20 anos da morte de Giovanni Falcone

Há exatos 20 anos, o juiz italiano Giovanni Falcone foi assassinado. Falcone, todos sabem, é o principal símbolo do combate à máfia italiana, especificamente a Cosa Nostra. Ele conduziu um processo dificílimo envolvendo cerca de quatrocentos mafiosos. Foi assassinado no cumprimento de seu dever, num atentado bárbaro, em que dois carros foram explodidos, matando não só ele, mas também sua esposa e seguranças. (E ainda havia quem dizia que “La máfia non esiste”).

Ano passado, estive na Sicília, participando de um curso de direito anti-máfia e fiquei comovido com a presença do juiz Falcone na cultura siciliana. Falcone é um ícone e seu nome e imagem são a toda hora lembrados. Tive a oportunidade de conhecer o local do seu assassinato:

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18 comentários em “20 anos da morte de Giovanni Falcone”

  1. Se esse fato tivesse acontecido em nosso país, concerteza já teriamos esquecido, não fico feliz em dizer isso,fico é realmente muito triste pelo simples fato de ficarmos calado ,é por isso que a impunidade continua em nosso país ,não valorizamos os nossos verdadeiros herois.

  2. George,

    Realmente, o povo italiano nutre pelo Juiz Falcone uma consideração muito grande.

    Já no Brasil, infelizmente, o quadro é diverso. Caíram no esquecimento os vários magistrados brasileiro que, da mesma forma que Falcone, pagaram com sua própria vida o preço por tentar fazer justiça.

    Somente quem atua como juiz e tem plena consciência da importância da sua função sabe como é desgastante e até mesmo frustrante dedicar sua vida a uma profissão que não é valorizada pela sociedade. É muito duro ouvir que todo juiz trabalha pouco, ganha muito e é corrupto. A vida de um juiz, pelo menos dos autênticos juízes, não é nada fácil. Há muito sacrifício, mudanças e renúncias.

    Não sei se um dia o povo brasileiro terá admiração pela magistratura nacional. Não é pessimismo. É que tem sido plantada uma imagem negativa dos juízes brasileiros, embora os casos de desvios sejam relativamente pequenos. A maioria dos juízes é composta por gente honesta, trabalhadora e compromissada. Porém, nada disso é falado. A mídia apenas dá destaque ao lado negativo. E pior, dentro do próprio Judiciário há setores e autoridades que não medem esforços para denegrir injustamente sua própria profissão.

    Para nossa tristeza, no Brasil urdem as fiandeiras do igualitarismo a proletarização da magistratura, cuja produtividade é chinesa, a criatividade é própria do Vale do Silício, a abdicação é tipicamente tibetianana e a remuneração beira à da Somália.

    Como já dizia o festejado Eliézer Rosa, a única ginástica que o juiz faz é a financeira, pois a remuneração é côngrua e o tempo, quase que integralmente absorvido pelo judicatura. Sim, a única ginástica que o juiz faz é a financeira, não lhe sobejando tempo algum para exercitar o físico, tanto que plano de saúde e seguro de vida para magistrados brasileiros são comprovadamente mais caros que para os demais cidadãos, já porque a profissão é de risco, já porque a estafa mental e o sedentarismo são useiros e vezeiros entre os juízes pátrios.

    Não é à toa que o juiz brasileiro envelhece precocemente, de tanto trabalhar, de tanto carregar em si as dores alheias, entregando à judicatura os melhores dias do vigor de sua mocidade, sendo que a sua lamparina é a primeira que se acende na antemanhã e a última que se apaga ao anoitecer.

    Findo o expediente, enquanto todos os trabalhadores dormem merecida e tranquilamente depois de um dia de labor, lá vem aquele egrégio operário da justiça, cansado após uma exaustiva jornada no foro, com um punhado de autos debaixo do braço, levando-os para seu gabinete nem sempre funcional improvisado em sua casa (casa que deveria ser lugar de descanso, mas não é), a fabricar o mel da justiça, para distribuir no dia seguinte do foro aos advogados e partes.

    O juiz deixa o gabinete do foro, mas o gabinete não deixa o juiz, já que o magistrado o carrega consigo, como a sombra acompanha o corpo. Sim, as lutas interiores e o trabalho do inconsciente buscando a justa solução para aquele determinado caso estão impregnados na mente do juiz, sem dar trégua.

    E, mesmo depois de uma noite quase indormida em razão do seu sacerdócio exercido em sua casa, no dia seguinte lá está novamente aquele homem com o semblante iluminado, tirando forças sabe-se lá de onde, a atender afanosamente os comarcanos, os advogados, os auxiliares forenses e todos os que lhe procurarem para solicitar alguma providência.

    Mas esse árduo trabalho do julgador brasileiro não é reconhecido. Justiceiro injustiçado, esse sim é o magistrado brasileiro, que vive uma escravidão consentida, tendo como sentinela as rumas de autos nos quais encontra-se ilhado.

    De qualquer forma, feito esse desabafo, anelo-me à memória do nobre Juiz Falcone, pelos vinte anos de sua morte, aproveitando a ensancha para cumprimentar todos os Juízes da Terra, pela irreconhecida missão exercida.

    1. Anônimo, sem querer discordar, vou propor e indagar o seguinte:

      1) Substitua, no seu texto, as palavras “juiz” e “magistrado” por “advogado”, e resultado será o mesmo.

      Pergunto então: é só o juiz que é injustiçado? O juiz é mesmo injustiçado, ou só colhe o que planta, coletivamente? Sou advogado e sei que, nós advgados, colhemos o que plantamos, de bom e de ruim, inclusive pela inoperância da OAB.

      2) José Renato Nalini, desembargador no TJ-SP, é uma referência nacional em termos de ética na magistratura – se os juízes assim o consideram, ou não, não vem ao caso. Pois bem: o Des. Nalini é presidente da comissão do 183º concurso para a magistratura de SP, que está em andamento. Nesta semana, por decisão do CNJ, o concurso foi suspenso. Sabe porque? Porque a banca fez entrevistas secretas com os candidatos, antes da prova oral, com perguntas esdrúxulas, como a religião do sujeito e suas opções políticas. Mais de 2/3 dos candidatos foram reprovados.

      Pergunto então: é essa a decantada ética da magistratura nacional? E, para não achar que é alguma espécie de perseguição, saiba que não participo do aludido concurso, mas acompanho e presto provas para outros concursos para as magistraturas estaduais.

      Você faz ideia de como que os TJs conduzem esses certames? Se você acompanhasse isso, certamente saberia porque a magistratura no nosso país, como você diz, não é valorizada. Procure se informar e saberá.

      E indago mais: o que fazem as associações de magistrados em prol da lisura mínima (repito, mínima) dos concursos para a magistratura estadual? Silêncio. Silêncio ensurdecedor. Silêncio covarde. Silêncio conivente.

      1. Márcio,

        por experiência própria, entendo a tristeza de quem não passa no exame oral, depois de chegar tão perto do sonho, mas pode estar certo que, no caso de São Paulo, a magistratura é séria. A comissão de concurso é muito rigorosa, porque compromissada com a carreira, buscando sempre escolher corretamente quem exercerá tão relevante cargo. Não há privilégios ou direcionamentos no concurso. Digo isso também por experiência própria, pois sou venho de família simples, meus pais são semi-analfabetos, estudei em escola pública e fiz a gradução em Direito em faculdade particular sem expressão. Com muita humildade, estudo e perseverança, consegui a aprovação do concurso da magistratura paulista e hoje sou plenamente realizado como Juiz de Direito.

        Depois do exame oral, que é público, há uma entrevista sigilosa. O sigilo existe para preservar o próprio candidato de indevida exposição, mesmo porque o art. 35, VIII, da LOMAN, diz ser dever do juiz manter conduta irrepreensível na vida pública e particular. Assim, obviamente, na entrevista reservada podem ser feitas perguntas de caráter pessoal. Nunca vi problema nisso, mesmo quando levei bomba no oral. Isso ocorre em diversos concursos, inclusive no Instituto do Rio Branco.

        Quem é reprovado fica naturalmente revoltado, mas não se pode desistir. Conheço candidato que passou na 16ª tentativa.

        Boa sorte. A magistratura, apesar da falta de reconhecimento da sociedade e do outros Poderes, é maravilhosa porque proporciona uma satisfação interior e uma sensação de realização muito grande.

    2. Bom, percebe-se que, apesar do seu rosário de reclamações, você é satisfeito com o cargo. Isso é muito bom.

      Veja só: posso até imaginar a existência de uma entrevista, desde que, pelo menos, conste do edital (o que não é o caso). Porém, não vejo razão para essa entrevista ser eliminatória (declarada ou veladamente), já que o Brasil optou por um modelo de concurso baseado no mérito formal do candidato (notas em avaliações objetivas, ou objetivamente avaliáveis) – com todas as consequências, boas e ruins, que esse modelo acarreta.

      Acrescento que, no caso do TJ-SP, infelizmente, é um festival de escândalos, um atrás do outro. Primeiro a absurda renitência de se submeter ao CNJ; mais recentemente, os pagamentos milionários, feitos sem critério objetivo algum (nem vou entrar no mérito do cabimento); e, agora, abre-se um concurso para 193 vagas (como deixaram chegar a esse nível de carência???), faz-se uma prova objetiva porca (não tem outro nome, dadas as impressionantes nulidades, e nenhuma anulação), e se chega à oral com entrevistas secretas, eliminatórias, ilegais e injustificáveis. E olhe que que nem cogitei de privilégios! Eu só falei de regras, regras claras, pré estabelecidas, justas, proporcionais e objetivamente aferíveis, dignas de uma república. “Só”.

      Também tenho muito orgulho da advocacia, profissão que abracei com vigor há 17 anos – apesar de todas as críticas, alguns justas, outras injustas, que recebe (entre as injustas, as aleivosias assacadas contra o Márcio Thomaz Bastos nos jornais de hoje).

      Quanto à magistratura, continuo achando que o problema não está “fora” dela, ou seja, na sociedade, nos políticos, ou seja lá em quem for. O problema é interno: falta de senso de eficiência, de método, de objetividade, de igualdade republicana, de respeito às pessoas (advogados e partes – falo de horários e tratamento), etc etc. Olhe aí como agiu a diretoria da AJUFE nos últimos anos! Olhe o que a AMB vive defendendo, inclusive perante o CNJ e o STF, com uma desfaçatez absurda! Ou seja, o que vem à tona, de negativo, é só reflexo, mais nada. Repito, é só reflexo do que acontece por dentro. E é apenas refletida uma pequena parte.

      Por fim, salvo em um único caso, recente (outro escândalo em um tribunal estadual), não fico revoltado com as “derrotas”. A vida de advogado me ensinou que a vida não é só feita de vitórias, nem só de derrotas. O importante é permanecer firme, fazer o certo, todo dia. O resultado é consequência (a não ser que, claro, tenhamos um TJ-SP ou um TJ-DF pela frente – aí, meu amigo, só com muita sorte).

      1. Que bom que você gosta de ser advogado. É uma profissão digna. Porém, a quantidade de trabalho do advogado é menor, porque o advogado pode escolher os casos que pega e dispensar os que por algum motivo não forem convenientes. Já o juiz é obrigado a julgar tudo que chega à sua mesa, não tendo escolha de “renunciar” casos. Assim, embora sejam profissões jurídicas, magistratura e advocacia têm muitas diferenças. Enquanto o juiz sofre inúmeras restrições em sua vida pública e privada, o advogado é praticamente livre para fazer o que bem entender. Na parte financeira, o advogado pode ficar milionário numa só causa, ao passo que o juiz sabe que não morrerá de fome se souber administrar bem seus côngruos rendimentos e fizer muita ginástica financeira.

    1. Emanuel,
      Falcone começou como promotor e depois tornou-se Juiz. Cansou de pedir e por isso quis ter poder de julgar o próximo. Quanto morreu, exercia a jurisdição.

      1. Pode ter certeza de que aqui no Brasil existem juízes tão bons quanto Falcone, que diariamente labutam até as últimas forças para distribuir justiça. Não terá muito esforço para achar algum, pois felizmente os bons juízes são a imensa maioria no Brasil.

      2. O que estava em questão era a magistratura italiana, não a brasileira. Se você diz que ele cansou de pedir, é plenamente possível inferir que cansou porque suas teses não foram acolhidas por juízes, juízes esses que adotavam uma postura bem diversa da que ele próprio passou a adotar quando vestiu a toga. Essa é uma interpretação plenamente possível a partir do seu próprio comentário. Repita-se que nem estava em debate a qualidade da magistratura brasileira e não entendi porque foi necessária essa lembrança, completamente fora de contexto.

  3. QUADRA JUDICIÁRIA

    http://judexquovadis.blogspot.com.br/2012/05/quadra-judiciaria.html

    1-
    Os ministros do Supremo Tribunal Federal decidiram pela publicidade dos dados financeiros de magistrados e servidores, mas não falaram nada sobre a divulgação de viagens custeadas pela Corte Maior e sobre suas rendas extraordinárias, muito menos sobre os eventuais – ou quem sabe rotineiros – “bicos”, se é que para alguns o “bico” não é a magistratura. Aliás, o valor da passagem de Brasília a Berlim deve ser bem mais cara do que o trecho de Brasília a São Bernardo do Campo, incluindo o “busão” de Guarulhos ao fim da linha, e a LOMAN não prevê o pagamento de auxílio-turismo – A TRANSPARÊNCIA É CINZA?

    2-
    Na obra do escritor norte-americano JohnstonMcCulley o sargento Garcia vivia perseguindo o Zorro por ordem do Capitão Ramon, um tirano contrao qual se insurgiu o aristocrata Dom Diego de La Vega? –INFÂNCIA PERDIDA OU REVELAÇÃO DO INCONSCIENTE?

    3-
    O Judiciário foi concebido como Poder e não mero órgão, e diante da seriedade da função, principalmente por decidirem os magistrados sobre valores caros a sociedade, desde a guarda de filhos até a liberdade de cidadãos, espera-se que sejam atraídos à magistratura os melhores, e não os medíocres – O TIBET É AQUI OU É BULLYING MESMO?

    4-
    A ministra Eliana Calmon se notabilizou por atacar severa e generalizadamente a magistratura, e teve por aliado no Legislativo o senador Demóstenes Torres; o ministro Gilmar Mendes, que apoiou a ministra Eliana Calmon em seus ataques contra a magistraturae também parece ter relações próximas com o senador Demóstenes Torres (basta lembrar o episódio das escutas da Polícia Federal e o caso do “pulinho” a Berlim, arrotado pelo ex-presidente Lula), agorapropôs Súmula Vinculante para cortar benefícios da magistratura – ÓDIOS UNIVITELINOS?

    Pensar não dói, e perguntar não ofende!

    Tribúrcio Alcântara Tupinambá

  4. George,

    Por falar em morte do juiz italiano, lembro que nossos juízes brasileiros estão morrendo cada vez mais cedo, cedo demais. Quando não morrem assassinados em razão do cargo que ocupam, morrem pelo envelhecimento precoce, causado pelo desumano excesso de trabalho a que são submetidos, sempre espreitados por metas, pautas e planilhas não raro inatingíveis, como se a missão de julgar fosse uma linha de produção alcancável de modo robotizado.

    É que os juízes andam sempre com os nervos tensos, controlados no entanto pela finura e pela primorosa educação que lhe orna o caráter e o temperamento. O excesso de trabalho, a pouca ou nenhuma funcionalidade do ambiente em que exerce suas atividades, a côngrua remuneração que recebe, as frustração de uma situação financeira continuamente deficitária, a impossibilidade de fazer para sua família aquilo que ela merece ou no mínimo aquilo de que ela precisa, a quase ausência de vida social na permanente reclusão em que tem de viver.

    Todo esse complexo conjunto de circunstâncias faz do juiz um constante angustiado e é responsável por sua precária saúde. E abusando da sempre lembrada e bela expressão de Euclides da Cunha a respeito do sertanejo, poderia dizer-se que o juiz deve, antes de tudo, ser um forte. Forte de corpo e de alma, e forte de saber. Mas como será ele forte se não lhe resta nenhum tempo para exercícios físicos que fortalecem e conservam a saúde? A única ginástica que o juiz faz diariamente é a ginástica financeira…

    O juiz é humano e não máquina, já dizia Charles Chaplin em “O Último Discurso”. Aliás, ainda que o juiz fosse máquina, mereceria tratamento digno, pois até as máquinas necessitam de assistência constante, se se quiser que elas produzam e rendam.

    Lamentavelmente, enquanto os jogadores de futebol têm um tratamento de uma vigilância constante em relação à sua saúde, os juízes são lançados à sua própria sorte, pois parece que não importa para nossa sociedade um juiz sadio e saudável.

    A magistratura de um povo é o seu cartão-postal. Portanto, tratando-se de juízes, o Estado para fazer economia não deve olhar a despesa. Um tratamento funcional e remuneratório condigno para a magistratura não é despesa, mas é investimento em democracia.

    Hoje o juiz é quase um operário braçal, que trocou a toga pelo macacão fabril, pelo excesso monstruoso de serviços que lhe tocam na distribuição diária de feitos. Mas enquanto o metalúrgico é obrigado a fazer ginástica laboral durante sua jornada, o juiz passa o expediente todo preso à cadeira, acarretando problemas na coluna e na circulação das pernas, não tendo tempo sequer para esticar o esqueleto.

    A magistratura está sendo sacrificada, eu quase ia dizer crucificada, pela pletora de trabalho que lhe toca realizar diuturnamente. Infelizmente, chega-se ao ponto de dizer que ser juiz deve ser meio de vida, e não meio de morte como está acontecendo hoje.

    Nessa quadra que vivemos, o juiz se aposenta pelo limite de idade compulsória – pois se sair antes sofrerá grandes perdas no já minguado ordenado, comprometendo ainda mais o já combalido orçamento familiar, o que o força a ficar até a chamada aposentadoria expulsória -, e, quando se aposenta aos 70 anos, já deve ir pensando em seu funeral, porque está acabado fisicamente.

    Cérebro como limão espremido. Vistas cansadas de tanta leitura. Já mal se sustenta em suas pernas, pois praticamente não fez exercícios físicos porquanto integralmente absorvido pelo trabalho. Praticamente enceguecido, neurastênico. Numa palavra, impróprio para viver, exatamente quando deveria saborear as delícias e as doçuras da vida, depois de um longo e estafante exercício no seu cargo. Casando de corpo e alma, de tanto carregar em si as dores alheias, estampadas nas folhas dos autos.

    O juiz não tempo de viver quando está em atividade, mas também não tem como permitir-se viver depois de aposentado, porque exauridas suas forças. Aposenta-se para morrer logo em seguida. O juiz não vê os filhos crescerem. Conta-se que certo juiz passava tanto tempo no foro que um dia chegou em casa e deparou-se com seu filho já crescido gritando para a mãe que havia um estranho em casa. O filho não reconheceu seu próprio pai, porque não teve oportunidade de conviver com ele.

    Que se faça justiça para esse justiceiro injustiçado! Que se faça justiça àquele que viveu fazendo justiça aos outros!

    Forte abraço.

    1. Pelo visto, você é masoquista, ou então, de tanto passar fome com seus subsídios de magistrado, perdeu o senso.

      Saia dessa profissão, moço, vá trabalhar na construção civil ou no comércio.

      Nesses os lugares todos ganham muito bem (com exceção dos proprietários e engenheiros, que são injustiçados), convivem e veem seus filhos crescerem, se aposentam com ótimos ganhos e gozam a vida com saúde até pelo menos os 90 anos, para “saborear as delícias e doçuras da vida”.

      E, o melhor, não têm a cara de pau de dizer que trabalham muito e ganham pouco.

      P.S. George Marmelstein, depois você reclama que os juízes são incompreendidos pela sociedade. Imagine se 10% das pessoas tivessem acesso a esse comentário do “anônimo”, que ora replico – teríamos certamente uma convulsão social, com depredação de fóruns e linchamento de juízes em praça pública.

      1. Márcio, se continuarmos nessa trilha, em pouco tempo se confirmará o estado de coisas segundo o qual a magistratura deixou de ser o ápice das carreiras jurídicas para se tornar mero trampolim para as bancas de advocacia, dispostas a remunerar seus profissionais com um padrão compatível com o alto grau de suas responsabilidades, tal como ocorre com os executivos e detentores de cargo com expressivo poder decisório.

        E mais, as pessoas não entendem a insatisfação da magistratura, prevalecendo a falsa idéia no imáginário popular de que o juiz é um ser indiferente e arrogante, que ganha muito e trabalha pouco.

        Ao ver o juiz geralmente macambúzio e surumbático, logo associam à jactância. Ledo engano. Na verdade, o juiz fica assim de tanto carregar em si as dores alheias e também pelas contingências de uma vida continuamente deficitária.

        Mas olha, ninguém, só o juiz e sua família sabem que aquele homem, que vai envelhecendo antes do tempo à força de tanto meditar e trabalhar, é um encantador amigo, um exemplar chefe de família, e elegante conversador, mas tem de viver casmurro, ensimesmado, voltado para si mesmo, perdido num turbilhão de pensamentos, sempre apressado, envolto nas apertadas malhas do tempo, no tormento dos prazos. É que a máquina humana não pode parar, porque os prazos não esperam, nem permitem fácil explicação se acaso têm de ter excedidos.

  5. Outra coisa que esqueci: faça um levantamento e verá como está aumentando o número de suicídio de juízes. Num destes casos a magistrada jogou-se de sua sala no fórum. Ninguém quis saber o que ela tinha. Já estava acometida de depressão profunda, mas ninguém se importou. Ninguém aguenta tanta pressão, nem os juízes.

    O juiz recebe parcela da onipotência divina para poder julgar o próximo. Porém, aquele poder divino recai sobre um corpo frágil e humano, sem estrutura. O juiz deve julgar com justiça e rapidez. Deve cumprir metas. Preencher planilhas. Atender pronta e cortesmente partes, auxiliares da justiça e advogados. Tudo isso sempre com urbanidade. Sempre com um sorriso no rosto. E as representações infundadas, cada vez mais frequentes? E as notícias equivocadas nos jornais?

    Todos podem desabafar com o juiz. Todos despejam naquele ser humano as suas misérias. O juiz introjeta diariamente inúmeras coisas negativas. Mas quem se importa com os sentimentos do juiz, daquele ser humano que está atrás da toga?

    Chega-se ao ponto de o juiz ter vergonha de identificar-se no meio social como tal, pois poderá sofrer represálias. Afinal, ninguém sabe se é um “bandido de toga”. Os filhos, na escola, devem ter cautela ao identificarem-se como filhos de magistrado, pois do contrário serão vítimas de bulliyng. A mulher, com as amigas, cala-se, sob pena de sofrer injusto isolamento social.

    Penso que os casos de suicídio de magistrado só não são maiores por causa do respaldo familiar recebido pelo juiz. Sim, é a família do juiz, a mulher e os filhos, que dão sustentáculo àquele homem. É a mulher do juiz a grande sacrificada, a obscura heroína, anônima e solitária, na obra ingente e desconhecida de construir o nome do marido, auxiliar insubstituível não só pelo que faz de ajuda material, mas também pela interminável vigilância ao ambiente do lar, evitando incômodos e perturbações para que o marido possa produzir e prosperar.

    E as renúncias mudas, e os milagres de economia, e os despojamentos femininos de roupas, joias, passeios que faz a mulher do juiz para que seu marido possa ter os caros e necessários livros, seus cursos de aperfeiçoamento? Disso ninguém sabe. Somente o juiz-marido conhece, reconhece e agradece.

    Sem dúvida, os casos de suicídio de magistrado só não são maiores porque a maioria dos juízes tem um exército inteiro na sua retaguarda, para protege-lo entre conselhos e preces. Esse poderoso exército são a esposa e filhos.

    Enquanto o Estado claudica no fornecimento de escolta e segurança aos juízes, a família do magistrado não titubeia e, quando ele sai para sua faina diária, correm esposa e filhos para o pé da cama fazer orações por ele, por sua paz, por sua segurança, por seu êxito e pelo bom êxito de seu dia. E permanecem mulher e filhos na espera angustiosa de que o juiz retorne para a casa feliz e festivo, porque tudo lhe correu bem, segundo seu desejo.

    Pobre família. Pobre esposa. Pobres filhos. Já é noite quando avistam aquele homem de rosto amargurado, de voz cansada, de espírito abatido, carregando consigo as dores alheias e debaixo do braço um punhado de autos que lhe tomarão as poucas horas que seriam da família. Infelizmente, o juiz não tem saída a não ser fazer de seu lar uma sucursal do foro, pois é um torturado pelos prazos, pelo invencível volume de serviço ao qual não deu causa e pela consciência de seu dever.

    E porque é um torturado, tortura também sua família. Chega em casa, prepara-se para o simples jantar e, dentro em pouco, já está sumido novamente, no seu gabinete doméstico, nem sempre funcional, como uma ilha humana, cercado de autos e livros por todos os lados. E esposa que fale baixo, que os filhos não façam barulho, que a televisão (modelo antigo) diminua o volume, que as músicas e as brincadeiras, encanto dos filhos, ou cesse ou fiquem baixinhas, porque nada deve perturbar o juiz que trabalha.

    E aquele homem aparentemente distante, de pensamento mergulhado nos autos, está como isolado em meio à alegria da esposa e filhos. Visitar não visita, receber visitas não recebe, porque seu tempo é pouco para seu trabalho em casa, depois de um dia exaustivo passado no foro. A comunhão da família, o diálogo com a esposa e filhos, isso, de tanta importância, tem de ficar para outro dia, que nunca chega.

    A esposa e os filhos calam e recalcam para o fundo da alma o duro destino da família do juiz. Sem a resignação e o silêncio da esposa que nada reclama, que nada alega, que nada pede, além do côngruo e estritamente necessário, poucos poderiam levar a bom termo a sagrada missão de fazer justiça. Lá vem ele, cabisbaixo, justiceiro injustiçado pelas asperezas da vida de magistrado bom e zeloso, expedito e altivo. Quando deve ao juiz a essa abnegada esposa, pelas orações dessa mulher. Poucos saberão disso. Poucos saberão que é essa a verdadeira realidade. Muito livro caro e necessário que enriquece a biblioteca do marido corresponde a um vestido a menos no guarda-roupa da mulher, um perfume a menos no seu toucador e uma jóia a menos em seu colo. Heroína anônima, a grande desconhecida, é como deveria chamar-se a mulher do juiz, que, na solidão de dias e noites, vela pela vida profissional do mari

  6. Roberto Cruz, talvez fosse melhor mesmo esquecer o simbolismo de temos juízes-policiais.

    Eu não deveria me dirigir a um anônimo, mas o faço agora porque entendo importante destacar equívocos: (a) no Brasil não se matam, com frequência juízes; (b) policiais morrem com frequência.

    Por que devemos lembrar juízes e esquecer os inúmeros policiais que morrem? Será que, como na atinguidade, os juízes continuam deuses?

    Caro Márcio Bessa, já vi advogados morrerem como muitos outros profissionais liberais, ou seja, por discussões sobre valores ou por terem negligenciado em suas atividades profissionais. Ao contrário, policiais, em São Paulo e no Rio de Janeiro, são proibidos de portarem identidades funcionais quando estão de folga, isso devido ao risco de serem vítimas de latrocínio ou roubo seguido de homicídio.

    Finalmente, George, passei 3 anos em uma academia policial para exercer uma profissão que não podia proferir sentenças. Assim, pregunto: por que o Juiz deverá investigar crimes?

    Sou, há 16 anos Procurador Federal e, por não ser membro do Ministério Público ou do Poder Judiciário, não posso, respectivamente, denunciar ou decidir litígios, eis que toda atuação que for além da legalidade estrita será abuso e, portanto, ilícita.

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