Liberal, pero no mucho

O pensamento liberal – inspirado em autores clássicos como Bastiat, Hayek, Friedman, Mises etc. – nunca foi muito valorizado no Brasil. Pelo menos nas faculdades de direito, quando se fala em liberalismo, quase sempre adota-se um tom pejorativo. Se alguém maquinou algum tipo de marketing ideológico para afastar o debate liberal das salas de aula, certamente teve grande sucesso, pois é como se tais autores nem existissem, apesar de terem escrito muito material que deveria interessar aos juristas.

Nesse contexto, o reaparecimento da influência liberal entre alguns estudiosos do direito é um fenômeno que impressiona, pois não é normal presenciar, no Brasil, pessoas que gostam de fugir do senso comum e dos mantras ensinados nas cartilhas oficiais. Nesse ponto, é até salutar assistir a esse crescimento do pensamento liberal, mesmo porque o liberalismo exalta alguns valores que faltam em muitos brasileiros e que precisam mesmo ser enaltecidos, como a competência, o empreendedorismo, a eficiência etc. Assim, apesar de algumas importantes premissas do liberalismo econômico estarem em descrédito no resto do mundo por conta da crise financeira, há, sem dúvida, muitos pontos defendidos pelos pensadores liberais que fazem algum sentido, sendo um erro demonizá-los sem se dar ao trabalho sequer de conhecê-los.

Por outro lado, há um determinado tipo de movimento liberal que tem surgido com um viés ideológico que assusta pelo radicalismo. É como se estivesse ocorrendo uma luta do bem contra o mal em que todos os que não aceitam o liberalismo são considerados inimigos (ou estúpidos). Alguns “novos” liberais parecem ser mais marxistas do que os próprios seguidores de Marx, pois não conseguiram se desapegar das velhas estratégias de combate alicerçadas na luta de classes. E o pior é que a roupagem do discurso ainda é a mesma do século XIX, onde os “inimigos” eram comedores de criancinhas, que não acreditavam em Deus e queriam tomar a propriedade privada através da força. Nesse ponto, é difícil levar esse novo liberalismo a sério, pois essa atitude de intolerância é manifestamente incompatível com todos os fundamentos que o inspiraram. (J. S. Mill deve se mexer no túmulo toda vez que o liberalismo é invocado para defender algum radicalismo intolerante).

Mas não é minha pretensão criticar qualquer estratégia de doutrinação ou de convencimento, pois esse modelo de debate, infelizmente, faz parte do jogo intelectual que se costuma jogar no Brasil, sobretudo depois do surgimento das redes sociais, que nivelaram as discussões por baixo. E convenhamos que o discurso anti-liberal faz uma campanha até mais suja de difamação, de forma que a reação dos novos defensores do liberalismo, ainda que incoerente com as suas premissas, não é tão desproporcional assim.

Mas deixemos de lado essa questão de saber quem é mais ou menos desonesto intelectualmente, pois não é esse o ponto que desejo enfatizar. O objetivo principal deste post é tentar demonstrar que o liberalismo, para ser coerente consigo próprio, tem que abandonar o seu viés elitista, onde são valorizadas apenas as liberdades “dos ricos”, e as liberdades “dos pobres” são desconsideradas por completo ou até mesmo vistas como uma ameaça. Essa crítica certamente não é nova, pois, já no século XIX, acusava-se o liberalismo da época de proteger apenas a liberdade “burguesa”. Quando os trabalhadores tentavam exercer a sua liberdade de associação, de greve ou mesmo de expressão, a força repressora do estado agia sem nenhum constrangimento de estar ferindo as bases do “laissez-faire”. Raros eram os liberais que defendiam os interesses de grupos oprimidos (e aqui mais uma vez invoca-se Stuart Mill, que se notabilizou pela defesa dos direitos das mulheres). Em geral, os liberais estavam defendendo a liberdade de quem tinha poder econômico ou social.

Uma parcela considerável dos defensores do liberalismo contemporâneo também continua sendo marcado por essa perspectiva torta, onde a liberdade dos ricos é vista como um direito sagrado, e a liberdade dos pobres é vista como uma ameaça. Invoca-se a liberdade para defender o direito dos ricos de tomarem seus uísques 18 anos livres de impostos, mas não a liberdade de manifestantes pobres irem às ruas para reclamarem da violência policial. A liberdade de ir e vir é lembrada para defender o direito de voar até Miami para comprar o novo PlayStation, mas não para defender o direito de imigração ou de refúgio de estrangeiros vindos de países pobres que buscam oportunidade de trabalho no Brasil. Fala-se com deslumbramento em liberdade de escolha, em livre mercado, em ambição como virtude, mas as urticárias começam a aparecer só de ouvir falar no tal do “rolezinho”, que é um fenômeno tão próprio do tipo de visão de mundo que eles apregoam (a esse respeito, vale ler esse interessante artigo de Eliane Brum).

Percebe-se que esse tipo de liberalismo (que não é o único tipo de liberalismo) não consegue se desvincular completamente do seu irmão mais velho, o conservadorismo, que, nesse aspecto, é muito mais coerente, pois não dissimula o discurso, nem doura a pílula. O conservadorismo assume suas preferências elitistas e não esconde seus preconceitos, ao contrário do liberalismo, que (talvez por conta de suas ambições políticas) pretende transmitir um discurso mais palatável para um grupo maior. Assim, as palavras de ordem do discurso liberal são, no abstrato, muito agradáveis de ouvir: liberdade, mérito, eficiência, competência, diminuição da carga tributária, contra o autoritarismo, contra a burocracia etc…. No entanto, quando se analisam os exemplos concretos utilizados para defender tais valores, o viés elitista aflora notoriamente, pois as críticas raramente se voltam contra alguma medida contrária aos pobres. As ameaças às liberdades são sempre ameaças contra grupos com um certo poder econômico ou social. Nada contra a liberdade dos ricos, até porque usufruo dela, mas não parece ser razoável indignar-se apenas contra a prepotência tributária do fisco e não ter o mesmo sentimento em relação à repressão policial nas favelas, para ficar só com um exemplo.

Assim, para concluir, faço uma defesa aberta da liberdade, a partir daquilo que entendo que seja o autêntico espírito liberal. Sejamos sim liberais no sentido de valorizar a liberdade. Sejamos críticos do estado, inclusive do assistencialismo sem resultados positivos. Sejamos também defensores da iniciativa privada, do empreendedorismo, do mérito e da eficiência. Saibamos reconhecer as vantagens de um sistema de mercado. Abominemos a incompetência, o parasitismo social, a burocracia e o intervencionismo burro. Desconfiemos das autoridades e de toda forma de paternalismo. Valorizemos as capacidades individuais, o amor próprio e o direito de cada um ser dono do próprio destino e planejador da própria felicidade. Mas sejamos coerentes. Liberdade é uma via de mão dupla: o que vale para um, vale para o outro. Liberdade não é privilégio de ricos, nem se reduz ao mero absenteísmo estatal. Liberdade não é apenas a liberdade de escolha, mas a capacidade autêntica do exercício da autonomia. E tal capacidade deve ser respeitada em relação a todos (e a todas, para ser politicamente chato correto). Mas, acima de tudo, como corolário máximo da defesa da liberdade, sejamos compreensivos em relação às diferenças de pensamento. Não há sentido em ser tolerante e, ao mesmo tempo, não escutar o que o outro tem a dizer. Aliás, sejamos não apenas tolerantes, mas capazes de reconhecer que outras perspectivas podem enriquecer nossa própria visão de mundo. Sejamos também, por isso mesmo, menos partidários, pois defender a liberdade é ser antidogmático por natureza.

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21 comentários em “Liberal, pero no mucho”

  1. Eu discordo de algumas coisas.

    O comunismo é uma praga pior do o nazismo, sob todos os aspectos. Um se nutriu do outro. Há uma farta bibliografia sobre isso (solenemente ignorada no meio acadêmico). Demonizá-lo, portanto, não é um disparate.

    E, sim, o comunismo comia crianças. Ou melhor, fazia pior. Basta ler “O livro negro do comunismo” e irá descobrir que as crianças na China eram cozidas e utilizadas como adubo. Isso sem falar no canibalismo criado pela miséria proposital criada pelo regime soviético.

    “Ah, aquilo não era comunismo!”, gostam de dizer os defensores de tais ideias. Há também uma farta bibliografia sobre isso.

    E se você leu Hayek certamente descobriu que o inimigo dos comunas não eram os nazistas, mas os liberais. Há provas de sobejo no livro “O caminho da Servidão”.

    O liberalismo não defende os ricos. Em nenhum livro irá encontrar isso. Nenhum teórico do liberalismo é favor do protecionismo de classes, oligopólio, etc. Nenhum. Ele não defende ninguém especial além do homem. (A propósito disso, Roberto Campos, numa entevista no Roda Viva pouco antes de morrer, deu uma excelente resposta sobre isso).

    As pessoas tendem a pensar que se abandonarem as ideias marxistas ficarão órfãs de nobres ideais, como se não existisse nenhuma doutrina além daquela pregada pelo charlatão do Marx (Paul Johnson prova porque ele era uma fraude intelectual no livro “Os intelectuais”).

    E basta lembrar que o maior responsável pelo fim da escravidão no Brasil era um liberal até as entranhas: Joaquim Nabuco.

    E, por fim, outra referência obrigatória é o livro do Raymond Aron (infelizmente há anos fora de catálogo) “O ópio dos intelectuais”. Esse pensador francês, que conheceu de perto os maiores pensadores de seu tempo, demonstra porque estes nobres ideais não contribuíram em nada para as mudanças mais importantes ocorridas nos últimos séculos.

    1. Doni, o problema é o seguinte.
      Há, pela sua lógica, duas opções: o liberalismo e o comunismo.
      O comunismo está próximo do nazismo e comia criancinhas, além do que todos os seus defensores são charlatães.
      O liberalismo libertou os escravos e defende ser humano.
      Se for assim, não há como discordar de você.

      1. Não há duas opções, embora sejam as duas mais conhecidas. Eu não disse isso.

        Eu também não disse que todos os defensores do comunismo são charlatães. Há dois tipos de comunistas: os cretinos e os outros (que costumam ser desinformados). E Marx era charlatão. Isso é um fato. Ele falsificou dados e citações durante sua pesquisa (juro que não estou exagerando). Ele partiu da conclusão para as premissas. Ele jamais teve qualquer compromisso com a investigação científica séria. Era um falsário. É incrível como isso é de desconhecimento geral. Isso é um fato que nem seus biógrafos ignoram! Se isso não é ser charlatão, não sei o que seria!

        Eu também não disse que o liberalismo libertou os escravos. Apenas dei um exemplo para refutar a sua afirmação de que o liberalismo defende apenas os ricos! Não defende nenhum nem outro.

        A diferença entre liberalismo e comunismo, basicamente, é de método. Ambos possuem bons ideais, porém, o que diferencia uma da outra é a forma que pretendem alcançar isso. É o que vejo nos pensadores de ambos os lados.

      2. Doni, conheço as acusações contra Marx (li Paul Johnson) e também acredito que são verdadeiras. Como também conheço a acusação de que o liberal John Locke lucrava com o comércio de escravos. A hipocrisia e a akrasia não são vícios exclusivos dos comunistas, nem dos liberais. O problema é assumir a bondade natural dos liberais e a maldade natural dos comunistas ou vice-versa.
        Quanto à “quedinha” dos liberais pelos ricos, refiro-me mais ao movimento político do liberalismo do que propriamente ao pensamento dos teóricos clássicos. E também pelo fato de haver uma aproximação entre o conservadorismo e o liberalismo. Mas é óbvio que as premissas do liberalismo podem beneficiar pobres e ricos indistintamente. O problema é que as baterias da artilharia liberal costumam atacar muito mais as medidas governamentais que prejudicam a liberdade dos ricos (tributação, segurança jurídica etc.).

  2. Mas eu concordo que devemos ser mais tolerantes. Porém, creio que a eliminação do pensamento liberal no Brasil tem como causa o excesso de tolerância dos liberais (a direita como um todo) aos injustos ataques de seus agressores.

    Não concordo com a briga instituída entre ambos, mesmo na internet. Para mim, a única mudança que pode ocorrer é no campo intelectual e cultural, mediante educação (estudo) e divulgação de obras e pensadores que se contrapõem aos demais.

    Por isso enalteço seu post, que certamente servirá para abrir os olhos de muita gente que ainda acha que a economia é regida por uma luta de classes nos moldes descirtos por Marx.

    1. Isso eu concordo (de verdade). Para mim, o “Sobre a Liberdade” de Stuart Mill deveria ser leitura obrigatória em todo curso de direito, se tal obrigatoriedade não fosse incoerente com o próprio conteúdo do livro.

      1. Eu realmente acho que concordamos mais do que discordamos. Acho você um sujeito muito sensato e prudente. Inteligente e sempre disposto a divulgar boas ideias e tudo mais. Eu só ressaltei os pontos de divergência porque não faria sentido repetir o que já havia dito!

        Abraços! ;)

  3. Belo post George. Realmente vejo o debate em nível rasteiro muitas vezes. Quero crer que, como vc disse, isso ocorre como uma reação mas não creio que seja apenas isso. Eu mesmo “propago” muito conteúdo raso, pra dizer o mínimo. Talvez seja reflexo da frustração de não ter em quem votar.

    Back to the books…

    Abs.

    Hamilton.

    1. Pinho (Hamilton), creio que a superficialidade do debate na internet, envolvendo esse tema, decorre, em alguma medida, do baixo nível da nossa política. O liberalismo cresce em reação ao “cansaço” do nosso modelo político (efeito backlash), mas, ao final, acaba usando as mesmas ferramentas do jogo político.
      E o pior é que se quiser “vencer” o jogo político, vai ter que renunciar à coerência do discurso, tornando-se tão dissimulado quanto os atuais partidos de “direita”.
      Duvido que algum candidato consiga vencer qualquer eleição adotando o discurso do fim do assistencialismo estatal. Assim, os políticos liberais vão ter que mentir para os eleitores para terem chance de sucesso.

  4. Como liberal (no sentido clássico), fico feliz que o liberalismo esteja voltando ao debate. Concordo com a crítica de que há uma ala sectarista e muitos que tomam um discurso elitista, mas tais problemas não ficaram despercebidos aos próprios liberais. Existem tentativas de resgatar esse espírito do liberalismo. Como exemplos disso, existem os textos do Diogo Costa (http://www.capitalismoparaospobres.com/) e o Mercado Popular (http://mercadopopular.org/).

  5. Professor George, belíssimo artigo. Infelizmente, há muitos que se dizem liberais, mas são intransigentes, além de surdos e cegos aos argumentos contrários.
    A maior impressão que tenho desses ditos liberais é a de que eles fazem uma análise fria de todo o contexto: se houver lucro, tudo certo; o humanismo é desvalorizado; nada de ajudar o próximo, pois isso é uma despesa. Segundo esses liberais que mantenho contato, ele [o próximo], devido ao desespero, irá aprender a se restabelecer, a crescer.
    Daí, surge minha dúvida: será que isso é salutar? Será que devemos deixar o próximo sem ajuda, sem fornecer condições para que ele, ao menos, possa disputar em pé de igualdade com uma pessoa que sempre teve condições favoráveis?

  6. Sobre essa questão de que o liberalismo é favorável aos ricos e aos empresários, deixo esse texto que mostra que é justamente o “anti-liberal” (ou intervencionista, estatista, como quiser) que defende e mantém os privilégios de uma certa classe influente de ricos empresários que odeiam o livre mercado:

    http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1714

    E sobre o “direito de ir à Miami fazer compras” como critério de liberdade, gostaria de destacar que isso é PODER e não direito e nem liberdade. Liberdade para os liberais é, como o senhor deve saber, ausência de coerção; sem diferenciação de classes.
    Os chamados “direitos burgueses” (a vida, a liberdade e a propriedade) nada tem de exclusivos de uma classe. São direitos negativos, que não dependem que alguém tenha que fazer algo para que eles existam. São direitos de todo ser humano, não importa se pobre ou rico, se branco ou preto, se homem ou mulher. Alguns podem dizer “mas pobre não tem propriedade”. E o seu próprio corpo, o seu salário, aquilo que veste, aquilo que pode construir no futuro através da acumulação? Isso não é (direito de )propriedade?

    Repressão policial. A tarefa da polícia é a de manter a ordem pública e garantir diretos, entre outras coisas. Correto? Nunca vi um liberal ou um conservador aplaudir uma polícia que agride gratuitamente cidadãos apenas por serem pobres. Se o estado abusa da sua missão, deve ser responsabilizado. O que não faz sentido é o discurso que alguns esquerdistas (não me refiro ao autor do blog) de que a polícia e o estado são os “braços armados da repressão a serviço do capitalismo e das elites para a exploração dos pobres”. Criminoso é criminoso, não importa se pobre ou rico, se comete fraude financeira ou se quebra vidraça em manifestação ou se mata (sem a menor intenção de igualar esses atos).

    A afirmação de que os liberais tem sido desonestamente “maniqueístas” também merece uma reposta. Mises já disse que o intervencionismo não é um modelo sustentável, e que a manutenção desse sistema serve apenas para implantar o socialismo de uma maneira mais lenta. http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=374
    E dizer que o socialismo não só não morreu, como planeja o poder pode soar como teoria da conspiração, mas recomendo os textos de Olavo de Carvalho sobre o assunto – o recente livro “o mínimo que você precisa saber para não ser um idiota” trata bastante desse tema.

    E por último, percebo que o sentido de “conservadorismo” abordado é o sentido pejorativo, de senso comum; de que o conservador quer conservar o status quo e as injustiças. Devo dizer que o conservadorismo como doutrina política não tem nada disso, recomendo a leitura de autores conservadores para entender o que realmente é conservadorismo; são muitos autores, mas Russel Kirk é um nome fundamental.

    Enfim, apesar das críticas, acho muito positivo que os juristas Brasileiros estejam começando a se interessar pelos autores liberais (e conservadores, talvez), para quem sabe, num futuro próximo, equilibrar o jogo de forças do debate público, em que o lado liberal/conservador encontra-se muito pouco representado no Brasil.

  7. Excelente abordagem, George. Concordo, por exemplo, que temos um sistema tributário pesado e confuso. Entretanto, acho muito fútil ver comparativos sobre produtos vendidos no Brasil e em outros países, pois geralmente são bens de consumo duráveis e acessível a pouca gente. A polêmica com o Playstation 4, por exemplo. Há sempre aqueles comparativos de carros que nos EUA são “muito mais baratos”. Pode até ser, mas eu me pergunto porque não fazem um comparativo sobre alimentos, ou mesmo sobre cesta básica. Ou ainda, sobre medicamentos. No Brasil, uma pessoa pobre se trata contra HIV gratuitamente, mas em outros países, não. Conheço muitas pessoas que defendem o liberalismo como muleta para seus próprios interesses. Concordo muito com o que está escrito aqui.
    Boas festas de ano novo!

  8. George, belíssimo texto, amigo. Compartilho do seu pensamento. Os extremismos grassam nas redes sociais. É de assustar mesmo. Abs, Fred Koehler.

  9. O liberalismo de esquerda é solidário e tolerante com o pensar diferente, é responsável social e ambientalmente. É intolerante e consequente com a ilicitude e a iniquidade, o que abrange o estrito respeito pela autodeterminação em todos os campos da vida social e, é claro, é adepto do equilíbrio entre demo e meritocracia (igualdade real de chances e condições competitivas).

    Somente discordo do amigo George no quesito por ele aventado partidarismo. Mas talvez até aqui se trate apenas de uma questão de diferença terminológica: Ser liberal de esquerda é ser intransigente no que tange ao respeito à liberdade e à sua configuração jurídica, tal positivada nos direitos fundamentais (“liberdades juridicamente ordenadas” – R. Poscher). Em outras palavras: é tomar e ter partido e que partido seria senão o partido político? (“legenda” que é uma outra estória…) Este é o meu partido! E pelo que conheço do amigo, se não somos exatamente do mesmo partido, somos de partidos políticos afins ideologicamente, o que viabiliza sem dúvida uma coalizão programática muito profícua. Forte abraço e sucesso em 2014, caríssimo George Marmelstein!

  10. George,
    gostei muito do post.
    O tema me remete também à discussão sobre o confronto direita x esquerda, que me parece muito estranho, mas continua em pauta por aqui.
    Conheço várias pessoas que se dizem de esquerda e se referem aos que não se reconhecem de esquerda como direitopatas, direitona, catrefas da direita e por aí vai. Não deixam nem um espaçozinho para quem não queira ser uma coisa nem outra.
    Ao mesmo tempo, tenho a impressão de que os que se identificam com o pensamento dito “de direita” andam meio encabulados de assumir isso.
    Aliás, pensei que fosse só impressão minha, mas essa semana mesmo o programa Painel da Globo News, com o William Waack, tratou do assunto e ele afirmou exatamente isso: não há no Brasil um conglomerado de pessoas que se afirme “de direita”.
    Será resultado do mesmo marketing ideológico que afastou o debate sobre o liberalismo das salas de aula?

  11. “Sobre a Liberdade” foi o livro que esbarrei por acidente na minha pesquisa da monografia, na graduação de Direito. Após a leitura abri as portas da Liberdade. Pena ter sido já tarde demais. Fiquei atônito com o que fiz durante os outros 05 anos do curso, que não passou de um imenso preparatório pra OAB.
    Por fim, descobri que gosto de Justiça, não de “Direito”.

  12. No Brasil, por incrível que pareça, há uma certa confusão entre Liberal e Conservador, já que parece haver a prática de se rotular como “liberal” tudo o que soa como discurso conservador, uma prática que talvez se relacione ao fato de que muitos autoproclamados liberais realmente são conservadores! Alguns chamariam Dworkin de comunista tranquilamente, se conhecessem alguns de seus artigos! :)
    Agora se tu achas que os Liberais são estigmatizados nos cursos de direito, te proponho dois testes: 1) Peça a um aluno assistir uma aula em uma turma que não o conheça e, no eventual debate, se declarar comunista.
    2) Lembre que o campo jurídico nãos e reduz apenas às Universidades e faça o mesmo teste nas faculdades.
    Aí tu vais ver o que é estigma! :)

  13. Considerando que a maior parte do texto trata do manuseio hipócrita das ideias liberais para atingir benefícios a grupos facilmente localizados, não entendo porque não considerar uma visão de luta de classes: o texto utilizou exemplos práticos – e não apenas hipotéticos – de ladainhas liberais sem fundo subjetivo. A ideia de luta de classes só é ruim quando é vista como propulsora de todo e qualquer raciocínio que proponha analisar as mais diversas relações sociais (quando isso acontece não dá pra diferenciar um militante de esquerda com um da assembleia de deus), mas é um componente muito relevante para uma compreensão macro da sociedade e do Estado. Ela existe no Brasil atual??? O fenômeno rolezinho siginifica luta de classes, incompreensão racia?…. Ué, mas nós somos racistas? Abraços!!!

  14. Bebeu do veneno da serpente que tentou matar. Sentou o porrete na saraivada de confusões em torno do conceito de liberalismo. E acabou bolando um conceito extremamente genérico, capaz de justificar tudo, até o HITLERISMO.
    Vejamos seu conceito:

    “Liberdade não é apenas a liberdade de escolha, mas a capacidade autêntica do exercício da autonomia”.

    O que se entende por capacidade autêntica do exercício da autonomia? Presumo que autonomia seja o ideal, do contrário não haveria necessidade de Estado. Portanto, é tarefa deste induzir esse estado no indíviduo, criando as condições para que exerça a liberdade.

    Desse modo, se não defino o MODO DE CRIAR A AUTONOMIA NO INDIVÍDUO nada defino em termo de liberalismo, pelo menos não sob o aspecto político.

    Quantas opções temos de buscar a autonomia. Podemos:
    1)Dividir tudo e começar do zero;
    2)Oferecer migalhas para amenizar o deficit;
    3)Insistir em políticas a longo prazo, um projeto de educação para o futuro.

    Não parece que todas essas propostas sejam liberais, embora visem a autonomia do indivíduo, criando-lhe possibilidade de agir além da satisfação das necessidades primárias.
    A proposta 3, por mais racional que seja, e que decorre da sua noção de liberalismo MORALIZANTE, é conservadora. Preserva o interesse das elites ao atrasar as reformas sociais, realçando suas preocupações com as mazelas sociais. Doura-se a pílula.

    Na prática, dá na mesma ser um CONSERVADOR e um liberal moralizante, QUE NADA DIZ sobre o conceito de liberdade. O primeiro quer manter as coisas como estão, o segundo, mudança a longo prazo, numa situação ideal que provavelmente não acontecerá, e que não depende dele.

    Há homens visionários, fantasiosos, quixotescos (bons de coração) no segundo grupo. Mas há também os covardes. A teoria do LIBERALISMO MORALIZANTE, além de nada definir, põe essas duas classes de homem no mesmo saco. O que me parece inconcebível.

    Dentro do leque de opções sobre liberalismo que defende, o exercício da autonomia pode ser encarado sob a ótica do social, sem ranço egoístico. Afinal, o exercício do direito individual para satisfação de desejos não é a verdadeira liberdade, senão ação limitada pela satisfação do ego, e cada vez mais escrava da repetição ou criação de novas paixões. Desse modo, só uma ação cívica, que contribui ao crescimento da nação, poderia ser considerada exercício autônomo da liberdade.

    Muito bonito na teoria, arriscado na prática. Os interesses da nação podem variar do agrado a um lider carismático à satisfação de interesses contingentes. É possível que ambos caminhem juntos, e criemos o mesmo terreno que propiciou a ascensão do nazismo.

    Enfim, um LIBERAL que se reputa autêntico deve DIZER O QUE REALMENTE ENTENDE POR LIBERDADE. A menos que queira dourar a pílula…

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