Sempre gostei de citações. Às vezes, uma frase certeira vale mais do que muitas teses. Por isso, uso e abuso de “quotes” em meus textos. Basta ver o meu livro para perceber que quase todos os capítulos começam com alguma citação.
Algumas vezes, encontro umas citações brilhantes que ficam perdidas nas minhas anotações pessoais. Assim, aproveitando essa maré de marasmo aqui no blog, vou iniciar uma nova sessão, em que incluirei as citações que eu achar mais interessantes.
Para começar, uma que tem tudo a ver com o meu momento atual do doutoramento.
Dizem que a regra básica do doutorado é composta por três “is”: informação, interpretação e inovação. Hoje, com tanta informação disponível, é difícil sobrar tempo para interpretar (criticamente) e, mais difícil ainda, conseguir inovar. A inovação quase sempre é uma repetição de algo que já se disse no passado, geralmente de uma forma mais complicada e rebuscada.
Por isso, gostei da frase abaixo. Faz parte das “Coisas de Arthur”, para lembrar o adormecido “Jardim” do Raul Nepomuceno.
Ei-la:
“Em geral estudantes e estudiosos de todos os tipos e de qualquer idade tem em mira apenas a informação, não a instrução. Sua honra é baseada no fato de terem informações sobre tudo, sobre todas as pedras, ou plantas, ou batalhas, ou experiências, sobre o resumo e o conjunto de todos os livros. Não ocorre a eles que a informação é um mero meio para a instrução, tendo pouco ou nenhum valor por si mesma, no entanto é essa a maneira de pensar que caracteriza uma cabeça filosófica. Diante da imponente erudição de tais sabichões, às vezes digo para mim mesmo: Ah, essa pessoa deve ter pensando muito pouco para poder ter lido tanto!”
Arthur Schopenhauer – A Arte de Escrever
George,
um bom texto do Schopenhauer é “do pensar por si”. Aborda o tema dos que leem demais, mas pensam pouco.
“Ler e aprender são coisas que qualquer indivíduo pode fazer por seu próprio livre-arbítrio – mas pensar não. O pensar deve ser incitado como o fogo pelo vento; deve ser sustentado por algum interesse no assunto em questão. Esse interesse pode ser puramente objetivo ou meramente subjetivo. O último existe em questões que nos dizem respeito pessoalmente. O interesse objetivo encontra-se somente nas cabeças que pensam por natureza, para as quais pensar é tão natural quanto respirar – mas são muito raras; por isso há tão pouco dele na maioria dos homens do conhecimento.”
Olha, de fato estudar (ler, pragmaticamente) não é a única porta do saber. Basta lembrar das culturas primitivas que ainda não tinham escrita, mas que detinham sistemas de aprendizado diversos, como os provérbios, o compartilhamento de experiências, métodos de caça, simbolos e etc.
O pior é saber que, hoje, a cultura da informação não nos deixa pensar, o processamento de informações é tão rápido que nossa sensibilidade não é suficiente. A diferença está naqueles cujo pensar ainda encontra tempo em meio esta balbúrdia contemporânea.
Aliás, pensar não está na moda, sobretudo na seara do direito. Formam-se as gerações de “operadores” do direito, como se este fosse uma máquina com o botão “artigo tal da lei tal”.
Abraços a todos.
Em suas origem as faculdades de direito formavam poetas, políticos e quadros para o Estado, ainda que conservadores.
Atualmente se resumem a preparação para os concursos públicos, uma boa capacidade de memória já é suficiente na maioria dos casos para aprovação.
Algumas exceções ainda conseguem ver além e conceber sua atuação pós-concurso num espectro reflexivo, mas, lamentavelmente, são exceções. O texto do Carlos está coberto de razões.
Samuel .
Ha uma desvalorizacao do conhecimento baseado na intuicao, na experiencia.
Acho que isso deveria ser repensando: afinal, o ex-ministro Jobim, que deve ter lido mais de mil livros, eh comandado pelo Lula.
Como estudante de direito sinto que não se estimula mais o pensamento. Ter noção de justiça é primordial antes de ter de cor todos os preceitos normativos na memória.