocional. Quanto mais interações melhor, inclusive em termos sensoriais. Gritos, gestos, caretas, risadas também fazem parte de uma leitura de alto impacto. Quando estamos engajados com o texto e somos capazes de interagir com as ideias que estão sendo recebidas, a leitura se torna ainda mais marcante.

Se formos capazes de construir imagens ou representações mentais, mapear pontos de concordância e discordância, associar as ideias do texto com outras do nosso acervo mental, desenvolver exemplos e analogias, produzir mapas mentais, realizar anotações eficientes, reformular argumentos com nossas próprias palavras etc., atingimos quase um nível perfeito de leitura.

Fonte: as informações acima são trechos do meu livro Super-Aprendizagem (no prelo)!

Se quiser acompanhar dicas como essa, convido-o a seguir minha Newsletter “Brain Hacks”:

https://brainhacks.substack.com/

Como Vencer os Algoritmos de Consumo e Obter Livros Gratuitos

O post de hoje é de utilidade pública. Vamos apresentar uma dica simples, mas poderosa, para obter livros digitais gratuitos para o Kindle, sem pirataria. E de sobra, vamos oferecer uma relação de livros por nós selecionados, inclusive de direito. Mas o principal propósito é mostrar como usar a inteligência artificial em nosso favor e como nos proteger das manipulações dos algoritmos de consumo.

Como diria Alvin Toffler, ou você tem uma estratégia própria ou então é parte da estratégia de alguém. Se você não quer ser parte da estratégia de alguém, é fundamental desconfiar da configuração original que vem oferecida pelos grandes portais. Esses portais costumam ser configurados, no seu modo padrão, para induzir o usuário a consumir por sugestionamento. Eles utilizam métodos poderosos e desenhados sob medida para capturar a atenção do consumidor e fazê-lo gastar o máximo de tempo, de atenção e de recursos financeiros.

É fácil cair nessas armadilhas, pois o jogo é desleal. Os grandes conglomerados investem bilhões para descobrir formas de controlar nossas decisões e nos induzir a fazer o que querem. As mentes mais inteligentes do planeta estão do lado deles, usando conhecimento de ponta, uma quantidade enorme de dados e sofisticados modelos matemáticos para prever, monitorar e direcionar os comportamentos humanos. Geralmente, isso ocorre por meio de gatilhos mentais embutidos nas páginas de acesso dos sites que influenciam o inconsciente a consumir cada vez mais.

Faça um teste. Entre em um grande site de comércio eletrônico. Você verá vários gatilhos em ação. Há alguma promoção com tempo limitado? Escassez. Há algum mega desconto? Ancoragem. Há avaliação positiva de outros usuários? Conformidade social. Há slogans irresistíveis? Copywriting. Há opção de pagar com um clique? Nudge marketing. Há publicidade que parece adivinhar o que você quer? Retargeting ou monitoramento dos rastros digitais. Há poluição visual, com muitas cores e banners em movimento? Confusão mental para reduzir a capacidade cognitiva e instigar o senso de urgência. Booom! Seu cérebro já fica predisposto a comprar.

Esses gatilhos têm o mesmo efeito de um caça-níquel para uma pessoa viciada em jogos. Como qualquer vício, dificilmente a pessoa viciada conseguirá vencer a tentação de parar de consumir. No final, acabará esgotando uma parte de seus recursos com produtos sugeridos pelo algoritmo que, em contextos mais racionais, não seriam adquiridos.

Você já recebeu publicidade de algo que você acabou de mencionar em uma conversa? Se sim, é porque há mecanismos sofisticados de monitoramento, de predição e de persuasão que conhecem seus desejos mais do que você mesmo. Os algoritmos sabem o que você fez no verão passado e irão usar isso para controlar seus próximos passos.

Uma simples mudança de configuração pode minimizar a influência dos gatilhos, proporcionando uma experiência digital mais produtiva, menos perdulária e mais rica intelectualmente.

O segredo é salvar na barra de favoritos do navegador uma página configurada de acordo com suas preferências, evitando a visualização da página padrão. Em outras palavras: basta personalizar o site e deixar essa personalização sempre acessível na barra de favoritos.

Qual a vantagem disso?

Ao mudar a configuração da página inicial e adicionar essa nova configuração à barra de favoritos, você será capaz de criar uma página inicial só com produtos que você considera valiosos. Ao invés de ser manipulado pelos algoritmos, você estará sinalizando para o robozinho da internet os estímulos que quer receber.

Isso vale para qualquer grande portal, mas vamos usar o site da Amazon como ilustração por ser onde há mais opção de livros gratuitos.

A opção mais prática é configurar a página inicial inserindo na busca um termo de interesse. Por exemplo, Amazon – Filosofia ou Amazon – Economia ou ainda Amazon – Direito. Mas você pode alterar para o assunto que você quiser. O objetivo é informar para o sistema que você considera aquele assunto prioritário e neutralizar alguns gatilhos da página de entrada.

Depois de escolher a configuração, é só incluir o site na barra de favoritos do navegador. Geralmente, há um botão na parte superior, ao lado do endereço do site, para adicionar a página aos favoritos. Selecionar e arrastar o endereço para barra também costuma funcionar.

Uma opção um pouco mais trabalhosa é detalhar as opções para que a página inicial mostre apenas os livros gratuitos. Uma das nossas configurações favoritas é a seguinte: Livros Grátis de Filosofia, Política e Ciências Sociais Por Data de Publicação.

Ao classificar os livros gratuitos por “data de publicação”, é possível receber todas as atualizações de livros gratuitos sempre que o site é acessado. Isso ajuda a descobrir não só as novidades, mas também aqueles livros que as editoras incluem por curto prazo na lista de gratuitos.

Há achados incríveis como o livraço “A Singularidade Está Próxima”, de Ray Kurzweil, que costuma ser vendido por R$ 139,00, mas, na presente data (1/8/2022), está gratuito. (Vale ressaltar que esses achados são dinâmicos, pois muitas editoras oferecem o livro de graça por curto prazo apenas para testar o link ou em alguma promoção relâmpago).

Além disso, há os livros clássicos que, por serem de domínio público, costumam estar sempre gratuitos. Eis alguns exemplos: “Dos Delitos e das Penas”, “Elogio da Loucura”, “Do Contrato Social”, “Ensaio sobre o Entendimento Humano”, “O príncipe”, entre outros.

O ideal é ler pelo Kindle. Porém, mesmo que você não tenha o aparelho, há o aplicativo gratuito para PC, smartphone e tablets, com vários recursos de leitura e anotação.

A variedade de livros jurídicos é menor. Mesmo assim, há livros excelentes, como diversas obras do Hugo de Brito Machado e do Dalmo de Abreu Dallari. Além disso, há obras acadêmicas que os autores costumam disponibilizar gratuitamente, como “Justiça em Tempos Sombrios”, de Christina Ribas, e “O Poder Judiciário no Regime Militar”, de Vladimir Passos de Freitas.

A Loja Kindle disponibiliza uma lista de assuntos que você pode selecionar, incluindo “negócios e economia”, “computação, internet e mídia digital”, “turismo e viagem” e assim por diante. Desse modo, você pode configurar de acordo com seu assunto favorito, inserindo a opção na barra de favoritos.

O importante é que você recupere o controle de suas escolhas e não caia nas armadilhas da indústria digital.

Quando você avisa para o robozinho da internet que deseja alavancar a sua vida intelectual e prefere produtos gratuitos, a inteligência artificial passa a trabalhar para você na direção desejada. Você passará a receber conteúdo inteligente, tornando-se uma pessoa cada vez melhor por default. É mágico.

PS. Se ficou confuso, aqui o passo a passo: (1) acesse o link Amazon – Direito; (2) altere para o termo de busca de sua preferência; (3) encontre o botão “favoritos” no seu navegador ou arraste o link até a barra de favoritos.   

Dicas de Escrita para a Prova Dissertativa: um roteiro para aprimorar o estilo de linguagem

Depois de ter sofrido todas as dores típicas dos concurseiros, tive a oportunidade de virar de lado, tornando-me avaliador de várias bancas em concursos de altíssimo nível, como a seleção de mestrado, doutorado e professor da Universidade Federal do Ceará e o concurso de juiz federal do Tribunal Regional Federal da 5ª Região.

Vivenciar os processos seletivos dessa perspectiva é uma experiência fantástica. Além de conhecer pessoas altamente preparadas, acabei desenvolvendo uma expertise em separar os bons dos excelentes. Em determinado momento, depois de corrigir centenas de provas dissertativas, eu era capaz de prever se um candidato seria aprovado pelos outros membros da banca apenas olhando os dois primeiros parágrafos de sua resposta!

Tive esse insight depois de perceber um padrão que está presente nos melhores candidatos. É um padrão sutil, mas poderoso, que salta aos olhos já nas primeiras linhas.

E que padrão é este? O que separa os excepcionais dos meramente bons?

Os melhores candidatos se destacam por saberem apresentar seu conhecimento em uma linguagem correta, clara e elegante. Suas ideias são bem estruturadas, concisas e fáceis de entender. Eles conseguem conectar o leitor com frases bem construídas, demonstrando um domínio pleno da situação.

Na direção oposta, existem alguns candidatos que têm um conhecimento razoável, mas não sabem transmitir as ideias com eficiência. Eles escrevem de modo confuso, desorganizado e mecânico. A impressão que dá é que possuem apenas uma consciência nebulosa do assunto e lutam para formular um pensamento coerente.

Uma boa escrita sinaliza muitas qualidades do escritor. Escrever bem é uma habilidade que exige conhecimento do tema, domínio da língua, vocabulário requintado, capacidade de argumentar e de estruturar ideias, poder de concisão e de clareza, além de um estilo cativante. Só quem se dedica com afinco chega a um nível de excelência capaz de impressionar.

Para desenvolver essa habilidade, há apenas um caminho: praticar, praticar e praticar. Um texto bom é a recompensa por milhares de textos ruins que alguém já produziu ao longo de sua vida.

 Mas a prática sem uma base teórica é contraprodutiva. E a base teórica, sem a prática, é inútil. Um treinamento orientado pelos livros pode ser uma forma muito eficaz – e barata – de aprimorar a escrita.

Usando meu aprendizado como guia, preparei um roteiro para ajudar aqueles que desejam escrever melhor. Não é um guia definitivo, mas um menu degustação, com alguns petiscos bem nutritivos e saborosos.

Está preparado para levar a sua habilidade de escrita para outro nível? Então, siga até o fim.

Dica 1: Aprenda sobre estilo de escrita

Para aprender qualquer coisa, comece pelos fundamentos.

O que posso mostrar aqui é apenas a ponta do iceberg. Para mergulhar mais fundo, a leitura de alguns livros de referência é essencial.

Se você dominar o inglês, comece pelo “The Elements of Style”, de Strunk e White, que costuma ser a base de qualquer estudo sobre escrita. Basta dizer que é considerado o livro de não-ficção mais influente do século XX!

Mas não há prejuízo em começar por outros livros já traduzidos, pois as ideias centrais se repetem, com poucas variações.

Para não abrir tanto o leque, indico dois livros excelentes, na minha ordem de preferência:

1 – “Guia de Escrita: como conceber um texto com clareza, precisão e elegância”, de Steven Pinker.

2 – “Como Escrever Bem”, de William Zinsser.

Recomendo esses dois livros porque: (1) estão atualizados; (2) explicam o que está por trás das dicas, mostrando exemplos de sua aplicação; (3) focam a escrita científica; (4) foram escritos por quem entende de escrita; (5) possuem uma linguagem deliciosa.

Esses livros têm um propósito semelhante. Eles partem de algumas qualidades que uma boa escrita deve ter (força, clareza, concisão, organização, vivacidade, conexão e elegância) e apresentam exemplos positivos e negativos de como obter esses resultados.

Vou subir nos ombros desses e de outros gigantes para apresentar alguns princípios orientadores que aprendi. Os detalhes mais específicos, com exemplos e aplicações, estão nos livros.

Dica 2: Organize suas ideias antes de escrever

Antes de colocar suas ideias no papel, tenha alguma noção de como você irá estruturar o texto. Faça um plano incluindo todos os tópicos e subtópicos relevantes que você lembrar, com palavras-chave, dados, conceitos, citações, curiosidades, pessoas, exemplos, argumentos, objeções etc. Não precisa ter um quadro completo, pois a tendência é que outras ideias surjam ao longo da escrita.

O ideal é elaborar um mapa mental, uma lista hierárquica ou um organograma para dar uma visão geral do que será apresentado. Nada muito sofisticado. Pode ser feio, confuso e cheio de lacunas, pois é isso que se espera de um esboço inicial. O importante é que você tenha um norte.

Se você não tem qualquer familiaridade com mapas mentais, o livro do Tony Buzan pode ajudar. A lógica é organizar o pensamento como se fosse uma “árvore semântica”. O tronco é o princípio fundamental. Esse tronco se ramifica em galhos maiores, que se dividem em galhos menores, até chegar às folhas, às flores e aos frutos. Comece pelo princípio e depois vá estreitando os detalhes.

Dica 3: Capriche nos primeiros parágrafos

A introdução é a porta de entrada do texto, com o poder de ativar na mente do leitor diversos gatilhos que irão influenciar toda a leitura. Se o início for promissor, a mente do leitor estará preparada para enxergar com mais clareza as qualidades do texto. Se o início for frustrante, o cérebro acionará um alerta para detectar os defeitos. Por isso, gere uma boa impressão nas frases iniciais. Faça com o que o leitor goste de você e se sinta animado para seguir seus passos com simpatia e atenção. Se você conseguir fisgar o leitor em dois ou três parágrafos, o resto flui com muito mais facilidade.

Minha sugestão é que, já no início, haja uma sinalização de tudo o que será tratado ao longo do texto. Esclareça qual é o problema e quais serão os passos lógicos que você dará para resolvê-lo. Seja direto, didático e firme. Não enrole. Vá direto ao ponto, riscando todas as frases e palavras desnecessárias até chegar a uma sem a qual não possa prescindir. E aí que você começa.

Mostre ao leitor que você tem algo a dizer e diga com clareza, concisão e confiança. Faça com que ele sinta o poder da sua autoridade sobre aquele assunto. Sem frases escorregadias, nem sinais de insegurança ou de timidez.

Além disso, seja extremamente cuidadoso com as regras gramaticais. Erros básicos (como separar um sujeito do verbo com vírgula) podem destruir um bom texto. Essa preocupação vale para todo o processo de escrita, mas o esforço deve ser redobrado nos primeiros parágrafos.

Dica 4: Diga não ao estilo forense

Regras de gramática devem ser rigorosamente respeitadas. Já as regras de estilo são meras recomendações. Não há estilo certo ou errado. O que há são estilos que cumprem melhor ou pior a função de comunicar uma ideia em um dado contexto. É uma questão de escolha orientada pela função do texto.

E o que queremos em um texto jurídico?

Queremos expor nossas ideias de modo claro, coerente, conciso, cativante e persuasivo. Se é este o objetivo, não use o estilo forense (juridiquês). A linguagem forense é brochante, artificial e sem calor humano. Ela dá sono, quebrando qualquer possibilidade de conexão com o leitor.

Comece abolindo os arcaísmos, como “outrossim”, “destarte”, “ademais”, “decerto”, “posto que”, “empós”. Faça o mesmo com verbos pernósticos, como “afigurar-se”, “olvidar”, “dessumir”, “agasalhar”, “perscrutar”, “emanar”, “vislumbrar”.

Como sugere Zinsser, “nunca diga por escrito algo que você não se sentiria confortável para dizer em uma conversa”. Você fala “outrossim”? Se não fala, então não escreva.

Do mesmo modo, evite latinismos, tais como “ex vi”, “exempli gratia”, “lex fundamentalis”, “codex”, “sub examine”, “ab initio”, “ad cautelam”, “in casu”, “a priori”. As únicas palavras latinas que merecem ser usadas são aquelas com sentido técnico. Por exemplo: habeas corpus, quorum, erga omnes, ex nunc, ex tunc, ad hoc, pacta sunt cervanda, a quo, prima facie, etc. No mais, sem latim.

Na mesma linha, fuja do vício típico do juridiquês de substituir expressões de uso corrente por expressões que exigem do leitor um esforço de compreensão. Chame a constituição de constituição, o código penal de código penal, a CLT de CLT, petição inicial de petição inicial e assim por diante. Não fique inventando sinônimos como “lex fundamentalis”, “caderno repressor”, “digesto obreiro” ou “exordial”. Supremo Tribunal Federal é Supremo Tribunal Federal e não “Pretório Excelso”.

Também evite adjetivos meramente ornamentais, como “respeitável doutrinador”, “ilustríssimo pensador”, “eminente professor”, “augusto tribunal”, “indigitado artigo”, “malsinada lei”, “vergastada norma”, “conspícuo julgador”.

Outro vício a ser evitado é o uso de formas gramaticais que dão ânsia de vômito em leitores mais sensíveis, como “em se tratando”, “em havendo”, “no que tange”, “é cediço que”, “restou provado”, “em que pesem”, “como sói acontecer”, “mormente”, “não há falar-se”, “indubitavelmente”, “mister se faz”, “impende ressaltar”, “com espeque em”. Argh!

O juridiquês é um vício e não uma necessidade. Seu fundamento é uma tradição ultrapassada de uma época em se acreditava que um discurso vazio, mas cheio de jargões pretensamente eruditos, poderia ter algum valor. Hoje, isso não cola mais. Não há nada que justifique a escolha pelo pior estilo de linguagem já inventado pelo ser humano.

Dica 5: Simplifique sem medo

Pessoas tolas acreditam que escrever difícil é sinal de inteligência. É justamente o contrário. Um texto obscuro demonstra a incapacidade do autor de se comunicar. Portanto, é sempre um indicativo de mediocridade de quem escreve e não de quem lê.

No seu “A Arte de Escrever”, que muito recomendo, Arthur Schopenhauer coloca o dedo na ferida de quem escreve difícil para fingir erudição:

“Não há nada mais fácil do que escrever de tal maneira que ninguém entenda; em compensação, nada mais difícil do que expressar pensamentos significativos de modo que todos compreendam. (…) Quem tem algo digno de menção a ser dito não precisa ocultá-lo em expressões cheias de preciosismos, em frases difíceis e alusões obscuras, mas pode se expressar de modo simples, claro e ingênuo, estando certo com isso de que suas palavras não perderão o efeito. Assim, quem precisa usar os artifícios mencionados antes revela sua pobreza de pensamentos, de espírito e de conhecimento”.

Para dar mais clareza ao texto, você deve escrever como se fosse uma conversa planejada. Poucas pessoas usam expressões rebuscadas em uma conversa. Por isso, opte por uma linguagem simples que seja compreensível.

Uma heurística ou atalho mental na escolha de palavras é a do tamanho: em geral, as palavras curtas são mais simples do que as longas.

Outra heurística é a da disponibilidade: em geral, a primeira palavra que vem à mente é a mais adequada, pois está mais próxima daquilo que você quer dizer. Evite apenas o uso de clichês ou palavras que causam algum incômodo ao ser lida. Ou seja, se você se sentir incomodado com a palavra, troque. E se você não usaria a palavra em uma conversa com seu leitor, não a use na escrita. Simples assim.

Além disso, um bom texto não deve conter adornos inúteis. Cada elemento deve servir a um propósito e contribuir diretamente para a narrativa. As frases não devem conter palavras desnecessárias. Os parágrafos não devem conter frases desnecessárias. As seções não devem conter parágrafos desnecessários. O artigo não deve conter seções desnecessárias.

Não inclua o que não precise ser dito. Submeta cada componente a um teste de utilidade, para saber se preenchem uma necessidade real de estar ali. Essa palavra ou frase ou parágrafo ou seção é importante para transmitir o que estou tentando dizer? Se removê-la, o sentido da mensagem é prejudicado? Posso reformulá-la para torná-la mais curta? Aja de acordo com as respostas. O que for dispensável deve ser cortado, abreviado ou reduzido.

Outra fórmula para simplificar é reduzir as orações. Ao invés de escrever uma frase enorme, opte por várias sentenças concisas. Não é que você deva evitar frases longas a todo custo. Mas apenas usá-las com moderação.

Não há como estabelecer um tamanho ideal de palavras dentro de uma oração. Eu costumo acionar o alerta do corte quando vejo mais de 50 palavras ou três linhas. Em todo caso, o objetivo é a compreensão. Fracione se sentir que a frase está longa, truncada e confusa. Mas se a frase estiver limpa, fluida e clara, deixe como está, por mais longa que seja.

Ao fracionar uma oração, lembre-se que cada frase deve ser adaptada para não perder a estrutura gramaticalmente correta. Não basta simplesmente colocar um ponto no lugar da vírgula. Leia cada frase de forma independente e veja se ela conserva um sentido semântico.

Quase todos os guias de estilo recomendam a exclusão do que não é essencial. Por isso, não tenha pena de “matar seus queridinhos”. Stephen King até brinca com uma fórmula que ele recebeu em uma crítica e passou a adotar: 2a Versão = 1a Versão – 10%. William Zinsser vai além e sugere que o escritor deve cortar 50% do texto na primeira revisão e mais 10% na terceira revisão.

Seja como for, o segredo é podar os excessos, deixando o texto com os seus componentes essenciais. Transmitir o máximo de informações com o mínimo de letras é o grande desafio. Menos é mais.

Dica 6: Cuidado com a maldição do conhecimento

O escritor é um telepata. Ele precisa transferir uma ideia que está na sua cabeça para a cabeça de outro ser humano, usando apenas palavras. Sua tarefa é levar o leitor, passo a passo, a uma condição de não saber nada sobre um assunto até um ponto em que ele é capaz de entender e ampliar seu horizonte.

A posição do leitor também é difícil. Ele deve ler algumas palavras, codificar o seu significado e reconstruir o pensamento do escritor em sua própria mente. É um esforço que demanda tempo, energia, atenção, interesse e várias capacidades de compreensão.

O principal risco nesse processo chama-se maldição do conhecimento, que nada mais é do que a ilusão de pressupor que o leitor possui um conhecimento prévio para entender tudo o que está sendo dito.

A maldição do conhecimento ocorre porque, quanto mais conhecemos alguma coisa, menos nos lembramos de como foi difícil aprendê-la. Isso pode fazer com que o escritor atropele algumas etapas do raciocínio na hora de transmitir a mensagem e acabe suprimindo algumas informações necessárias que, para ele (escritor), parecem óbvias, mas que o leitor talvez não conheça.

Para evitar a maldição do conhecimento, é preciso se colocar na posição do leitor e ter consciência de que ele não sabe o que se passa na sua cabeça e provavelmente não leu o mesmo conteúdo que você leu.

Por isso, procure facilitar a vida do leitor. Não tenha receio de ser didático, explicando exatamente o que você pretende dizer com aquelas palavras e narrando os passos que você dará para chegar à conclusão que pretende oferecer. Como explica Pinker, “poupe os leitores de esbanjarem preciosos momentos de vida com a decifração de uma prosa opaca”.

Pense no texto como uma pirâmide invertida, em que cada camada amplia o conhecimento do leitor. Só passe para a próxima camada quando estiver seguro de que o leitor captou as informações necessárias para dar o próximo passo.

Se necessário, guie didaticamente o leitor para que ele possa acompanhar as suas ideias. Por exemplo, ao apresentar os argumentos a favor de uma tese, escreva algo assim: “Os principais argumentos a favor da tese X são os argumentos Y, Z e W. O argumento Y é defendido por Fulano de Tal e pode ser assim explicado...”.

Na apresentação das ideias, organize os elementos de modo que as informações mais fáceis de entender venham antes das mais difíceis. O que for familiar, conhecido e simples deve vir antes do que for novidade, desconhecido e complexo.

Só use siglas após explicar o significado da sigla, mesmo que seja uma sigla comum. Por exemplo, na primeira vez em que for mencionar o Supremo Tribunal Federal, não use de cara a sigla STF. Use Supremo Tribunal Federal (STF) e só depois passe a designar o STF pela sigla.

A mesma lógica se aplica quando você mencionar algum conceito pouco conhecido. Embora o significado do conceito possa parecer óbvio para você que estudou o tema a fundo, provavelmente não é tão óbvio para o leitor. Por isso, se é a primeira vez que o conceito é mencionado, explique o seu significado.

Em síntese, coloque uma ideia depois da outra, em uma narrativa lógica, ordenada e sequencial. E seja explícito e direto quanto ao seu propósito e sobre as ideias que você defende. Um texto científico não deve conter saltos fantasiosos, argumentos implícitos ou clima de mistério.

Dica 7: Instigue o sentido de visão do leitor

Steven Pinker sugere que o ato de escrever deve ser como um tipo de conversa em que o escritor dirige a atenção do leitor para alguma coisa no mundo, preferencialmente instigando os sentidos visuais. A metáfora que ele usa é a da escrita como uma janela para o mundo. Eu gosto de pensar no ato de escrever como um passeio de mãos dadas por um museu, em que o escritor vai mostrando os quadros para um observador interessado.

Esse apelo ao visual pode ser feito de várias formas: (1) utilização de verbos de sinalização que evoquem o senso de visão do leitor (mostrar, olhar, ver); (2) preferência por expressões mais concretas, mais vívidas e mais específicas que permitam ao leitor formar imagens visuais; (3) uso de exemplos com referência ao mundo real, narrando acontecimentos em que pessoas fazem coisas; (4) construção de metáforas e analogias visuais; (5) apresentação de ideias complexas em diferentes pontos de vista.

O objetivo é tornar as coisas mais fáceis de entender. Quando conseguimos levar o leitor a ler com os olhos da mente, ativamos o sentido mais poderoso do cérebro humano e criamos as melhores condições para a recepção da mensagem.

Dica 8: Construa frases amigáveis

O cérebro está preparado para compreender uma estrutura de frase que começa com um sujeito seguido de um verbo. Esse é o modo padrão que o cérebro enxerga o mundo e adota para codificar um texto. Ao violar esse esquema, você frustrará as expectativas do leitor e o forçará a um esforço de compreensão, aumentando os riscos de falha na transmissão da mensagem.

Por isso, o melhor é manter, sempre que possível, a estrutura sujeito – verbo – predicado para transmitir uma ideia. Além disso, procure colocar o sujeito próximo ao início da frase para o que o leitor descubra, rapidamente, quem é ele.

Do mesmo modo, não intercale muitas palavras entre o sujeito e o verbo. Quando fazemos isso, não só aumentamos o risco de erros de concordância, mas também dificultamos a vida do leitor, que terá que fazer um esforço mental para aproximar os dois principais componentes da frase.

Tudo isso pode ser resumido em uma dica: escreva para os outros como você gostaria que os outros escrevessem pra você. Se você não gosta de uma frase fora de ordem e repleta de intercalações, não entregue isso ao seu leitor.

Dica 9: Saiba usar o jogo de vozes

Compare as duas frases abaixo:

(1) “evite a voz passiva”;

(2) “a voz passiva deve ser evitada”.

A primeira opção é mais direta, mais eficiente e mais fácil de entender, porque se aproxima mais de uma conversa. E o cérebro humano está equipado para captar as informações transmitidas no formato de uma conversa. É a mesma lógica do tópico anterior, em que você deve preferir a opção que seja mais fácil de codificar.

Além disso, um texto precisa transmitir segurança. E a voz passiva é escorregadia, sem força, tímida. Geralmente, ela é usada para esconder o sujeito real, tornando o texto mais impessoal e monótono.

Mas há alguns contextos em que a voz passiva pode ser usada.

O leitor tende a focar a sua atenção no sujeito da frase. Se o texto diz “o cão mordeu a criança” (voz ativa), cria-se na mente do leitor a imagem de um cachorro mordendo uma criança. O cão é o personagem principal.

Por outro lado, se o texto diz “a criança foi mordida pelo cão” (voz passiva), a primeira coisa que virá à mente do leitor é a imagem de uma criança sendo atacada por um cachorro. A criança se torna o personagem principal.

Apesar de ser exatamente a mesma cena, o uso da voz ativa ou da voz passiva pode provocar uma mudança de foco, dando ao escritor poder sobre a perspectiva que o leitor adotará.

Isso é bem legal. Quem explica com maestria é Steven Pinker.

Dica 10: Saiba conectar frases e ideias

Um texto deve ser como uma rede de ideias que se expande. O ideal é que essa expansão ocorra de modo orgânico, levando o leitor a acompanhar com atenção cada tópico abordado, sem quebras de raciocínio. O uso de palavras de sinalização, de transição e de conexão pode facilitar esse processo.

Se perceber que a mudança de tópicos não está ocorrendo de modo fluido, faça uma breve retrospectiva do que foi visto no tópico anterior, indicando logo em seguida o será visto naquele momento (por exemplo: “Vimos no tópico anterior os principais argumentos contra a tese X. Neste tópico, veremos os argumentos a favor da tese X”). Mas não abuse muito para não tornar o texto cansativo.

Outra opção é usar perguntas que antecipam o tema a ser abordado para instigar a curiosidade do leitor. Quer saber como conectar ideias? Basta saber usar os conectores apropriados ou palavras de transição para dar uma maior fluidez ao texto.

Palavras de transição (ou conectores) indicam qual é a relação entre duas frases. Por exemplo, a expressão “por exemplo” está indicando que a presente frase é uma ilustração da anterior.

Quando estiver usando conectores, prefira os simples aos rebuscados. A linguagem cotidiana está cheia deles. Aqui uma lista exemplificativa:

(a) conectores de adição ou de reforço para acrescentar uma nova ideia: além disso”, “do mesmo modo”, “de igual forma”, “além do mais”, “no mesmo sentido” etc.). É recomendável usar também para esse fim conectores que sinalizam uma sequência (“em primeiro lugar”, “segundo”, “por último”) ou a elegante fórmula “não só/mas também”;

(b) conectores de contraste para refutar um argumento ou mudar a linha argumentativa: “mas”, “por outro lado”, “apesar disso”, “no entanto”, “em sentido oposto”;

(c) conectores de conclusão para fechar um raciocínio: “portanto”, “desse modo”, “em conclusão”, “logo”, “dessa forma”;

(d) conectores de ênfase para reforçar uma ideia: “a propósito”, “aliás”;

(e) conectores de esclarecimento para explicar a mesma ideia de um ângulo diferente: “em outras palavras…”, “dito de outro modo”, “ou seja”, “explicando melhor”. (Evite, contudo, a mera redundância. Não basta inverter a ordem da frase ou substituir algumas expressões. A ideia é, de fato, mudar a perspectiva da explicação para que o leitor possa ter uma visão mais ampla da ideia que está sendo apresentada).

Um teste prático para medir a conexão entre as frases e parágrafos é ler o texto em voz alta ou mentalmente. Se a leitura for fluida, é um bom sinal. Se for truncada, é melhor reescrever até chegar a um resultado satisfatório.

Dica Bônus: Dê elegância ao texto

A elegância importa. Um texto frio não gera interesse. E um texto desinteressante dificulta a comunicação, porque dispersa o leitor.

O segredo da elegância é estruturar bem as ideias, escolher as palavras certas e dar ritmo ao texto. Isso tende a ocorrer no processo de revisão, quando reconstruímos mentalmente cada frase até encontrar o encaixe perfeito.

É difícil explicar como ocorre esse processo de reconstrução mental, porque é introspectivo. É uma conversação interna entre o escritor e o texto, em que são simuladas várias opções de estilo até chegar a uma que agrade. É um jogo de tentativa e erro com a substituição e corte de palavras, reconstrução e quebra de frases, mudança de pontuação, correção gramatical e várias outras estratégias para dar mais clareza, coerência e musicalidade ao texto. Esse talvez seja o trabalho mais árduo do escritor, e onde a experiência conta mais.

Mas há algumas dicas que podem ser usadas deliberadamente para ir pegando jeito.

Uma delas é a regra de 3 da comunicação.

A regra de 3 é uma fórmula simples, elegante e poderosa. Quando usamos essa regra, tornamos a nossa ideia mais fluida, mais efetiva e mais memorável.

E o que é a regra de 3?

É uma técnica de estilo em que o comunicador usa três palavras ou frases para expressar a ideia que pretende transmitir. “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”. “Simples, elegante e poderosa”.

Mas não abuse colocando sinônimos só pra cumprir a regra. O objetivo não é ser repetitivo, mas acrescentar valor com ritmo. Um texto não precisa ser simples, fácil e descomplicado. Basta ser simples.

Outra dica é escrever como se estivesse compondo uma música. Gary Provost mostra como fazer:

“Esta frase tem cinco palavras. Aqui estão mais cinco palavras. Frases com cinco palavras estão bem. Mas várias juntas tornam-se monótonas. Ouve o que está a acontecer. A escrita começa a ficar aborrecida. O som começa a afogar-se. É como um disco riscado. O ouvido exige alguma variedade.

Agora ouça. Eu vario o comprimento da frase e crio música. Música. A escrita canta. Tem um ritmo agradável, uma melodia, uma harmonia. Eu uso frases curtas. Eu uso frases de médio comprimento. E, por vezes, quando tenho a certeza de que o leitor está calmo, eu envolvo-o com uma frase de um comprimento considerável, uma frase cuja energia queima, construindo com todo o ímpeto de um crescendo, o rufar dos tambores, o bater dos címbalos – sons que dizem ‘Ouça isto’, isto é importante.

Assim, escreva com uma combinação de frases curtas, médias e longas. Crie um som que agrada ao ouvido do leitor. Não escreva apenas palavras. Escreva música”.

Por último, uma dica poética de Eduardo Affonso: use proparoxítonas. É uma dica que viola o princípio da simplicidade, mas produz elegância. Confira:

“As proparoxítonas são o ápice da cadeia alimentar do léxico. (…)

Sob qualquer ângulo, a proparoxítona tem mais crédito.
É inequívoca a diferença entre o arruaceiro e o vândalo.
O inclinado e o íngreme. O irregular e o áspero. O grosso e o ríspido. O brejo e o pântano. O quieto e o tímido. (…)

Quer causar um impacto insólito? Elogie com proparoxítonas.
É como se o elogio tivesse mais mérito, tocasse no mais íntimo.
O sujeito pode ser bom, competente, talentoso, inventivo – mas não há nada como ser considerado ótimo, magnífico, esplêndido. (…)”.

Fantástico!

Pronto. Fiz a minha parte. O resto é com você. Como qualquer soft skill, o domínio da escrita depende de um esforço deliberado, consistente e disciplinado. Saiba apenas que o esforço compensará, porque uma boa escrita abre muitas portas, inclusive a da aprovação!

PS. Toda sexta, publico uma newsletter gratuita com várias dicas para aprimorar a inteligência. Quer conhecer a Brain Hacks? É só cadastrar seu melhor email e conferir.

Aqui a relação dos livros citados e consultados:

The Elements of Style”, de William Strunk e E. B. White

“Guia de Escrita: como conceber um texto com clareza, precisão e elegância”, de Steven Pinker

“Como Escrever Bem”, de William Zinsser

“Sobre a Escrita”, de Stephen King

“A Arte de Escrever” – Arthur Schopenhauer

“Mapas Mentais” – Tony Buzan

“100 ways to improve your writing: proven Professional techniques for writing with style and Power” – Gary Provost

“Style: Lessons in Clarity and Grace” – Joseph M. Williams

Depois de ter sofrido todas as dores típicas dos concurseiros, tive a oportunidade de virar de lado, tornando-me avaliador de várias bancas em concursos de altíssimo nível, como a seleção de mestrado, doutorado e professor da Universidade Federal do Ceará e o concurso de juiz federal do Tribunal Regional Federal da 5ª Região.

Vivenciar os processos seletivos dessa perspectiva é uma experiência fantástica. Além de conhecer pessoas altamente preparadas, acabei desenvolvendo uma expertise em separar os bons dos excelentes. Em determinado momento, depois de corrigir centenas de provas dissertativas, eu era capaz de prever se um candidato seria aprovado pelos outros membros da banca apenas olhando os dois primeiros parágrafos de sua resposta!

Tive esse insight depois de perceber um padrão que está presente nos melhores candidatos. É um padrão sutil, mas poderoso, que salta aos olhos já nas primeiras linhas.

E que padrão é este? O que separa os excepcionais dos meramente bons?

Os melhores candidatos se destacam por saberem apresentar seu conhecimento em uma linguagem correta, clara e elegante. Suas ideias são bem estruturadas, concisas e fáceis de entender. Eles conseguem conectar o leitor com frases bem construídas, demonstrando um domínio pleno da situação.

Na direção oposta, existem alguns candidatos que têm um conhecimento razoável, mas não sabem transmitir as ideias com eficiência. Eles escrevem de modo confuso, desorganizado e mecânico. A impressão que dá é que possuem apenas uma consciência nebulosa do assunto e lutam para formular um pensamento coerente.

Uma boa escrita sinaliza muitas qualidades do escritor. Escrever bem é uma habilidade que exige conhecimento do tema, domínio da língua, vocabulário requintado, capacidade de argumentar e de estruturar ideias, poder de concisão e de clareza, além de um estilo cativante. Só quem se dedica com afinco chega a um nível de excelência capaz de impressionar.

Para desenvolver essa habilidade, há apenas um caminho: praticar, praticar e praticar. Um texto bom é a recompensa por milhares de textos ruins que alguém já produziu ao longo de sua vida.

 Mas a prática sem uma base teórica é contraprodutiva. E a base teórica, sem a prática, é inútil. Um treinamento orientado pelos livros pode ser uma forma muito eficaz – e barata – de aprimorar a escrita.

Usando meu aprendizado como guia, preparei um roteiro para ajudar aqueles que desejam escrever melhor. Não é um guia definitivo, mas um menu degustação, com alguns petiscos bem nutritivos e saborosos.

Está preparado para levar a sua habilidade de escrita para outro nível? Então, siga até o fim.

Dica 1: Aprenda sobre estilo de escrita

Para aprender qualquer coisa, comece pelos fundamentos.

O que posso mostrar aqui é apenas a ponta do iceberg. Para mergulhar mais fundo, a leitura de alguns livros de referência é essencial.

Se você dominar o inglês, comece pelo “The Elements of Style”, de Strunk e White, que costuma ser a base de qualquer estudo sobre escrita. Basta dizer que é considerado o livro de não-ficção mais influente do século XX!

Mas não há prejuízo em começar por outros livros já traduzidos, pois as ideias centrais se repetem, com poucas variações.

Para não abrir tanto o leque, indico dois livros excelentes, na minha ordem de preferência:

1 – “Guia de Escrita: como conceber um texto com clareza, precisão e elegância”, de Steven Pinker.

2 – “Como Escrever Bem”, de William Zinsser.

Recomendo esses dois livros porque: (1) estão atualizados; (2) explicam o que está por trás das dicas, mostrando exemplos de sua aplicação; (3) focam a escrita científica; (4) foram escritos por quem entende de escrita; (5) possuem uma linguagem deliciosa.

Esses livros têm um propósito semelhante. Eles partem de algumas qualidades que uma boa escrita deve ter (força, clareza, concisão, organização, vivacidade, conexão e elegância) e apresentam exemplos positivos e negativos de como obter esses resultados.

Vou subir nos ombros desses e de outros gigantes para apresentar alguns princípios orientadores que aprendi. Os detalhes mais específicos, com exemplos e aplicações, estão nos livros.

Dica 2: Organize suas ideias antes de escrever

Antes de colocar suas ideias no papel, tenha alguma noção de como você irá estruturar o texto. Faça um plano incluindo todos os tópicos e subtópicos relevantes que você lembrar, com palavras-chave, dados, conceitos, citações, curiosidades, pessoas, exemplos, argumentos, objeções etc. Não precisa ter um quadro completo, pois a tendência é que outras ideias surjam ao longo da escrita.

O ideal é elaborar um mapa mental, uma lista hierárquica ou um organograma para dar uma visão geral do que será apresentado. Nada muito sofisticado. Pode ser feio, confuso e cheio de lacunas, pois é isso que se espera de um esboço inicial. O importante é que você tenha um norte.

Se você não tem qualquer familiaridade com mapas mentais, o livro do Tony Buzan pode ajudar. A lógica é organizar o pensamento como se fosse uma “árvore semântica”. O tronco é o princípio fundamental. Esse tronco se ramifica em galhos maiores, que se dividem em galhos menores, até chegar às folhas, às flores e aos frutos. Comece pelo princípio e depois vá estreitando os detalhes.

Dica 3: Capriche nos primeiros parágrafos

A introdução é a porta de entrada do texto, com o poder de ativar na mente do leitor diversos gatilhos que irão influenciar toda a leitura. Se o início for promissor, a mente do leitor estará preparada para enxergar com mais clareza as qualidades do texto. Se o início for frustrante, o cérebro acionará um alerta para detectar os defeitos. Por isso, gere uma boa impressão nas frases iniciais. Faça com o que o leitor goste de você e se sinta animado para seguir seus passos com simpatia e atenção. Se você conseguir fisgar o leitor em dois ou três parágrafos, o resto flui com muito mais facilidade.

Minha sugestão é que, já no início, haja uma sinalização de tudo o que será tratado ao longo do texto. Esclareça qual é o problema e quais serão os passos lógicos que você dará para resolvê-lo. Seja direto, didático e firme. Não enrole. Vá direto ao ponto, riscando todas as frases e palavras desnecessárias até chegar a uma sem a qual não possa prescindir. E aí que você começa.

Mostre ao leitor que você tem algo a dizer e diga com clareza, concisão e confiança. Faça com que ele sinta o poder da sua autoridade sobre aquele assunto. Sem frases escorregadias, nem sinais de insegurança ou de timidez.

Além disso, seja extremamente cuidadoso com as regras gramaticais. Erros básicos (como separar um sujeito do verbo com vírgula) podem destruir um bom texto. Essa preocupação vale para todo o processo de escrita, mas o esforço deve ser redobrado nos primeiros parágrafos.

Dica 4: Diga não ao estilo forense

Regras de gramática devem ser rigorosamente respeitadas. Já as regras de estilo são meras recomendações. Não há estilo certo ou errado. O que há são estilos que cumprem melhor ou pior a função de comunicar uma ideia em um dado contexto. É uma questão de escolha orientada pela função do texto.

E o que queremos em um texto jurídico?

Queremos expor nossas ideias de modo claro, coerente, conciso, cativante e persuasivo. Se é este o objetivo, não use o estilo forense (juridiquês). A linguagem forense é brochante, artificial e sem calor humano. Ela dá sono, quebrando qualquer possibilidade de conexão com o leitor.

Comece abolindo os arcaísmos, como “outrossim”, “destarte”, “ademais”, “decerto”, “posto que”, “empós”. Faça o mesmo com verbos pernósticos, como “afigurar-se”, “olvidar”, “dessumir”, “agasalhar”, “perscrutar”, “emanar”, “vislumbrar”.

Como sugere Zinsser, “nunca diga por escrito algo que você não se sentiria confortável para dizer em uma conversa”. Você fala “outrossim”? Se não fala, então não escreva.

Do mesmo modo, evite latinismos, tais como “ex vi”, “exempli gratia”, “lex fundamentalis”, “codex”, “sub examine”, “ab initio”, “ad cautelam”, “in casu”, “a priori”. As únicas palavras latinas que merecem ser usadas são aquelas com sentido técnico. Por exemplo: habeas corpus, quorum, erga omnes, ex nunc, ex tunc, ad hoc, pacta sunt cervanda, a quo, prima facie, etc. No mais, sem latim.

Na mesma linha, fuja do vício típico do juridiquês de substituir expressões de uso corrente por expressões que exigem do leitor um esforço de compreensão. Chame a constituição de constituição, o código penal de código penal, a CLT de CLT, petição inicial de petição inicial e assim por diante. Não fique inventando sinônimos como “lex fundamentalis”, “caderno repressor”, “digesto obreiro” ou “exordial”. Supremo Tribunal Federal é Supremo Tribunal Federal e não “Pretório Excelso”.

Também evite adjetivos meramente ornamentais, como “respeitável doutrinador”, “ilustríssimo pensador”, “eminente professor”, “augusto tribunal”, “indigitado artigo”, “malsinada lei”, “vergastada norma”, “conspícuo julgador”.

Outro vício a ser evitado é o uso de formas gramaticais que dão ânsia de vômito em leitores mais sensíveis, como “em se tratando”, “em havendo”, “no que tange”, “é cediço que”, “restou provado”, “em que pesem”, “como sói acontecer”, “mormente”, “não há falar-se”, “indubitavelmente”, “mister se faz”, “impende ressaltar”, “com espeque em”. Argh!

O juridiquês é um vício e não uma necessidade. Seu fundamento é uma tradição ultrapassada de uma época em se acreditava que um discurso vazio, mas cheio de jargões pretensamente eruditos, poderia ter algum valor. Hoje, isso não cola mais. Não há nada que justifique a escolha pelo pior estilo de linguagem já inventado pelo ser humano.

Dica 5: Simplifique sem medo

Pessoas tolas acreditam que escrever difícil é sinal de inteligência. É justamente o contrário. Um texto obscuro demonstra a incapacidade do autor de se comunicar. Portanto, é sempre um indicativo de mediocridade de quem escreve e não de quem lê.

No seu “A Arte de Escrever”, que muito recomendo, Arthur Schopenhauer coloca o dedo na ferida de quem escreve difícil para fingir erudição:

“Não há nada mais fácil do que escrever de tal maneira que ninguém entenda; em compensação, nada mais difícil do que expressar pensamentos significativos de modo que todos compreendam. (…) Quem tem algo digno de menção a ser dito não precisa ocultá-lo em expressões cheias de preciosismos, em frases difíceis e alusões obscuras, mas pode se expressar de modo simples, claro e ingênuo, estando certo com isso de que suas palavras não perderão o efeito. Assim, quem precisa usar os artifícios mencionados antes revela sua pobreza de pensamentos, de espírito e de conhecimento”.

Para dar mais clareza ao texto, você deve escrever como se fosse uma conversa planejada. Poucas pessoas usam expressões rebuscadas em uma conversa. Por isso, opte por uma linguagem simples que seja compreensível.

Uma heurística ou atalho mental na escolha de palavras é a do tamanho: em geral, as palavras curtas são mais simples do que as longas.

Outra heurística é a da disponibilidade: em geral, a primeira palavra que vem à mente é a mais adequada, pois está mais próxima daquilo que você quer dizer. Evite apenas o uso de clichês ou palavras que causam algum incômodo ao ser lida. Ou seja, se você se sentir incomodado com a palavra, troque. E se você não usaria a palavra em uma conversa com seu leitor, não a use na escrita. Simples assim.

Além disso, um bom texto não deve conter adornos inúteis. Cada elemento deve servir a um propósito e contribuir diretamente para a narrativa. As frases não devem conter palavras desnecessárias. Os parágrafos não devem conter frases desnecessárias. As seções não devem conter parágrafos desnecessários. O artigo não deve conter seções desnecessárias.

Não inclua o que não precise ser dito. Submeta cada componente a um teste de utilidade, para saber se preenchem uma necessidade real de estar ali. Essa palavra ou frase ou parágrafo ou seção é importante para transmitir o que estou tentando dizer? Se removê-la, o sentido da mensagem é prejudicado? Posso reformulá-la para torná-la mais curta? Aja de acordo com as respostas. O que for dispensável deve ser cortado, abreviado ou reduzido.

Outra fórmula para simplificar é reduzir as orações. Ao invés de escrever uma frase enorme, opte por várias sentenças concisas. Não é que você deva evitar frases longas a todo custo. Mas apenas usá-las com moderação.

Não há como estabelecer um tamanho ideal de palavras dentro de uma oração. Eu costumo acionar o alerta do corte quando vejo mais de 50 palavras ou três linhas. Em todo caso, o objetivo é a compreensão. Fracione se sentir que a frase está longa, truncada e confusa. Mas se a frase estiver limpa, fluida e clara, deixe como está, por mais longa que seja.

Ao fracionar uma oração, lembre-se que cada frase deve ser adaptada para não perder a estrutura gramaticalmente correta. Não basta simplesmente colocar um ponto no lugar da vírgula. Leia cada frase de forma independente e veja se ela conserva um sentido semântico.

Quase todos os guias de estilo recomendam a exclusão do que não é essencial. Por isso, não tenha pena de “matar seus queridinhos”. Stephen King até brinca com uma fórmula que ele recebeu em uma crítica e passou a adotar: 2a Versão = 1a Versão – 10%. William Zinsser vai além e sugere que o escritor deve cortar 50% do texto na primeira revisão e mais 10% na terceira revisão.

Seja como for, o segredo é podar os excessos, deixando o texto com os seus componentes essenciais. Transmitir o máximo de informações com o mínimo de letras é o grande desafio. Menos é mais.

Dica 6: Cuidado com a maldição do conhecimento

O escritor é um telepata. Ele precisa transferir uma ideia que está na sua cabeça para a cabeça de outro ser humano, usando apenas palavras. Sua tarefa é levar o leitor, passo a passo, a uma condição de não saber nada sobre um assunto até um ponto em que ele é capaz de entender e ampliar seu horizonte.

A posição do leitor também é difícil. Ele deve ler algumas palavras, codificar o seu significado e reconstruir o pensamento do escritor em sua própria mente. É um esforço que demanda tempo, energia, atenção, interesse e várias capacidades de compreensão.

O principal risco nesse processo chama-se maldição do conhecimento, que nada mais é do que a ilusão de pressupor que o leitor possui um conhecimento prévio para entender tudo o que está sendo dito.

A maldição do conhecimento ocorre porque, quanto mais conhecemos alguma coisa, menos nos lembramos de como foi difícil aprendê-la. Isso pode fazer com que o escritor atropele algumas etapas do raciocínio na hora de transmitir a mensagem e acabe suprimindo algumas informações necessárias que, para ele (escritor), parecem óbvias, mas que o leitor talvez não conheça.

Para evitar a maldição do conhecimento, é preciso se colocar na posição do leitor e ter consciência de que ele não sabe o que se passa na sua cabeça e provavelmente não leu o mesmo conteúdo que você leu.

Por isso, procure facilitar a vida do leitor. Não tenha receio de ser didático, explicando exatamente o que você pretende dizer com aquelas palavras e narrando os passos que você dará para chegar à conclusão que pretende oferecer. Como explica Pinker, “poupe os leitores de esbanjarem preciosos momentos de vida com a decifração de uma prosa opaca”.

Pense no texto como uma pirâmide invertida, em que cada camada amplia o conhecimento do leitor. Só passe para a próxima camada quando estiver seguro de que o leitor captou as informações necessárias para dar o próximo passo.

Se necessário, guie didaticamente o leitor para que ele possa acompanhar as suas ideias. Por exemplo, ao apresentar os argumentos a favor de uma tese, escreva algo assim: “Os principais argumentos a favor da tese X são os argumentos Y, Z e W. O argumento Y é defendido por Fulano de Tal e pode ser assim explicado...”.

Na apresentação das ideias, organize os elementos de modo que as informações mais fáceis de entender venham antes das mais difíceis. O que for familiar, conhecido e simples deve vir antes do que for novidade, desconhecido e complexo.

Só use siglas após explicar o significado da sigla, mesmo que seja uma sigla comum. Por exemplo, na primeira vez em que for mencionar o Supremo Tribunal Federal, não use de cara a sigla STF. Use Supremo Tribunal Federal (STF) e só depois passe a designar o STF pela sigla.

A mesma lógica se aplica quando você mencionar algum conceito pouco conhecido. Embora o significado do conceito possa parecer óbvio para você que estudou o tema a fundo, provavelmente não é tão óbvio para o leitor. Por isso, se é a primeira vez que o conceito é mencionado, explique o seu significado.

Em síntese, coloque uma ideia depois da outra, em uma narrativa lógica, ordenada e sequencial. E seja explícito e direto quanto ao seu propósito e sobre as ideias que você defende. Um texto científico não deve conter saltos fantasiosos, argumentos implícitos ou clima de mistério.

Dica 7: Instigue o sentido de visão do leitor

Steven Pinker sugere que o ato de escrever deve ser como um tipo de conversa em que o escritor dirige a atenção do leitor para alguma coisa no mundo, preferencialmente instigando os sentidos visuais. A metáfora que ele usa é a da escrita como uma janela para o mundo. Eu gosto de pensar no ato de escrever como um passeio de mãos dadas por um museu, em que o escritor vai mostrando os quadros para um observador interessado.

Esse apelo ao visual pode ser feito de várias formas: (1) utilização de verbos de sinalização que evoquem o senso de visão do leitor (mostrar, olhar, ver); (2) preferência por expressões mais concretas, mais vívidas e mais específicas que permitam ao leitor formar imagens visuais; (3) uso de exemplos com referência ao mundo real, narrando acontecimentos em que pessoas fazem coisas; (4) construção de metáforas e analogias visuais; (5) apresentação de ideias complexas em diferentes pontos de vista.

O objetivo é tornar as coisas mais fáceis de entender. Quando conseguimos levar o leitor a ler com os olhos da mente, ativamos o sentido mais poderoso do cérebro humano e criamos as melhores condições para a recepção da mensagem.

Dica 8: Construa frases amigáveis

O cérebro está preparado para compreender uma estrutura de frase que começa com um sujeito seguido de um verbo. Esse é o modo padrão que o cérebro enxerga o mundo e adota para codificar um texto. Ao violar esse esquema, você frustrará as expectativas do leitor e o forçará a um esforço de compreensão, aumentando os riscos de falha na transmissão da mensagem.

Por isso, o melhor é manter, sempre que possível, a estrutura sujeito – verbo – predicado para transmitir uma ideia. Além disso, procure colocar o sujeito próximo ao início da frase para o que o leitor descubra, rapidamente, quem é ele.

Do mesmo modo, não intercale muitas palavras entre o sujeito e o verbo. Quando fazemos isso, não só aumentamos o risco de erros de concordância, mas também dificultamos a vida do leitor, que terá que fazer um esforço mental para aproximar os dois principais componentes da frase.

Tudo isso pode ser resumido em uma dica: escreva para os outros como você gostaria que os outros escrevessem pra você. Se você não gosta de uma frase fora de ordem e repleta de intercalações, não entregue isso ao seu leitor.

Dica 9: Saiba usar o jogo de vozes

Compare as duas frases abaixo:

(1) “evite a voz passiva”;

(2) “a voz passiva deve ser evitada”.

A primeira opção é mais direta, mais eficiente e mais fácil de entender, porque se aproxima mais de uma conversa. E o cérebro humano está equipado para captar as informações transmitidas no formato de uma conversa. É a mesma lógica do tópico anterior, em que você deve preferir a opção que seja mais fácil de codificar.

Além disso, um texto precisa transmitir segurança. E a voz passiva é escorregadia, sem força, tímida. Geralmente, ela é usada para esconder o sujeito real, tornando o texto mais impessoal e monótono.

Mas há alguns contextos em que a voz passiva pode ser usada.

O leitor tende a focar a sua atenção no sujeito da frase. Se o texto diz “o cão mordeu a criança” (voz ativa), cria-se na mente do leitor a imagem de um cachorro mordendo uma criança. O cão é o personagem principal.

Por outro lado, se o texto diz “a criança foi mordida pelo cão” (voz passiva), a primeira coisa que virá à mente do leitor é a imagem de uma criança sendo atacada por um cachorro. A criança se torna o personagem principal.

Apesar de ser exatamente a mesma cena, o uso da voz ativa ou da voz passiva pode provocar uma mudança de foco, dando ao escritor poder sobre a perspectiva que o leitor adotará.

Isso é bem legal. Quem explica com maestria é Steven Pinker.

Dica 10: Saiba conectar frases e ideias

Um texto deve ser como uma rede de ideias que se expande. O ideal é que essa expansão ocorra de modo orgânico, levando o leitor a acompanhar com atenção cada tópico abordado, sem quebras de raciocínio. O uso de palavras de sinalização, de transição e de conexão pode facilitar esse processo.

Se perceber que a mudança de tópicos não está ocorrendo de modo fluido, faça uma breve retrospectiva do que foi visto no tópico anterior, indicando logo em seguida o será visto naquele momento (por exemplo: “Vimos no tópico anterior os principais argumentos contra a tese X. Neste tópico, veremos os argumentos a favor da tese X”). Mas não abuse muito para não tornar o texto cansativo.

Outra opção é usar perguntas que antecipam o tema a ser abordado para instigar a curiosidade do leitor. Quer saber como conectar ideias? Basta saber usar os conectores apropriados ou palavras de transição para dar uma maior fluidez ao texto.

Palavras de transição (ou conectores) indicam qual é a relação entre duas frases. Por exemplo, a expressão “por exemplo” está indicando que a presente frase é uma ilustração da anterior.

Quando estiver usando conectores, prefira os simples aos rebuscados. A linguagem cotidiana está cheia deles. Aqui uma lista exemplificativa:

(a) conectores de adição ou de reforço para acrescentar uma nova ideia: além disso”, “do mesmo modo”, “de igual forma”, “além do mais”, “no mesmo sentido” etc.). É recomendável usar também para esse fim conectores que sinalizam uma sequência (“em primeiro lugar”, “segundo”, “por último”) ou a elegante fórmula “não só/mas também”;

(b) conectores de contraste para refutar um argumento ou mudar a linha argumentativa: “mas”, “por outro lado”, “apesar disso”, “no entanto”, “em sentido oposto”;

(c) conectores de conclusão para fechar um raciocínio: “portanto”, “desse modo”, “em conclusão”, “logo”, “dessa forma”;

(d) conectores de ênfase para reforçar uma ideia: “a propósito”, “aliás”;

(e) conectores de esclarecimento para explicar a mesma ideia de um ângulo diferente: “em outras palavras…”, “dito de outro modo”, “ou seja”, “explicando melhor”. (Evite, contudo, a mera redundância. Não basta inverter a ordem da frase ou substituir algumas expressões. A ideia é, de fato, mudar a perspectiva da explicação para que o leitor possa ter uma visão mais ampla da ideia que está sendo apresentada).

Um teste prático para medir a conexão entre as frases e parágrafos é ler o texto em voz alta ou mentalmente. Se a leitura for fluida, é um bom sinal. Se for truncada, é melhor reescrever até chegar a um resultado satisfatório.

Dica Bônus: Dê elegância ao texto

A elegância importa. Um texto frio não gera interesse. E um texto desinteressante dificulta a comunicação, porque dispersa o leitor.

O segredo da elegância é estruturar bem as ideias, escolher as palavras certas e dar ritmo ao texto. Isso tende a ocorrer no processo de revisão, quando reconstruímos mentalmente cada frase até encontrar o encaixe perfeito.

É difícil explicar como ocorre esse processo de reconstrução mental, porque é introspectivo. É uma conversação interna entre o escritor e o texto, em que são simuladas várias opções de estilo até chegar a uma que agrade. É um jogo de tentativa e erro com a substituição e corte de palavras, reconstrução e quebra de frases, mudança de pontuação, correção gramatical e várias outras estratégias para dar mais clareza, coerência e musicalidade ao texto. Esse talvez seja o trabalho mais árduo do escritor, e onde a experiência conta mais.

Mas há algumas dicas que podem ser usadas deliberadamente para ir pegando jeito.

Uma delas é a regra de 3 da comunicação.

A regra de 3 é uma fórmula simples, elegante e poderosa. Quando usamos essa regra, tornamos a nossa ideia mais fluida, mais efetiva e mais memorável.

E o que é a regra de 3?

É uma técnica de estilo em que o comunicador usa três palavras ou frases para expressar a ideia que pretende transmitir. “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”. “Simples, elegante e poderosa”.

Mas não abuse colocando sinônimos só pra cumprir a regra. O objetivo não é ser repetitivo, mas acrescentar valor com ritmo. Um texto não precisa ser simples, fácil e descomplicado. Basta ser simples.

Outra dica é escrever como se estivesse compondo uma música. Gary Provost mostra como fazer:

“Esta frase tem cinco palavras. Aqui estão mais cinco palavras. Frases com cinco palavras estão bem. Mas várias juntas tornam-se monótonas. Ouve o que está a acontecer. A escrita começa a ficar aborrecida. O som começa a afogar-se. É como um disco riscado. O ouvido exige alguma variedade.

Agora ouça. Eu vario o comprimento da frase e crio música. Música. A escrita canta. Tem um ritmo agradável, uma melodia, uma harmonia. Eu uso frases curtas. Eu uso frases de médio comprimento. E, por vezes, quando tenho a certeza de que o leitor está calmo, eu envolvo-o com uma frase de um comprimento considerável, uma frase cuja energia queima, construindo com todo o ímpeto de um crescendo, o rufar dos tambores, o bater dos címbalos – sons que dizem ‘Ouça isto’, isto é importante.

Assim, escreva com uma combinação de frases curtas, médias e longas. Crie um som que agrada ao ouvido do leitor. Não escreva apenas palavras. Escreva música”.

Por último, uma dica poética de Eduardo Affonso: use proparoxítonas. É uma dica que viola o princípio da simplicidade, mas produz elegância. Confira:

“As proparoxítonas são o ápice da cadeia alimentar do léxico. (…)

Sob qualquer ângulo, a proparoxítona tem mais crédito.
É inequívoca a diferença entre o arruaceiro e o vândalo.
O inclinado e o íngreme. O irregular e o áspero. O grosso e o ríspido. O brejo e o pântano. O quieto e o tímido. (…)

Quer causar um impacto insólito? Elogie com proparoxítonas.
É como se o elogio tivesse mais mérito, tocasse no mais íntimo.
O sujeito pode ser bom, competente, talentoso, inventivo – mas não há nada como ser considerado ótimo, magnífico, esplêndido. (…)”.

Fantástico!

Pronto. Fiz a minha parte. O resto é com você. Como qualquer soft skill, o domínio da escrita depende de um esforço deliberado, consistente e disciplinado. Saiba apenas que o esforço compensará, porque uma boa escrita abre muitas portas, inclusive a da aprovação!

PS. Toda sexta, publico uma newsletter gratuita com várias dicas para aprimorar a inteligência. Quer conhecer a Brain Hacks? É só cadastrar seu melhor email e conferir.

Aqui a relação dos livros citados e consultados:

The Elements of Style”, de William Strunk e E. B. White

“Guia de Escrita: como conceber um texto com clareza, precisão e elegância”, de Steven Pinker

“Como Escrever Bem”, de William Zinsser

“Sobre a Escrita”, de Stephen King

“A Arte de Escrever” – Arthur Schopenhauer

“Mapas Mentais” – Tony Buzan

“100 ways to improve your writing: proven Professional techniques for writing with style and Power” – Gary Provost

“Style: Lessons in Clarity and Grace” – Joseph M. Williams

Como Desenvolver a Habilidade de Falar em Público: confissões de um introvertido

Mãos tremendo, boca seca, coração acelerado… pânico! Era assim que eu me sentia faltando menos de um mês para a prova oral do concurso de juiz. E era apenas um ensaio!

Eu tinha 23 anos quando encarei o concurso de juiz federal e pensei seriamente em desistir por causa da prova oral. Jamais imaginei que seria capaz de vencer minha timidez e falar com confiança, ao ponto de ser aprovado em uma prova oral para a magistratura!

O meu temor ia muito além de uma falta de experiência. Era um bloqueio comunicacional, misturado com uma grande dose de introversão e um verdadeiro pavor de falar em público.

Como eu tinha que enfrentar o desafio, acabei me consultando com uma psicóloga, que me passou algumas dicas simples, mas poderosas.

Lembro que a consulta foi bem cara, quase um salário mínimo por duas horas de sessão, mas, como era meu futuro em jogo, meus pais arcaram com o investimento. Lembro também que, naquela ocasião, as principais estratégias para aumentar a confiança eram relacionadas à linguagem corporal. Manter a postura sempre ereta para mostrar segurança ou fincar os dois pés firmes no chão, inclusive quando estiver sentado, foram duas mensagens que assimilei facilmente.

Apesar de serem dicas bem básicas, foram suficientes para me dar um pouco mais de confiança para enfrentar o desafio. E, sem saber que era impossível, fui lá e passei! E passei até bem, ficando em quarto lugar, concorrendo com pessoas geniais!

Depois que me tornei juiz, resolvi aprimorar ainda mais as minhas habilidades comunicacionais, porque percebi que falar em público com eficiência é uma necessidade básica. Quem não é capaz de transmitir uma ideia com segurança terá muita dificuldade de ser bem sucedido em audiências, reuniões, palestras e aulas, por exemplo.

Testemunhei advogados perderem uma boa causa porque não foram capazes de articular um argumento com clareza e vi professores geniais fazerem a plateia dormir porque não sabiam se apresentar.

Eu também já fui assim e, em certo sentido, ainda estou evoluindo. Porém, hoje consigo me comunicar com eficiência para um público mais amplo, embora ainda sinta um pequeno desconforto provocado pela introversão. Mesmo enrolando as palavras ou gaguejando, sou capaz de transmitir o recado de modo persuasivo. Basta dizer que, apesar de toda a minha introversão, já proferi palestras para milhares de pessoas.

Nesse processo de aprendizado, devo muito ao material que consumi. Por isso, faço questão de compartilhar um pouco dessa experiência, narrando alguns passos que talvez possam ajudar outras pessoas que também têm a mesma dificuldade ou queiram se aprimorar.

Dei os primeiros passos lendo os textos de Dale Carnegie.

Carnegie é mais conhecido pelo seu livro Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas, que é a obra de referência para aprender a interagir, agradar e conquistar a admiração de outras pessoas.

Mas ele tem também um livro específico sobre comunicação: Como falar em público e encantar pessoas, em que direciona suas tradicionais dicas de persuasão para a comunicação verbal, com muitas dicas práticas para melhorar a habilidade de falar em público e superar medos.

A proposta de Carnegie é mais voltada para pessoas extrovertidas. Para uma pessoa introvertida, que se sente sufocada em ambientes lotados e desconfortável diante de estranhos, é muito difícil aplicar as suas propostas. O comunicador ideal para Carnegie é a pessoa carismática, capaz de dar um aperto de mão firme, que está sempre sorrindo e disposto a agradar conhecidos e desconhecidos.

Apesar de não conseguir me adaptar a esse perfil extrovertido, gostei dos livros, pois são repletos de histórias de vida real e citações que tornam a leitura cativante, inspiradora e valiosa.

Aqui algumas dicas que assimilei de suas lições: (a) identifique seu público-alvo, entenda o seu ponto de vista e veja as coisas do seu ângulo; (b) use uma linguagem compreensível, positiva e espontânea que possa chamar a curiosidade, encantar e convencer o seu interlocutor; (c) aja de modo confiante e com convicção, mesmo que para isso tenha que fingir; (d) adote o sorriso e a empolgação como o seu modo-padrão, alterando o estado emocional de acordo com as circunstâncias; (e) quando possível, mencione o nome do interlocutor, pois o nome de uma pessoa é para ela o som mais doce e importante em qualquer idioma; (f) se possível, direcione a fala para as emoções do interlocutor, instigando suas necessidades e seus desejos, falando o que ele quer e mostrando como conseguir, através de exemplos humanizados, da vida real e com nome próprio; (g) controle o ritmo, as pausas e a entonação de voz para conduzir o público e criar clímax e emoção na sua fala; (h) tente manter o contato visual com o ouvinte (esta, em particular, nunca consegui implementar por conta da minha introversão).

Uma grande virada no meu desenvolvimento pessoal foi compreender e aceitar a minha personalidade introvertida. Quando entendi a lógica da introversão, consegui usar isso a meu favor e tudo ficou mais fácil.

O ponto de virada ocorreu quando eu assisti ao TED TALK da Susan Cain “O Poder dos Introvertidos”, que me fez perceber que a introversão não é necessariamente um atributo negativo a ser combatido.

Inspirado pela palestra, li o best-seller “O Poder dos Quietos“, que mostra como é difícil ser introvertido em um mundo que valoriza a extroversão, mas, ao mesmo tempo, nos faz perceber que ser introvertido também tem suas vantagens e que é possível ser um introvertido bem-sucedido sendo e agindo como introvertido!

Foi graças ao livro da Susan Cain que percebi que não devemos esconder esse traço de nossas personalidades para tentar abraçar, inutilmente, um comportamento extrovertido. Quando nos esforçamos para ser aquilo que não somos, a tendência é perder a autenticidade, transmitir insegurança e chegar rapidamente ao esgotamento mental. Por isso, o melhor é manter-se fiel à própria natureza e tirar proveito disso!

Outro TED TALK que foi bem impactante foi a palestra da Amy Cuddy: “A Nossa Linguagem Corporal Modela Quem Somos”. É uma apresentação inspiradora sobre como controlar as emoções a partir da linguagem corporal. Até hoje, faço o exercício da “postura de poder” para ganhar confiança. Mão na cintura, peito estufado e pernas levemente abertas.

O livro que aprofunda a palestra é “O Poder da Presença”, ensinando várias estratégias para tirar proveito da linguagem corporal para ganhar segurança e passar uma imagem positiva, mesmo quando não nos sentimentos confiantes.

O princípio base do livro é que a mudança de postura pode influenciar o estado emocional de uma pessoa. Assim, quando você se posiciona corretamente, transmite autenticidade, presença e competência, mesmo que a situação seja tensa e o ambiente desconfortável. Além disso, quando desenvolvemos um senso interno de confiança, automaticamente nos sentimos melhor sobre nós mesmos e nos tornamos capazes de progredir em nossas vidas.

Aprendi outras dicas com Simon Sinek, que, mesmo sendo introvertido, proferiu uma das palestras mais assistidas da história, sobre a importância de ter um propósito e começar pelo porquê.

O segredo da sua apresentação se alicerça em estratégias poderosas: (a) nunca comece a falar imediatamente, pois a pressa pode ser interpretada como ansiedade, insegurança e medo. Em vez disso, respire fundo, espere alguns segundos e comece; (b) faça contato visual com o máximo de pessoas possível, de modo individual, evitando a visão panorâmica. O ideal é olhar para uma pessoa atentamente durante uma frase ou pensamento inteiro, sem quebrar o olhar. Somente quando terminar a frase, passe para outra pessoa e continue se conectando com pessoas individuais até terminar de falar; (c) se ficar nervoso, fale bem devagar. A fala mais lenta acalma o coração, reduz a tensão e mostra para a sua audiência que você está no controle da situação; (d) transforme o nervosismo em excitação, reinterpretando os sinais corporais associados à ansiedade – mãos úmidas, coração acelerado, agitação, nervos tensos – como efeitos colaterais de empolgação e alegria.

Depois que assumi a minha introversão e passei a ter um maior autocontrole das minhas emoções, procurei aprimorar as minhas técnicas de apresentação propriamente ditas, seja para melhorar minhas aulas, seja para proferir palestras mais impactantes.

Os livros do Carmine Gallo foram bem valiosos nessa empreitada: a) TED: falar, convencer e emocionar; b) Storytelling: aprenda a contar histórias; c) Faça com Steve Jobs e realize apresentações incríveis em qualquer situação.

Os três livros tratam de apresentações de alto impacto e são úteis a seu modo. De qualquer forma, se fosse para escolher um, eu iria no TED: falar, convencer e emocionar, pois explica o essencial do storytelling, mesclando com dicas práticas para montar apresentações mais emocionais, mais inovadoras e mais memoráveis. O princípio base é que a mensagem deve tocar o coração dos ouvintes antes de alcançar a mente e, para isso, deve ser transmitida com paixão e entusiasmo, preferencialmente com histórias envolventes que surpreendam e sejam significativas para a audiência. Nos livros, ele ensina alguns truques práticos para fazer isso.

Depois que li os livros do Carmine Gallo, devorei o livro Ted Talks: o guia oficial do TED para falar em público, de Chris Anderson.

Chris Anderson é o curador das palestras TED TALKS. Neste excelente livro, ele usa as melhores palestras TED como proposta de aprendizagem. Eu o incluiria no topo de qualquer lista de livros sobre falar em público, não só porque é o mais popular, mas porque é bom mesmo, sendo um dos livros mais bem avaliados no GoodReads, com mais de 12 mil avaliações!

Anderson defende que a principal tarefa de um comunicador é fazer brotar uma ideia na mente das pessoas que estão ouvindo. Para isso, ele alicerça seu modelo em várias dicas que são explicadas e ilustradas ao longo do livro. Aqui os quatro pilares centrais: (a) foque sua apresentação em uma grande ideia apenas, tornando-a sua linha de raciocínio durante toda a sua fala, de forma que tudo o que disser remeta a ela de alguma forma; (b) dê à plateia uma razão para querer ouvi-lo, instigando a sua curiosidade com perguntas intrigantes e histórias envolventes; (c) construa sua ideia com conceitos vívidos e familiares, que façam sentido para a sua plateia; (d) faça com que valha a pena compartilhar a sua ideia, mostrando como ela pode ser útil para outras pessoas.

A vantagem do livro do Chris Anderson é que une a teoria com a prática, ilustrando os conceitos fundamentais com exemplos concretos extraídos das palestras TED, que são gratuitas. Assim, é possível aprender assistindo os melhores e entendendo como eles fazem. Subir nos ombros dos gigantes é sempre uma boa estratégia para aprender mais rápido.

Posso dizer, sem medo, que esses livros mudaram a minha vida, permitindo que eu não apenas superasse o meu medo de falar em público, mas também pudesse desenvolver uma habilidade de me apresentar para grandes plateias.

Não digo que é preciso ler todos esses livros para ser um bom orador. No meu caso, foi muito mais uma necessidade, porque eu simplesmente travava diante da possibilidade de encarar uma audiência desconhecida e precisava superar esse medo para alcançar meus objetivos. Para muitos, talvez seja suficiente assistir a alguns TED TALKS e tentar mimetizar e aprimorar o estilo dos melhores palestrantes. Como eu queria ir além, optei por um estudo mais amplo e mais profundo.

Como qualquer soft skill, a habilidade de falar em público se aprimora com a prática. Mas a prática sem uma base teórica é contraprodutiva. E a base teórica, sem a prática, é inútil.

Então, a melhor forma de aprender, caso não esteja disposto a vender os rins para pagar um curso ou uma mentoria, é seguir um treinamento orientado pelos livros.

Se você está em um nível muito básico, com pouca experiência e sem uma base mínima para falar em público, vale a pena dar uma olhada no livro “A Arte de Falar em Público”, de Stephen E. Lucas.. É o livro mais didático sobre o tema. É um manual para servir como um roteiro para ensinar a fazer uma apresentação persuasiva, desde a preparação até o feedback. Além de ter um conteúdo espetacular, a edição é de altíssima qualidade. Sugiro para pessoas que estão no nível zero e pretendem dar o primeiro passo.

Se você tiver um pouco mais avançado, pode ir para o livro Ted Talks: o guia oficial do TED para falar em público, de Chris Anderson.

Usando um livro como alicerce para uma prática deliberada, vale a pena filmar o próprio treino, a fim de detectar os vícios de linguagem e trejeitos corporais. Identifique seus pontos fracos e tente corrigi-los. Também vale fazer apresentações para amigos ou familiares, pedindo feedback sincero. Aproveite todas as oportunidades para praticar, pois grande parte do medo vem da falta de hábito.

As primeiras apresentações provavelmente serão péssimas, mas isso é bom. Os primeiros passos são sempre desajeitados. A qualidade só melhora com o tempo. Quanto mais você praticar com método, mais rápido você irá evoluir.

Garanto que não é nada do outro mundo. Se eu, que estou na escala mais elevada de introversão, consegui, certamente você também é capaz!

PS. Se você gostou, pode encontrar outras dicas na minha Newsletter Brain Hacks, conteúdo inteligente a custo zero diretamente no seu email.

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Para facilitar, aqui a lista de livros citados:

Como falar em público e encantar pessoas– Dale Carnegie

Como Fazer Amigos e Influenciar PessoasDale Carnegie

O poder da presença – Amy Cudy.

O Poder dos QuietosSusan Cain.

TED: falar, convencer e emocionar” – Carmine Gallo;

Storytelling: aprenda a contar histórias” – Carmine Gallo;

Faça com Steve Jobs e realize apresentações incríveis em qualquer situação” – Carmine Gallo

Ted Talks: o guia oficial do TED para falar em público, de Chris Anderson” – Chris Anderson

A Arte de Falar em Público” – Stephen Lucas

12 livros indispensáveis de argumentação e de persuasão que todo advogado deveria ler

A argumentação é a habilidade mais básica que todo advogado precisa dominar.

Não se trata apenas de ter a sagacidade para criar um argumento de improviso que se encaixe na tese a ser defendida. A argumentação exige que o advogado saiba apresentar esse argumento em uma roupagem clara, elegante e coerente.

Mais ainda, a argumentação pressupõe uma capacidade de persuadir. No fundo, o que o advogado deseja é influenciar a tomada de decisão, inserindo na mente do julgador as ideias que possam favorecer o seu cliente. O desafio de todo advogado é construir uma rede argumentativa mais plausível, mais robusta e mais impactante do que a de seu adversário. No final, vence quem convence.

Esse processo de convencimento envolve elementos racionais, típicos da ciência jurídica, mas também elementos psicológicos, típicos da ciência da persuasão. David Hume parece acertar na mosca quando diz que a razão pode ser até o destino final do pensamento, mas a emoção precede, estimula e guia a razão.

Com o avanço de estratégias comunicativas mais sofisticadas, como as derivadas do visual law, do storytelling ou do neuromarketing, as velhas fórmulas argumentativas ensinadas nas faculdades de direito, derivadas de propostas teóricas ultra-abstratas, como as de Perelman ou de Alexy, precisam ser complementadas com as contribuições produzidas pelas ciências cognitivas e comportamentais, pois são elas que estão ditando a nova linguagem da persuasão, em bases muito mais científicas e com um grande diferencial: as novas técnicas estão sendo testadas empiricamente no mundo real com uma quantidade absurda de dados. Neste exato momento, ao navegar na internet, você faz parte desses testes mesmo sem saber!

Na mesa de pôquer, costuma-se dizer que, se você não sabe quem é o pato, então provavelmente você é o pato. Pode-se dizer o mesmo no mundo da persuasão. Se você não conhece as técnicas de persuasão, então provavelmente está sendo manipulado.

Não é preciso ter uma bola de cristal para perceber que o advogado que não dominar a arte de argumentar e de persuadir não apenas vai desperdiçar o poder de uma comunicação muito mais eficiente para vencer causas, mas também vai ficar para trás por não conseguir vender seus argumentos, sendo enterrado no cemitério dos causídicos fracassados.

Por isso, selecionamos um arsenal básico de ferramentas que podem ajudar o advogado que deseja aprimorar a sua capacidade argumentativa a entender melhor essa realidade e levar a sua comunicação a outro patamar. São livros que ensinam a arte da argumentação e da persuasão com exemplos práticos e uma linguagem bem acessível, cada um com uma proposta específica e um estilo próprio.

Nem todos os exemplos são voltados especificamente para o direito, mas a fórmula da persuasão funciona em muitos contextos, da venda de livros a uma sustentação oral. Afinal, em certo sentido, argumentar é como vender uma ideia. Mesmo que o seu produto seja bom, você precisa saber usar as técnicas corretas para encantar o cliente e fazê-lo abraçar a sua tese.

12 – Pré-suasão  Robert Cialdini. Cialdini é o papa da persuasão. Todos que falam hoje em gatilho mental estão, no fundo, reproduzindo ideias que Cialdini já havia desenvolvido desde os anos 1980. Neste livro mais recente, Cialdini explica que a persuasão começa antes da linguagem, com pequenos gestos, símbolos e comportamentos que podem “pré-ativar” associações mentais no interlocutor e torná-lo pré-disposto a aceitar novas ideias.

11 – A arte de ter razão  Arthur Schopenhauer. Este é o único livro clássico da lista, porque uma lista sobre argumentação não poderia deixar de incluir Schopenhauer. É um livro sarcástico e, mesmo sendo de filosofia, é incrivelmente prático. No fundo, é um guia que Schopenhauer desenvolveu para vencer os debates contra seus adversários intelectuais, mapeando vários vícios argumentativos ou estratagemas que um mau argumentador costuma utilizar.

10 – O Ponto de Virada  Malcolm Gladwell. Como fã de carteirinha do Gladwell, tinha que incluir este livro, que é um dos precursores da influência social. Por que alguns comportamentos viram moda do dia para a noite? O que faz com que algumas mensagens se alastrem com tanta velocidade? Será que nós próprios podemos aplicar algum tipo de estratégia para tornar nossas ideias mais convincentes? Após duas ou três páginas, quem começa a ler não consegue mais parar.

9 – O Poder da Influência  Jonah Berger. Berger já havia feito um grande sucesso com o excelente livro Contágio: por que as coisas pegam e agora lançou um livro específico sobre influência social, mostrando o caminho para se tornar um bom influenciador e tomar decisões mais inteligentes. Bem empolgante.

8 – Pensamento crítico: guia prático da arte de pensar, argumentar e convencer  Walter Carnielli e Richard Epstein. É um livro voltado para estudantes. Por isso, pode ser considerado como um livro de entrada ao mundo da argumentação, com muitos exemplos do cotidiano para ilustrar os conceitos e um viés essencialmente prático.

7 – Lógica  Irving Copi. Trata-se de livro antigo, e bastante básico, lembrando mesmo, em seu estilo, livros didáticos escolares, até com exercícios ao final de cada capítulo, e as respostas, ou o gabarito, ao final do livro. Fornece boa introdução ao raciocínio lógico, permitindo, notadamente no capítulo dedicado às falácias, que o leitor treine e aguce sua capacidade de identificar e desmontar argumentos que parecem, mas apenas parecem, consistentes. Saber desmascarar falácias é uma ferramenta muito importante em qualquer debate.

6– Usos do Argumento  Stephen Toulmin. Desta lista, este talvez seja o mais filosófico, ou profundo, entre os livros indicados, servindo aqui para dar suporte teórico de maior consistência a quem pretende argumentar. Toulmin teoriza um modelo, ou esquema, que todo argumento deve seguir, conhecido como “modelo Toulmin”, para ser considerado como validamente fundamentado.

5 – Ganhar de lavada: persuasão em um mundo onde os fatos não importam  Scott Adams. Scott Adams é o cartunista criador do personagem Dilbert. Este livro é uma espécie de “estudo de caso”, em que ele explica como previu, antes de todo mundo, que Donald Trump iria ganhar as eleições contra Hillary Clinton, em 2016. Para isso, ele mapeia as estratégias de persuasão usadas por Trump e explica porque são tão eficientes. Merece ser lido com o espírito de um investigador que quer descobrir os segredos de um influenciador eficaz.

4 – Guia de escrita: como conceber um texto com clareza, precisão e elegância  Steven Pinker. Não é propriamente um livro de argumentação, mas de escrita cativante. Saber escrever bem é um requisito importante para redigir um argumento eficiente. Por isso, este livro merece estar na lista.

3 – A construção do argumento  Anthony Weston. É um dos melhores livros para aprender a construir argumentos. Tem muitos pontos em comum com o livro do Pinker, mas é mais curto e mais voltado à argumentação.

2 – Lógica Informal  Douglas Walton. Não se engane pelo título. É um livro bem acessível e não é à toa que está aqui no topo da lista. Seu objetivo é ensinar como construir bons argumentos e como criticar os maus, com uma proposta bem prática, com muitos exemplos ilustrativos para facilitar a aprendizagem. Avaliado pelos leitores (e por nós) com cinco estrelinhas cheias!

1 – As armas da persuasão 2.0 — Roberto Cialdini. Começamos com Cialdini e terminamos com Cialdini. Mas este teria que figurar aqui porque é a Bíblia da persuasão. A primeira versão é de 1984. Esta nova versão, de 2021, atualiza as pesquisas e merece figurar no topo da lista, pois é o ponto de partida de quem quer dominar a arte e a ciência da persuasão.

E assim finalizamos a lista. Certamente, há outros livros igualmente bons, mas dentro dos limites e propósitos deste post, estes seriam os livros que indicaríamos aos nossos filhos e colocaríamos na nossa biblioteca para consulta permanente porque não envelhecem.

Se você tiver outras sugestões, fique à vontade para comentar.

Disclaimer: este artigo utilizou técnicas de persuasão para fazê-lo chegar até aqui. Mais um sinal pra você levar a sério esse negócio.

As dez mais lidas do Conjur

O artigo que escrevi com o Hugo, sobre persuasão no direito, foi o quinto mais lido entre todas as notícias do Conjur! Se formos olhar apenas para as colunas, foi o texto mais lido! Bem legal.

Aqui o ranking:

As dez mais lidas
1 – OAB libera escolha de local e inclui disciplinas no Exame de Ordem
2 – Empregado que tinha de circular em trajes íntimos será indenizado
3 – Homem que infartou após ingerir suplemento deve ser indenizado
4 – Juiz nega ação de Hang contra Felipe Neto e é atacado por empresário
5 – 12 livros indispensáveis de argumentação e de persuasão
6 – Advogado pede extinção de ação em que juíza anulou a própria decisão
7 – Servidor admitido sem concurso antes de 88 não pode ser reenquadrado
8 – Diretoria de precatórios do TJ-SP libera R$ 867 milhões em março
9 – Juiz afasta hediondez do crime de tráfico internacional de drogas
10 – STJ confirma multa de R$ 590 mil por ordem de R$ 4 mil descumprida

23 Livros para Entender Jurimetria e Análise de Dados

Para o estudo racional do direito, o homem da toga preta pode ser o homem do presente, mas o homem do futuro é o homem da estatística e o mestre da economia.

OLIVER WENDELL HOLMES, JR

A jurimetria é uma das áreas mais promissoras dentro do direito, porque alia toda a potência da análise estatística com a enorme quantidade de dados produzidos diariamente pelo sistema de justiça. Imagine poder tabular dados de milhares de processo e fazer inferências sobre a probabilidade êxito de um tipo de causa ou detectar algum padrão ou tendência de decisão que possa ajudar a compreender o funcionamento da justiça. Ou identificar vieses e ruídos nas decisões judiciais, comparando a linha de entendimento de diversos órgãos julgadores, como disparidades na aplicação da pena ou no arbitramento do dano moral. Pense ainda na possibilidade de defender uma hipótese jurídica com base em dados, incorporando na argumentação uma sólida fundamentação empírica sustentada com elementos estatísticos…

Há mais de um século, Oliver Holmes Jr. falou que o homem da estatística seria o homem do futuro. Talvez o futuro por ele profetizado tenha chegado agora. Com o apoio da tecnologia, condimentada pela inteligência artificial, a análise estatística tende a se tornar uma ferramenta indispensável para qualquer profissional do direito que queira se destacar.

Até em um nível mais básico, a análise de dados nos permite compreender com mais clareza as falhas de funcionamento do sistema, bem como prever tendências decisórias em cenário de incerteza. O pensamento fica muito mais aguçado quando conseguimos enxergar uma lógica por trás dos números.

Tudo isso sem falar que há ainda um campo promissor envolvendo o Processamento de Linguagem Natural (PLN ou NLP para a sigla em inglês) que pode levar o estudo do direito a outro patamar. Em tese, máquinas poderão entender e produzir conteúdo com a mesma habilidade de humanos através da PLN, influenciando a tomada de decisões tanto em um nível micro quanto macro.

Portanto, não estamos apenas falando de entender ou prever decisões, mas também de criar modelagens capazes de até mesmo direcionar a atividade jurídica e avaliar condutas humanas.

Seja como for, o certo é que a jurimetria veio para ficar, talvez não para substituir, mas pelo menos para complementar o estudo do direito.

O problema é que aprender estatística é bem difícil.

Conceitos fundamentais como o de regressão linear, teste de hipótese ou desvio padrão, podem se tornar impenetráveis para o jurista pouco acostumado a lidar com números. Se formos para um nível mais complexo, com conceitos de machine learning, modelagem, árvores de decisão, regressão logística, aí a porca torce o rabo.

A sorte é que existem bons livros que ajudam a iluminar os princípios fundamentais da estatística, pelo menos ao ponto de ajudar o jurista a não ficar completamente perdido nesse ambiente ultracomplexo.

São livros de entrada, de divulgação científica, que mostram como dar os primeiros passos para desbravar o fascinante mundo da ciência de dados. Não são livros para “dominar a jurimetria”, muito menos a ciência de dados. Para isso, seria preciso partir para um nível mais hard, com o estudo mais profundo dos fundamentos da estatística e de programas específicos de análise de dados, como o R ou o Python.

A ideia por trás dos livros que aqui que serão indicados é apenas apresentar o tema, com uma linguagem mais acessível para quem ainda não sabe nada do assunto.

Passei mais ou menos um ano em imersão estudando esse tema, inclusive aprendendo a programar em R. A partir dessa minha experiência, apresento aqui uma lista comentada com os melhores livros (de divulgação científica) que li e que acredito que podem ajudar a qualquer pessoa que queira dar os primeiros passos nesse fascinante mundo a ciência de dados aplicada ao direito.

1 – Estatística: o que é? Para que serve? Com Funciona? – Charles Wheelan. Sem dúvida o melhor livro para dar os primeiros passos em estatística em português. Há muitos exemplos práticos, inclusive alguns voltados para o direito. Recomendo que comece por ele.

2 – Uma senhora toma chá… como a estatística revolucionou a ciência no século XX – David Salsburg. É um livro de divulgação científica sobre a história da estatística, narrando com leveza a vida dos principais personagens que moldaram a estatística e as principais divergências entre eles. Bem bom para compreender o contexto do debate, mas confesso que, por ter sido um dos primeiros livros que li, senti dificuldade de entender alguns conceitos, sobretudo a partir da metade do livro.

3 – A Matemática nos Tribunais: uso e abuso dos números em julgamentos – Leila Schneps e Coralie Colmez. Livro muito interessante sobre como a matemática e a estatística podem ser úteis, mas também prejudicar o julgamento. O livro parte de casos reais para explicar 10 erros matemáticos que produziram injustiças. Vale muito a pena, até para que possamos desde já compreender os abusos do pensamento matemático aplicado ao direito.

4 – Super Crunchers: por que pensar com números é a nova maneira de ser inteligente – Ian Ayres. Acho que foi o primeiro livro que li sobre análise de dados, ainda em 2007! Bem fácil e gostoso de ler, com a vantagem de ter sido escrito por um economista que também é advogado. Tem muita aplicação no direito, mas está um pouco desatualizado. Eu só coloco aqui porque teve um valor sentimental… Se quiser um mais atual, na mesma linha, pode testar o Numerati, de Stephen Baker.

5 – O Andar do Bêbado: como o acaso determina nossas vidas – Leonard Mlodinow. Mais um best-seller do Mlodinow que sobre a influência da aleatoriedade nas nossas vidas. Eu colocaria ele fácil no topo de qualquer lista, mas como já inclui em outra relação de livros, vai ficar aqui. Mas pode explorar sem medo. Dá pra começar por ele também.

6 – Jurimetria: como a estatística pode reinventar o direito – Marcelo Guedes Nunes. O Marcelo é o pioneiro em jurimetria no Brasil. Recebi esse livro autografado em 2016, como cortesia, e só recentemente tive o prazer de ler. Ficou aquela sensação de “por que não li isso antes?”…

7 – Ruído: uma falha no julgamento humano – Daniel Kahneman. Mais uma vez Kahneman e colegas entrando nas minhas listas. Mas este livro não podia ficar de fora porque introduz vários temas relevantes da análise de dados e, o que é mais importante, com diversos exemplos voltados ao direito. Eu chutaria que o livro é 73% de jurimetria, com pitadas de “Law and Economics”.

8 – O poder do pensamento matemático: a ciência de como não não estar errado – Jordan Ellenberg. Um livro fabuloso sobre a importância de alguns conceitos matemáticos e estatísticos para entender melhor questões do dia a dia, com uma linguagem leve e exemplos bem instigantes.

9 – The Art of Statistics: how to learn from data – David Spiegelhalter. Esse cara com sobrenome estranho é um dos grandes divulgadores da estatística. Já produziu alguns documentários bem legais. Este livro, em particular, é espetacular. Só não coloco mais acima no ranking porque não tem tradução para o português. Mas para quem domina o inglês pode colocá-lo em primeiro ou segundo lugar.

10 – The Data Detective: Ten Easy Rules to Make Sense of Statistics – Tim Harford. Outro livro que mereceria uma tradução para o português. Livro leve, mas muito instrutivo. O autor é um craque em divulgar ideias complexas de modo simples. Já li alguns excelentes livros dele e este não fica atrás.

11 – Como Mentir com Estatística – Darrel Huff. Coloquei aqui o livro clássico do Huff porque certamente alguém iria sugerir. É um livro mais antigo e bem pequeno, mas ainda assim com muitos insights atuais. Leitura obrigatória não só para quem quer entender estatística, mas também sobre como o uso de dados pode ser enganoso.

12 – Dominado pelos Números – David Sumpter. Mais um livro de divulgação científica sobre análise dados. O livro foca o Big Data, mais especificamente sobre como os algoritmos controlam nossas vidas. A rigor, minimiza o alarde que se costuma fazer e explica alguns conceitos fundamentais de ciência de dados, com exemplos bem atuais. Gostei por dar uma perspectiva menos alarmista sobre o poder dos algoritmos.

13 – Factfulness: o hábito libertador de só ter opiniões baseadas em fatos – Hans Rosling. O autor tem uma das palestras mais vistas na história do TED Talks. E sobre estatística! Neste livro, o autor defende uma visão de mundo menos opinativa e mais baseada em fatos. Bem inspirador! É um dos livros favoritos do Bill Gates.

14 – O Guia Contra Mentiras: como pensar criticamente na era da pós-verdade – Daniel Levitin. Mais um livro bem acessível que mostra como qualquer pessoa pode usar a estatística para interpretar a realidade, sobretudo em um período em que as “verdades alternativas” se expandem cada vez mais. Acho que só entendi (será que entendi?) o pensamento bayesiano através dele.

15 – Triologia Freak (FreakonomicsSuper Freakonomics e Pense como um Freak) – Stephen Dubner e Steven Levitt. Esses livros tiveram um grande impacto na minha formação, pois mostraram como o pensamento quantitativo ajuda a compreender o mundo com uma lente diferente. Mesmo sendo livros de divulgação científica da economia comportamental, usam muitos exemplos voltados ao direito, da descriminalização do aborto à criminologia do tráfico de drogas, do terrorismo e da prostituição.   

16 – Storytelling com Dados: Um guia sobre visualização de dados para profissionais de negócios – Cole Nussbaumer KnaflicÉ mais um livro sobre a arte de produzir gráficos e entendê-los. Ajuda na chamada análise descritiva, pois a visualização por meio de gráficos é uma das principais ferramentas para interpretar o que os dados estão querendo dizer. A turma da ciência de dados usa muito os princípios desse livro para apresentar/comunicar os resultados de suas análises.

17 – Mindware: ferramentas para um pensamento mais eficaz – Richard Nisbett. O autor é um dos grandes nomes da Psicologia Social e traz aqui uma apresentação bem clara de algumas ferramentas de estatística aplicada. Bem tranquilo de ler, pois é voltado para o público leigo.

18 – O Sinal e o Ruído: por que tantas previsões falham e outras não – Nate Silver. Esse livro é um predecessor do livro Ruído do Kahneman. Trata de predição, que é uma das partes mais interessantes da análise de dados.

19 – Superprevisões: a arte e a ciência de antecipar o futuro – Philip Tetlock. Vai na mesma linha do livro de Nate Silver, com a diferença que estuda um grupo de pessoas que tem uma capacidade extraordinária de fazer previsões.

20 – Triologia Taleb (A Lógica do Cisne NegroIludidos pelo AcasoArriscando a Própria Pele). Confesso que não é dos meus favoritos, mas como tem uma legião de fãs, coloquei aqui pra não ser massacrado. O autor é muito bom, mas tenho dificuldade de me conectar com o estilo dele.

21 – As Leis do Acaso: como a probabilidade pode nos ajudar a compreender a incerteza – Robert Matthews. Um livro bem bacana para entender probabilidade, que é uma das bases do pensamento estatístico. Sua habilidade em jogo de apostas irá melhorar muito depois desse livro.

22 – Os Números (não) mentem: como a matemática pode ser usada para enganar – Charles Seife. É uma versão mais profunda e mais atual do livro “Como mentir com estatística”. Bem legal!

23 – The Book of Why: The New Science of Cause and Effect. Esse foi o único livro da lista que não li e por isso não tenho como colocá-lo em uma posição melhor. Mas já está na minha lista de prioridades. Fui sugestão do Júlio Trecenti, que é uma das maiores autoridades em estatística e direito do Brasil.

PS. Se quiserem dar um passo maior para aprender jurimetria de verdade, recomendo o Curso-R. Além de ser uma turma bem bacana, estão diretamente envolvidos com o estudo da jurimetria, pois fazem parte da diretoria da ABJ – Associação Brasileira de Jurimetria.

Eles têm um livro gratuito, de entrada, para aprender a linguagem R: https://livro.curso-r.com/

Se quiserem, posso indicar também alguns canais no Youtube que podem servir de base para um processo de aprendizagem. É só falar no comentário…