Holocausto no seu prato?

Esse é daqueles casos que funde a cabeça de qualquer um. Pegue todas as grandes polêmicas da teoria dos direitos fundamentais e jogue tudo num só processo. Vai resultar no caso abaixo. Envolve eficácia horizontal, liberdade de expressão em comerciais, direito dos animais, dignidade humana, direito à memória… Enfim, uma salada digna de uma análise mais profunda (quem sabe?).

O caso, em síntese, foi o seguinte: uma organização de proteção aos animais, a PETA (People for the Ethical Treatment of Animal), fez uma campanha publicitária bastante de mau-gosto, comparando a matança de animais para alimentação dos dias de hoje com o holocausto judeu. No google image, é possível encontrar alguns banners da propaganda: aqui, aqui e aqui. Detalhes sobre a campanha podem ser lidos aqui ou aqui.

Houve ação judicial, proposta pelo Conselho Central dos Judeus na Alemanha,  pedindo a proibição da referida campanha publicitária na Alemanha. A PETA perdeu nas instância originárias e recorreu para a Corte Constitucional alemã.

A decisão, proferida ontem pela Corte Constitucional alemã, foi no sentido da proibição da propaganda. Argumentou-se que houve violação à dignidade dos judeus que, no caso concreto, deveria prevalecer. (A decisão, em alemão, pode ser lida aqui).

E aí? O que acham?

Eis a notícia:

Berlim, 26 mar (EFE).- O Tribunal Constitucional alemão proibiu a veiculação de uma campanha publicitária da organização de proteção dos animais Peta que compara as condições da criação extensiva de gado com as das vítimas do Holocausto nos campos de concentração nazistas.

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A sentença divulgada hoje proíbe a Peta de continuar com a campanha iniciada em 2004 com o slogan “O Holocausto em seu prato”, na qual comparava imagens de prisioneiros de campos de concentração nazistas vivos e mortos com as de animais enjaulados ou acorrentados em estábulos. Desta forma, o tribunal ratifica uma sentença anterior de uma corte da cidade de Berlim após um processo apresentado pelo Conselho Central dos Judeus na Alemanha e contra o qual a Peta tinha apelado. Embora considerem que a campanha não atenta contra a dignidade humana, os magistrados do Tribunal Constitucional alemão confirmam em sua sentença que os anúncios violam os direitos de personalidade e imagem dos judeus na Alemanha. Segundo os juízes do tribunal, de forma similar à negação do Holocausto, crime tipificado na Alemanha, a campanha da Peta “representa um grave atentado também contra a personalidade dos judeus de hoje”. EFE

Fonte: http://br.noticias.yahoo.com/s/26032009/40/mundo-proibida-campanha-publicitaria-compara-vitimas.html

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55 comentários em “Holocausto no seu prato?”

  1. Ai ai ai… Pensei mil vezes antes de postar esse comentário. Decidi fazê-lo.

    Lá vai…

    Em primeiro lugar quero dizer que, na minha opinião, esse pessoal do PETA e outros ambientalistas fundamentalistas são uns chatos de galocha!!! Vivem abraçandos as focas, chorando pelas baleias, marchando pelas chinchilas, fazendo cartazes pelos texugos e lamentando o sacrifício de raposas douradas; para eles parece que tudo o mais é menos relevante.

    Se eu fosse viver de acordo com esse pessoal (os chatos), não poderia tomar banho de água quente, meu banho não poderia passar de 5 minutos – tendo que desligar o chuveiro de quando em quando -, não poderia me limpar com papel higiênico de folha dupla (de folha única é um caso a se pensar, mas provavelmente não), não poderia consumir a carne industrializada em larga escala de nenhum animal (nem galinha, nem peixe), não poderia usar sacolas de super-mercado de plástico, não poderia usar ar-condicionado, não poderia lavar o carro com água do sistema de abastecimento comum, teria que andar a pé ou de bicicleta para todo lugar, não poderia sequer emitir gases flatulentos em paz, sem sentir peso na consciência. Certamente há muito mais coisa que eu não poderia fazer, se quisesse ser uma pessoa consciente e ecologicamente responsável. Não lembraria nem de um terço.

    Sei que alguns vão dizer que eu sou um ignorante e que não estou nem aí para a preservação do ambiente, que sou um imbecilizado egoísta ou algo do tipo. Isso nem é verdade; aceito muitos dos argumentos pró-sustentabilidade e acho que a humanidade vai ter, sim, que repensar muita coisa. Há muita coisa bastante razoável, na minha opinião. Sou contra os chatos, que adoram desviar a atenção para coisas de menor relevância – em termos de preservação do ambiente. Não acho que o fato de as pessoas comerem carne de boi ou de frango industrializada, ou de usarem um sapato com couro animal ou coisas do tipo sejam relevantes, exceto na hipótese de o animal utilizado para a industrialização desses produtos estiver correndo risco de extinção.

    NO ENTANTO… (sim, há um “no entanto”) entendo que a chatice dos ecochatos e a sua ideologia são juridicamente protegidas pela liberdade de expressão, inclusive em anúncios publicitários. E, em regra, eu não vejo problema (jurídico) nos anúncios da PETA, embora normalmente os considere ridículos.

    O problema desse caso é a utilização de imagens de pessoas sofrendo abusos a seus direitos fundamentais, e nesse ponto, na minha opinião, o anúncio ultrapassa o limite do razoável. Não estou nem avaliando a comparação feita pelos idealizadores do anúncio (pessoas massacradas X animais massacrados), mas apenas concordando com o tribunal alemão no que se refere aos direitos de personalidade e de imagem, sem contar o ultraje aos judeus eventualmente não-ecochatos (em especial os judeus eventualmente não-ecochatos descendentes dos que aparecem no anúncio publicitário).

    É isso. Concordo com a decisão.

    Que venham as pedradas.

    Raul Nepomuceno.

  2. Raul,

    então, na sua ótica, a propaganda poderia ser veiculada caso não fossem usadas fotografias? Se não houvesse fotos, poderia ser veiculada a propaganda? Se fossem desenhos com personagens fictícios, “simulando” as fotos do holocausto, também estaria ok?

    Só quero compreender melhor a sua posição para refutar ou concordar com mais elementos.

    George

  3. Deu uma lida na decisão (via google tradutor) e percebi que, realmente, o ponto nodal do julgamento foi a violação da dignidade dos judeus em virtude da comparação entre o holocausto judeu e a matança de animais. Aparentemente, pelo que pude ver, as fotografias foram um aspecto importante, mas a mera comparação já teria um viés degradante. Assim, a limitação da liberdade de expressão foi considerada com justificada.

    Comento a decisão depois de ouvir os comentários.

    George

  4. George,

    Na minha opinião, a utilização de fotografias degradantes de pessoas sofrendo absusos a direitos fundamentais apenas torna a decisão menos difícil. Eu também mencionei, embora com muito menor ênfase, o ultraje a “judeus eventualmente não-ecochatos” como um problema jurídico nesse anúncio especificamente.

    Mas, hipoteticamente falando, se o anúncio publicitário não contivesse fotografias ou contivesse apenas ilustrações que tentassem estabelecer uma comparação entre o massacre dos judeus e o massacre dos animais, acho que seria bem mais difícil encontrar fundamentos para proibir o anúncio, embora eu reconheça como degradante a comparação. Eu precisaria refletir muito e pesquisar muito para chegar a uma conclusão. Intuitivamente, acho que não deveria ser proibido o anúncio.

    NO ENTANTO… (de novo!), há nesse caso um fator muito importante que não pode ser desconsiderado. Essa decisão é de uma corte alemã e ela representa (acredito eu) o sentimento dos alemães em geral (falo especificamente dos alemães não-ecochatos) quanto ao significado e a seriedade do holocausto. Meu horizonte hermenêutico é muito diferente e não me permite fazer uma análise sequer aproximada do sentimento alemão em relação a esse episódio. Eu não sei (nem posso saber) qual a sensação de fazer parte de um país cuja história é manchada por uma aberração desse tipo. Talvez por isso esse assunto seja tão delicado para eles, em especial. Não sei, é só uma especculação. Mas se fosse em outro país qualquer (situação hipotética 2), o anúncio sem fotografias ou com ilustrações (situação hipotética 1) não deveria ser proibido.

    Assim penso.

    Raul.

  5. “(…) o sentimento dos alemães em geral (falo especificamente dos alemães não-ecochatos)” ficou horrível.

    Melhor seria “o sentimento dos alemães em geral”, já que os ecochatos são minoria.

  6. George,

    Acredito que o ponto principal desta questão é a falta de uma conduta ética e responsável por parte do PETA e até que ponto defender uma causa significa utilizar-se dos argumentos mais sórdidos e mesquinhos para conseguir o que se quer ( isso não é novidade). Além do mais, só demonstra a sua incoerência e inconsitência no que tange aos princípios que os norteiam. O(s) movimento(s) em favor do direito dos animais e do meio ambiente baseiam-se na defesa da vida e no respeito à dignidade destes como elementos morais e éticos. Além do mais, ao questionar o nosso jeito de viver, pressupôe-se a defesa de um outro mundo e que novas relações do homem com o planeta sejam (re)belecidas.
    No caso em questão, o Peta joga tudo o que prega no lixo, uma vez que, para denunciar/alertar acerca da matança dos animais faz uma comparação absurda, insensível e desumana. Eu acho até completamente equivocada e descontextualizada. Defende-se uma coisa e aplica-se outra. Ao mesmo tempo em que “defende” os animais, desumaniza e ignora os direitos humanos. Além do mais, fica claro para mim que há uma espécie de oposição entre o BEM x MAL neste caso. A humanidade seria a encarnação da maldade e com isso há a “banalização do holocausto”, enquanto que eles são os defensores do BEM. Prega-se o respeito aos animais. E em relação à humanidade? a ética é seletiva?

  7. O sentido do princípio da liberdade de expressão tem sido bastante banalizado e pior, desvirtuado, de acordo com os interesses que estão em jogo. Além do mais, em nome dele são praticados absurdos dos mais diversos, desde ofensas e difamações até crimes mais graves. Por isso deve haver um controle.

    Se a propaganda era para ser polêmica, atingiu seu objetivo… Só que foi num nível tão baixo e grosseiro que acho que o PETA deu um “tiro no pé”, se queimou e conseguiu a antipatia de muita gente (inclusive eu).

    Sobre os eco-chatos…isso já é uma outra discussão :)

    Já escrevi demais.

    obs: George, gosto muito do seu blog e sempre que posso dou uma passadinha por aqui…só que nunca participei, pois tenho as minhas restrições em relação aos comentários que deixam em blogs.

    Hj mudei de idéia e resolvi participar :)

  8. Oi, Fernanda.

    Eu sei que você se reportou ao George no seu comentário, mas eu gostaria de fazer uma observação em relação ao que você disse.

    Pelo que entendi, você disse que é uma incoerência da PETA defender o respeito aos animais como elemento ético fazendo essa comparação com o holocausto. Disse também que eles defendem os animais por um lado, mas desumanizam e ignoram os direitos humanos por outro.

    Mas Fernanda, tente pensar como eles pensam (ou dizem pensar). Eles não estão querendo exaltar o holocausto, mas, ao contrário, querem mostrar que o horror que as pessoas sentem em relação ao holocausto deveriam sentir também em relação ao maltrato de animais. Essa é a idéia.

    Ademais, eles não são contra os homens, mas apenas contra os homens não-ecochatos. Apenas o homem não-ecochato é desprezível para eles porque o homem não-ecochato sente horror em relação ao holocausto (e deveria sentir mesmo, na visão deles), mas não sente nenhum horror em relação à matança de animais (e deveria sentir também, na visão deles).

    Desculpe me intrometer. Apenas quis contribuir para a discussão.

    Raul.

  9. O assunto do holocausto na Alemanha é muito delicado, tanto para judeus quanto para alemães. Enquanto estes se culpam até hoje pelo ocorrido, muitos daqueles(judeus) perderam a fé em sua religião por um raciocínio lógico”como Deus permitiu isso?”
    Mas este é um outro assunto, pois bem, a questão é que, como ja disseram outros, a razoabilidade é ultrapassada pela PETA, pois há uma desnecessária e exagerada lembrança de um dos piores momentos da historia da humanidade para se fazer comparação a uma industria de alimentação de origem animal.
    Minha opinião pessoal é de que não da pra fazer esse tipo de comparação. É desrespeitosa, um não-judeu não tem como mensurar o quanto isso pode ou não ser ofensivo. Ainda mais nesse caso, onde uma interpretaçao mais errada ainda pode resultar na conclusão de que estao comparando judeus a animais. Enfim, mesmo sem as imagens, a comparação me parce desmedida e descabida.
    Penso, portanto, que agiu com acerto a corte alemã

  10. Ao meu ver, a PETA não quis comparar judeus a animais, mas quis comparar animais a seres humanos. Não quis diminuir os judeus, quis aumentar os animais. Essa é a idologia defendida por eles.

    A idéia não é, nem de longe, ofender os judeus. A idéia é mostrar a necessidade de sentir horror TAMBÉM em relação ao massacre de animais. Não concordo com isso, mas penso que esssa ideologia é protegida pelo direito à liberdade de expressão.

    O uso da imagem de pessoas apenas torna a decisão menos difícil, na minha opinião.

    Quanto à hipótese de não ter imagem de nenhuma pessoa, ainda não sei. É muito difícil. Intuitivamente, continuo achando que, nesta hipótese, deveria ser permitida a campanha publicitária. Mas posso estar errado, sempre. : )

  11. Ao meu ver, a PETA não quis comparar judeus a animais, mas quis comparar animais a seres humanos. Não quis diminuir os judeus, quis aumentar os animais. Essa é a idologia defendida por eles.

    A idéia não é, nem de longe, ofender os judeus. A idéia é mostrar a necessidade de sentir horror TAMBÉM em relação ao massacre de animais. Não concordo com isso, mas penso que esssa ideologia é protegida pelo direito à liberdade de expressão.

    O uso da imagem de pessoas apenas torna a decisão menos difícil, na minha opinião.

    Quanto à hipótese de não ter imagem de nenhuma pessoa, ainda não sei. É muito difícil. Intuitivamente, continuo achando que, nesta hipótese, deveria ser permitida a campanha publicitária. Mas posso estar errado, sempre. : )

    Raul.

  12. Oi, Raul.

    Não há intromissão alguma, pois o objetivo é justamente discutir. Eu que tenho que lhe pedir desculpas pela restrição :)

    Concordo quando diz que a intenção deles não era exaltar o Holocausto e sim, como vc mesmo diz ” querem mostrar que o horror que as pessoas sentem em relação ao holocausto deveriam sentir também em relação ao maltrato de animais. Essa é a idéia.” Não tive intenção de dizer que eles estavam exaltando o holocausto, até pq entendi a referência que eles fizeram. O meu questionamento é que essa comparação, ainda que ingenua e com boas intenções, não leva em consideração que são contextos diferentes e pior, não possui sensibilidade e respeito para tratar a questão com dignidade. Eles sabem quanta dor e sofrimento o Holocausto provocou e provoca. No fundo, o que eu quis dizer é que a atitude deles é algo muito revelador. Acho uma comparação por demais rasa e simplista, feita mais para criar polêmica do que propriamente trazer algum tipo reflexão.

    O fato de eles serem contra os eco-chatos e não contra a humanidade já não é bastante pertubador? Já não mostra a intolerãncia, o desrespeito aos valores éticos e morais que tanto pregam? A ética serve para uns e não para outros? que parâmetro é este? Vale a pena chamar a atenção para um problema desconsiderando outras questões?

    Quando faço referência a liberdade de expressão, quis dizer que eles se utilizam do mesmo mecanismo de desvirtuar o sentido da expressão. Acho que eles tinham maneiras de chamar a atenção para causa, inclusive fazendo a comparação…o problema é o modo como ela foi feita.

  13. aliás, a comparação poderia ser feita indiretamente, dando destaque para o sentimento de horror …sinceramente não sei….de qualquer modo, poderia pelo menos ter tido outro enfoque.

  14. Discussão interessante. Como não tenho tanta bagagem, prefiro apenas acompanhar. :)

    Mas eu queria acrescentar o seguinte.

    Eu acho que todo mundo aqui concorda que a divulgação das imagens, se em desacordo com os parâmetros legais, deve ser censurada. E, por outro lado, todos ou quase todos devem concordar também que a comparação entre seres humanos e animais é um tanto absurda.

    Mas a pergunta feita por George permanece no ar: e se a divulgação tivesse sido feita sem as imagens ou com desenhos, pinturas etc.?

    Além disso, censurá-los simplesmente porque a comparação entre seres humanos e animais é absurda não seria violar o direito à liberdade de manifestação do pensamento deles? Pouco importa que não concordemos com eles (eu mesmo não concordo). Será que eles não têm o direito de dizer: “pessoal, o que vocês fazem com os animais é tão grave quanto o que os nazistas fizeram com os judeus”? Que mal há, do ponto de vista jurídico, em dizer isso?

    Na minha humilde opinião, eu acho que, salvo a questão das imagens indevidamente divulgadas, o único ponto que justifica a decisão é o local: a Alemanha. Afinal foi lá onde tudo aconteceu e os alemães não têm qualquer orgulho disso.

  15. Fernanda,

    Não se preocupe quando à sua “restrição”. Eu mesmo tenho essa mesma restrição, e não apenas quanto a alguns comentadores de blogs por aí, mas também quanto a mim mesmo, de vez em quando.

    Pelo visto parece que concordamos em algumas coisas relevantes, especialmente que o método de divulgação ideológica da PETA é rasteiro, vil e sensacionalista.

    Um abraço,

    Raul.

  16. Concordo com você Marcelo, simplesmente estão defendendo suas ideias, (acredito eu) que as pessoas não conseguem engolir esse pensamento que os animais merecem mais dignidade, e preferem abafar o assunto como sendo algo absurdo comparar os animais com os seres humanos, pois observando por um ponto de vista mais “romântico”, talvez seja sim maldade comer os animais, certamente muitas pessoas odiariam que uma pessoa aqui no Brasil, inaugurasse uma churrascaria com carne de cachorro (porém carne de gado, essa pode). Existe uma desigualdade em nossos pensamentos em relação aos animais.
    Confesso que minha mente não evoluiu a esse estagio, odiaria não degustar a Moqueca de peixe da minha Mãe ou a feijoada “arretada” da minha Vó, penso do mesmo modo de Raul, que se formos viver de acordo como esses “Chatos” não poderíamos fazer quase nada nesse mundo (nem mesmo andar de bicicleta Raul, pois ao andarmos de bicicleta, nossa frequência respiratória aumenta, e com isso precisaremos de mais oxigénio, e em seguida eliminaremos mais gás carbónico (o gás do mal)… Viajei!!) porém, penso dessa forma, talvez esteja errado (como na maioria das vezes estou), mas já fui de encontro com outras atitudes da PETA em blogs somente sobre ciência, e pelo que pude ver, sempre desenvolvendo suas ideologias com argumentos insignificantes, mas dessa vez parece que “conseguiram” causar polemica, e acho também, que a Corte Constitucional Alemã, não deveria abafar o assunto, as imagens do Holocausto não são apenas direitos dos Judeus, e sim de toda a humanidade, certamente esse assunto por lá, causa muito constrangimento na população, que prefere tentar esquecer, em vez de reflectir um pouco mais, e esse constrangimento pode ate ter sido a causa maior na censura da propaganda (juntamente com a exibição das imagens), pois eu odiaria se um dia, alguma propaganda viesse a ser censurada aqui no Brasil, pq alguém divulgou imagens de abusos de policiais, com o mesmo comportamento de militares na ditadura, ou uma analogia do Aparthaid na Africa do Sul, com os Aparthaid social que vivemos hoje no Brasil.

    Deixem eles falarem, pois não estão usando mentiras que desrespeitem outrem, e simplesmente fatos como modo de reflexão, pois quando vejo algo sobre a escravidão aqui no Brasil, me da orgulho de saber que “fugimos da jaula” e estamos aqui hoje, discutindo sobre nossos direitos.

    abraço

  17. Oi, Raul.

    Gostaria de fazer uma colocação aqui,então peço licença para da minha opnião a um dos comentários que você fez.

    Concordo até certo ponto quando vc disse que a intenção do PETA não era comparar os judeus aos animais, mas sim os seres humanos aos animais, só que devemos olhar também o lado da sociedade alemã e o que vem a cabeça deles quando escutam a palavra holocausto, já que há todo um contexto histórico e sabemos que os judeus não eram considerados seres humanos, não tinha dignidade humana, enfim não eram considerados pessoas e essa concepção só veio a ser mudada com a Declaração dos Direitos Humanos que no entanto trouxe muitas inovações, mas não conseguiu apagar os horrores deixados pelo holocausto, então quando o PETA quis se referir a seres humanos e ao mesmo tempo se refere a uma época histórica onde as vítimas não eram “considerados” seres humanos,há um grande equívoco nessa intenção deles( na minha opnião),já que eles procuraram com essa intenção somente se beneficiar, atingindo o direitos da dignidade humana dos outros.
    Enfim, acho que eles tinham o direito de liberdade de expressão, mas que perderam quando atingiram através desse direito o direito da dignidade humana das vítimas do holocausto.

    Concordo com a decisão da Corte Constitucional Alemã.

  18. Olá, eu não sou ativista da ONG PETA nem membro do Greenpeace, ou qualquer outra organização em defesa dos animais e do meio ambiente. Pra dizer a verdade, não conheço ninguém que o seja. Sou advogado e aspirante ao cargo de juiz federal assim como o dono deste blog, o Dr. George Marmelstein Lima. Acompanho este espaço a pelo menos seis semanas e tenho achado os temas aqui abordados brilhantes, sempre trazendo à baila objetos de discussão que são atuais no mundo todo, fazendo com que pensemos nosso direito com os olhos de quem consegue ver um pouco mais de cima. Gostaria de aproveitar o ensejo para parabenizar o Dr. Marmelstein pela brilhante iniciativa. Nunca postei para colocar em pauta minha opinião, mas defronte a essa discussão não tive como refutar essa tarefa de colocar meu ponto de vista a quem quiser lê-lo.

    Primeiramente, gostaria de comentar algumas partes da posição defendida pelo colega Raul Nepomuceno. Espero que entenda que não faço isso com escopo de te contrariar ou de estar com a razão, mas anseio conseguir focar de uma maneira diferente a situação abordada. O primeiro comentário seu que gostaria de abordar é o seguinte:

    “Sou contra os chatos, que adoram desviar a atenção para coisas de menor relevância – em termos de preservação do ambiente. Não acho que o fato de as pessoas comerem carne de boi ou de frango industrializada, ou de usarem um sapato com couro animal ou coisas do tipo sejam relevantes (…)”

    Se não fossem esses “chatos”, pessoas que lutam pelo direito de alguém incapaz de lutar pelo seu próprio, talvez nós não tivéssemos conseguido abolir a escravidão até os dias de hoje. Observem que, na época em que ter escravos não era ilegal, eles eram considerados coisas, objetos comercializáveis (como fazemos hoje com os burros que são bens semoventes que puxam cargas em charretes). Tenho certeza absoluta de que quando começaram a ser discutidos os direitos dos escravos, muitas pessoas (que não eram escravas – óbvio!) acharam isso algo irrelevante, algo de menor importância, afinal os escravos eram coisas e não pessoas.

    Nesse triste período em questão, a segregação se dava em razão da cor da pele. Foi necessário muito tempo, muita luta e muito sofrimento para que a consciência coletiva se alertasse para o mal que estava sendo imposto aos negros. Com a mudança da consciência coletiva, o próximo passo era a criação de leis que se adequassem a elas. Decretando-se, portanto, o fim de um período que deixou marcas profundas até os dias atuais.

    Pode-se observar que, não é porque a lei permite algo, que isso é correto, probo e louvável. A história nos mostrou que a lei sempre está do lado dos que possuem interesses mais fortes, e que a consciência do povo pode mudá-la, mas que isso também leva muito tempo e depende de muita persistência e atuações extremadas, já que sabemos que quem pensa diferente tende a ter seus ideais considerados polêmicos e irrelevantes.

    Acredito que o debate aqui travado não é jurídico, mas sim histórico. Chegamos a um ponto onde temos muitas pessoas conscientes de que um animal não é menos que um homem só porque ele não é da nossa espécie, e isso tem travado inúmeras discussões e protestos. A meu ver, fazer o que fazemos com os animais só tem uma razão de ser: o especismo, ou seja, a aceitação do fato de que por sermos homens, somos superiores e podemos fazer o que quisermos com os animais que não são inteligentes como nós ou que não sabem se defender, as aí teríamos um outro problema, porque se assim fosse, poderíamos tratar os deficientes mentais e as crianças como animais (já que eles não conseguem se defender e não são tão espertos como a gente)?

    O que é especismo? É uma discriminação fundada na espécie, a favor dos humanos. Ela está para a espécie do mesmo modo que o sexismo está para o sexo e que o racismo está para a raça.

    Embora necessária, a argumentação racional a respeito do especismo tem um certo travo frustrante. Afinal, os nossos adversários não se preocupam muito em procurar argumentos sólidos; e pouco se preocupam em examinar os nossos. Para eles, o especismo dispensa justificativas racionais. Veja-se: «Por quê você acha que o sofrimento das galinhas em gaiolas é um assunto secundário… A única resposta: Porque sim». O caráter evidente do especismo, o fato de que a imensa maioria dos seres humanos estão do lado dos opressores, é o obstáculo principal que o anti-especista enfrenta.

    Trata-se, mais uma vez, de estar do lado daqueles que são desprezados e oprimidos – sabendo que o desprezo respinga sobre quem os defende. Houve um tempo em que o branco defensor de «negros» podia ser tratado como um «negro». É relativamente fácil hoje em dia ser anti-racista ou anti-sexista na França, pelo menos na opinião; nem sempre foi assim. Hoje, pelo menos na esquerda, é o anti-racismo e o anti-sexismo que ficaram evidentes, quase lugares-comuns que se passam por argumentos. A nova direita ficou com o belo papel, diante de um anti-racismo que à pergunta «Por quê?» respondia «Porque sim», de, por contraste, parecer gente que pensa.

    No entanto, em nível mundial e no decorrer da história, é o racismo e não o anti-racismo que, assim como o especismo e o sexismo, é e sempre foi o pensamento dominante. A opressão e os massacres inter-étnicos são comuns na história passada e presentes na história de quase todos os seres humanos. Se muita gente hoje pode parecer que faz parte do campo anti-racista, é, antes de mais nada porque se opõem ao racismo dominante, o da cultura ocidental, que apaga as suas diferenças e a sua cultura no que ela tem de melhor e também de pior. Sabemos muito bem que a cultura kanake é, no conjunto, sexista, mas psiu! isso não deve ser dito. É preciso «respeitar a cultura como ela é». Não dizer nada é respeitar as pessoas?
    Diante da imensa predominância do racismo, do sexismo e do especismo, não temos de nos contentar em nos escandalizar e nos referir às «evidências», mas sim refletir e argumentar, sem medo de estar do lado dos «negros», das mulheres ou dos cachorros.

    O que são animais? A linguagem não é neutra e a nossa língua comum chama de «animais» todos os animais exceto os seres humanos, pondo assim uma barreira entre seres tão próximos quanto um homem e um gorila, e colocando no mesmo saco um gorila e uma ostra. De acordo com o uso científico, amplamente justificado, chamarei de «animais» todos os animais, humanos ou não, e de «animais não humanos» os que não tiveram a honra de ser «bem nascidos».

    “Sustento que não pode haver nenhuma razão — com exceção do desejo egoísta de preservar os privilégios do grupo explorador — de evitarmos estender o princípio fundamental da igualdade de consideração dos interesses aos membros de outras espécies.”
    Peter Singer, Animal Liberation, 19751

    É preciso ser anti-especista? Bem, é preciso ser anti-racista? É evidente que sim? Não é evidente para todo mundo; e não parece que todos os anti-racistas sejam anti-racistas pela mesma razão. A minha posição é que o anti-racismo não se justifica porque (quase) todos os seres humanos sejam igualmente inteligentes, nem porque tenham linguagem articulada, nem porque sejam sociais etc.; o anti-racismo e o anti-especismo se justificam porque um ser senciente e oprimido sofre e que o sofrimento e o bem-estar de todos os seres sencientes, ou seja, suscetíveis de sofrer ou de serem felizes, têm a mesma importância e devem, conseqüentemente, ser levados em conta com peso idêntico.
    Sou tão «defensor dos animais» quanto aqueles que lutavam contra a escravidão dos negros eram «defensores de pretos», como os racistas os chamavam; defendo os animais oprimidos, humanos ou não, não por capricho, não por vocação, não porque eu «ame os animais» como outros «amam as flores»; defendo os animais e, especificamente, os animais não humanos porque a minha intenção é defender todos os seres sencientes, sejam quais forem; porque o único critério que justifica levar em conta os interesses de um ser é que ele tenha interesses e porque, como explicarei no próximo IRL, o fenômeno da sensibilidade limita-se aparentemente aos animais, sendo que as plantas não teriam sensações nem interesses. A minha oposição ao especismo é a oposição a uma ideologia que serve para justificar o sofrimento ignóbil e a morte que a quase totalidade dos humanos infligem sabidamente, deliberadamente, quotidianamente, a milhares de seres tão sencientes quanto eles.

    Professor de Direito na Universidade de Rutgers (Nova Jersey), o norte-americano Gary Francione tem uma resposta para esta postura de descaso. Produzido pela redação do Le Monde diplomatique, o texto Manifesto pela Libertação dos Animais (cujo título original é “Pour l’abolition de l’animal-esclave”), que integra a edição de setembro do Le Monde Diplomatique-Brasil, é uma síntese das teorias de Garry Francione sobre a abolição da exploração animal, segundo expostas no colóquio “Théories sur les droits des animaux et le bien-être animal”, na Universidade de Valência (Espanha) em maio de 2006. O texto sugere que o massacre dos animais é também um ato do ser humano contra si próprio. Nós o praticamos porque estamos mergulhados em relações sociais que nos cegam. Enxergar nas outras espécies seres que sentem e sofrem é um enorme passo para nos livrarmos das brutalidades que cometemos entre nós mesmos.

    O argumento de Francione é original porque, num aparente paradoxo, associa defesa dos animais a humanismo. Ele não nega o direito da espécie humana a lutar, como todas as outras, por seus “interesses vitais”. Mas demonstra que, na etapa atual de nosso desenvolvimento, continuar confinando, torturando e massacrando outros seres não tem nenhum laço com nossa sobrevivência ou bem-estar – mas com nossa submissão à lógica da propriedade e da mercantilização.

    Sim, sustenta o Manifesto: assim como ocorria com os escravos, há três séculos, os animais são considerados mercadorias. E uma sociedade em que a regra essencial de sucesso é a posse de bens materiais torna-se indiferente tanto à crueldade quanto à irracionalidade do massacre. Mais de 8 bilhões de animais são mortos todos os anos (16 mil por minuto), só nos Estados Unidos – o maior consumidor. Na condição de coisas, eles devem ser tão rentáveis quanto possível. Por isso, são confinados, do nascimento ao sacrifício, em celas exíguas, onde muitas vezes os únicos movimentos possíveis são respirar, comer e digerir. Sua execução ocorre quase sempre “em dor e aos gritos, em ambientes fétidos”. Quando destinados a experimentos industriais (em testes de cosméticos, por exemplo), sofrem, vivos, amputações e queimaduras químicas em série. Nas universidades, são freqüentemente utilizados sem necessidade, para “experimentos” repetidos e de resultado óbvio, que poderiam perfeitamente ser substituídos por recursos audiovisuais.

    Nenhuma grande causa merece ser transformada num fundamentalismo. Se você ainda é carnívoro (como o autor destas linhas), deleite-se com seu churrasco, neste fim de semana. Considere a hipótese de substituí-lo por prazeres, digamos, mais humanos… Acompanhe e participe das ações que combatem todos os tipos de maus-tratos. E repare: você tem agora mais um motivo para continuar construindo relações sociais que, livres da ditadura da mercadoria, nos permitam enxergar e enfrentar a crueldade.

    Somente concluindo, tenho para mima que a Corte Constitucional Alemã perdeu a chance de fazer história e apoiar uma causa que, nos dias de hoje, é de extrema importância para a humanidade.

    Winston Churchill disse: “Os homens às vezes tropeçam na verdade, mas na maioria das vezes se levantam e saem apressadamente como se nada tivesse acontecido.”

    Fontes:
    Declaração Universal dos Direitos dos Animais, aprovada pela Unesco, em 1978 (no site do Instituto Butantã, de São Paulo).
    Associação Protetora de Animais São Francisco de Assis: site geral, links de organizações brasileiras e página com legislação do país sobre o tema.
    Vegetarianismo: Sítio Vegetariano, Instituto Nina Rosa e entrevista (em português) com Tom Regan, autor de Jaulas Abertas.
    Entrevistas (em inglês) com Garry Francione: Animal Liberation (Austrália) e no Friends of Animals (EUA). Veja também o site do autor (em inglês).
    Wikipedia (em inglês): Importantes textos sobre direitos dos animais e movimento de libertação animal; 184 sub-verbetes e links de organizações ligados ao tema “Animal Liberation Moviment”.
    Fundo Mundial para a Vida Selvagem (WWF): páginas em português e inglês.
    BUAV, campanha britânica pelo fim das experiências desnecessárias com animais (em inglês).
    http://www.cahiers-antispecistes.org/article.php3?id_article=295

  19. Se o problema for a foto:
    Vamos ter que retirar das livrarias todos os livros que contém foto de judeus sendo torturados. A menos que se queira apelar, afirnando que “quem não vê, não sente”. Que eu saiba, a afronta aos direitos de personalidade não precisam ocorrer aos olhos do ofendido, basta a mera ofensa.

    Pra mim, errou a Corte Alemã:
    Houve mera propaganda com referência a fatos históricos. Não há direito ao segredo (incluso no direito à intimidade) quando os fatos ocorrem em lugar público, no caso, no campo nazista de extermínio. Tampouco há ofensa à reserva (segundo face do direito à intimidade), pela simples razão de que o extermínio dos judeus não era sentimento ou pensamento, e sim fato real.

  20. Ed. Chaos,

    Para melhor compreender sua opnião, gostaria que você me respondesse uma pergunta:

    Você defende uma nova vertente do Direito intitulado de Direito Animal?

    Desde já, Obrigada :)

  21. Você tem razão, Chaos. Houve “chatos” muito importantes na História da humanidade. Mas continuo achando que não seja o caso desse pessoal da PETA…

    Eu vejo negros e brancos iguais em direitos e vejo o terrível equívoco histórico de avaliar a dignidade de uma pessoa pela cor da pele, mas não consigo ver animais e homens com os mesmos direitos (ou semelhantes, sei lá). Talvez o meu horizonte hermenêutico seja muito limitado ainda. Talvez não.

    E, ainda que eu não concorde com nenhum dos seus argumentos (com nenhum mesmo, embora mereça destaque especial a comparação da tese que você apresentou com a defesa dos direitos dos negros e das mulheres), fui o primeiro a dizer que é direito seu (e de qualquer outro) defender essa ideologia.

    Por fim, para demonstrar a minha siceridade ao discutir esse assunto e o meu respeito à tese que você apresentou – inclusive reconhecendo sua educação e seu respeito na apresentação dos argumentos – admito que foi um equívoco chamar de “fundamentalistas” os que a defendem. Não porque considero que é uma “grande causa”, como você diz, mas porque considero “fundamentalista” apenas aquele que acredita em dogmas e não aceitar ver nada de diferente daquilo que acredita.

    Raul.

    P.S. Gostaria de saber mais sobre o fato de ser uma desumanidade comer churrasco. O problema é a forma cruel como o boi é morto? É o sofrimento? E se o boi for morto com uma injeção de tranqüilizante, sem dor, deixa de ser desumano? E se eu pescar um peixe, colocá-lo numa bacia de água, colocar uma substância tranqüilizante e matá-lo sem que ele sinta dor, e depois assá-lo, deixa de ser desumano? E seu matar um rato com uma vassoura, é desumano? E uma barata? E uma abelha? E uma lesma? E por que só os seres vivos com sistema nervoso têm direito à vida? As plantinhas podem ser assassinadas de forma covarde e devoradas? Não há holocausto quanto às plantas? Por que a dor é um critério razoável para estabelecer o que merece proteção e o que não merece? Eu realmente gostaria muito de obter respostas convincentes para essas perguntas.

    Raul Nepomuceno.

  22. Bem! Depois de tão extensos testamentos, deixo a minha breve e curta opinião. A minha área é a comunicação, logo não me refiro como jurista nem nada semelhante, porque o que me intriga é a forma como a mensagem foi transmitida e o porquê desse tipo de abordagem. Actualmente as regras utilizadas são cada vez mais agressivas porque o público não perde tempo com subtileza ou meias palavras.
    Tentando colocar-me “na pele” tanto da Peta, como do povo Judeu, é difícil. Porque se os activistas (apesar de extremistas) sentirem que têm a todo o custo de chamar a atenção, não fizessem algo do género, a mensagem cairia em saco roto.
    No entanto, se tivesse família ou tradição judia, também não ia gostar nada do tipo da mensagem ou da utilização das imagens neste contexto. Quer-se dizer, por muito pelos já ocorreram polémicas escabrosas relacionadas com direito de imagem e afins.
    Não sei se me estou a desviar do assunto, a questão deve ser maioritariamente ética e de respeito. Infelizmente, pelo menos cá por bandas da Europa, são duas definições cada vez mais distorcidas. “Estamos” a espera da morte de uma mulher para fazer disso notícia, não será isso também eticamente questionável e ofensivo, mesmo que seja com a aprovação da mesma!?
    Seja como for, a máxima prevalece. “Falem bem, falem mal, mas falem” e isso a Peta já conseguiu.
    Espero ter transmitido a minha mensagem de forma coerente,
    Bem hajam

  23. Ed. Chaos
    Uma coisa que eu nao entendi. Voce mencionou o especicismo, mas qual a concepção do anti-especicísmo? Pergunto porque a amplitude do que se pretende combater, em termos práticos de sociedade, é incalculável. Também pergunto sobre outro ponto, sempre citado, mas que também gostaria de uma melhor abordagem. Se falarmos na escravidão, em ambito mundial ela nem sempre era de branco contra negro, na Africa havia negro contra negro, e brancos que eram derrotados e escravizados, enfim. Mas o que eu quero perguntar é que, o escravo passa por sofrimento imposto pelos de mesma especie, cientificamente falando, havendo até a própria reflexão de injustiça, pois os escravos viam outra perspectiva de forma de viver, pois outros humanos viviam em melhores condiçoes que eles. Em relação ao sofrimento animal, qual critério é adotado para mensurar o sofrimento dos animais explorados? Pergunto porque, nenhuma galinha, por exemplo, poderia ver outra galinha em melhores condições de vida que ela, estão todas por la.
    Ja pegando a deixa, como ficam caracterizadas as fazendas de subsistencia, onde gado e galinha são criados soltos, mas também com o objetivo final de servir de alimentação aos humanos? O simples uso de cavalos para meio de transporte seria considerado maus tratos ao animal?
    Pergunto, ja afirmando que sou contrário a esse aspecto da igualdade entre homens e animais, defendido por Singer, mas gostaria de conhecer a opinião daqueles favoráveis sobre aspectos do dia-a-dia, um pouco mais alem do que é abordado pelos gruos de defesa dos direitos animais, que é a industria dos alimentos de prigem animal.

    Sobre o caso dos judeus: é legitima a idéia de se comparar o sofrimento dos animais ao dos judeus, mas se as comparações ofendem a intimidade ou memória dos judeus, esta viola direito fundamental. Entao acho que a decisão esta correta.

  24. Raul,

    Pois é.. e eu estou revendo minha posição em relação a publicação das fotos e à liberdade de expressão, mas ainda defendo que ela está diretamente ligada à responsabilidade e respeito , ou seja, com atitudes éticas. Portanto, um movimento que trabalha com a mudança de pensamentos e comportamentos deve manter o comportamento que prega. Por isso não sei até que ponto a publicidade tb não fere isso…

    De qualquer maneira, cabe destacar que acho que ninguém aqui está defendendo a matança de animais ou renegando o direito dos animais. O que se criticou foi a forma como alguns membros do movimento ambientalista/ direito dos animais agem de forma tão opressora qt a apressão que lutam contra , não respeitando sequer o que pregam. Obviamente, isso não exclusividade do movimento. os “chatos” existem em tudo em que é movimento e nem por isso a legitimidade da causa é questionada.

  25. Estava esperando para postar. Esperei tando que Ed Chaos disse o que praticamente eu diria.

    Sua posição, em parte, não é de todo oposta à de Raul Nepomuceno:
    a finalidade da propaganda do PETA em momento algum é a de comparar judeus com animais, mas sim à daqueles que consomem animais com a dos nazistas.

    E aí entra sua importante contribuição, acerca da motivação da propaganda: o especismo. E a finalidade é justamente chocar, como todas as outras propagandas da PETA. Acaso nazistas fossem substituídos por “terorristas” e os judeus por “vítimas indeterminadas”, a decisão do TCF seria idêntica?

    Prosseguindo, não acho que há honestidade argumentativa em analisar as propostas de grupos que defendem direitos dos animais (ou ambientais, de modo geral), tachando-os de eco-chatos. Das ares caricatos a algumas manifestações infelizes não contribui para o debate. Antes, o cerceia.

    O George já havia postado algo anteriormente sobre “direitos animais”. Parece-me que, na decisão do TCF, ao serem analisados limites da liberdade de expressão, não foram deixados de lado – é claro que não de maneira intencional, deliberada – pressuposições políticas.

  26. Só para complementar:

    Eu acho que há uma confusão entre os termos : militante e chato (no caso os eco-chatos). Quando Raul se referiu aos eco-chatos, ele não fez uma crítica aos militantes ou aos defensores do direito dos animais ou do ambiente , mas sim aos que exageram e que usam de todos os meios para impor a sua vontade ( conforme disse anteriormente oprimem da mesma forma que a opressão q tanto combatem). Uma coisa é lutar pela defesa da causa e outra completamente diferente é usar desta causa para impor vontades, opiniões, que são consideradas verdades absolutas. O radicalismo e a intolerãncia em não aceitar opinões diversas é o que caracterizam esse grupo.

    Minha crítica vai nesta direção, sem entrar no mérito da discussão sobre os direitos dos animais, do especismo, anti-especismo….

  27. Eu me retratei da rotulação, acho que você não leu essa parte. Reconheci que não é adequado chamar de “fundamentalista” quem defende essa tese, e apenas esqueci de mencionar que também não é oportuno chamá-los de ecochatos (embora continue achando que são mega-chatos). Mas digo agora; não é adequado, para o debate, chamar as pessoas que defendem os direitos dos animais de ecochatos.

    (Mas posso continuar achando que são uns chatos? Afinal, você acha que eu sou um imbecil, mas prudentemente fez questão de não dizê-lo. Se eu tivesse tido a mesma prudência de achar pessoas desse tipo uns chatos e NÃO dizer abertamente, não teria que me retratar.)

    Raul.
    Raul.

  28. E Fernanda… é isso mesmo. Você entendeu perfeitamente. Aliás, desde o primeiro comentário eu deixei claro que não sou contra as discussões sobre o ambiente sustentável e sobre a crueldade com animais. Mas é que algumas pessoas só vêem aquilo que querem ver.

  29. Então foi falha minha, pois interpretei errado o que vc disse (ou quis dizer). E se foi isso, peço desculpas. Assim como tb peço desculpas se dei a impressão errada. De qualquer maneira isso não invalida nada do que eu disse : sim , eu tb não gosto dos “eco-chatos “, assim como tb não gosto dos chatos de qualquer outro movimento ( e que eu critico do mesmo jeito). Pela última vez eu digo :” são pessoas que querem impor suas opniões a qualquer custo , chegando a ser até mesmo intolerantes”.

    Eu não sei qual o problema em se fazer determinada crítica. Parece que ofende. E eu , sinceramente, não vi ofensa alguma.

    Bom, esse é o sinal para eu parar por aqui…acho que o debate está indo para um outro rumo que não me interessa.

    Fernanda

  30. Fernanda de Deus!!!!!!

    O comentário que eu fiz foi para o Mateus, mulher!!!

    É que quando você postou o seu comentário eu estava terminando de escrever o meu em resposta ao que ELE disse.

    Não foi para você, de jeito nenhum.

    Raul.

  31. Mateus
    sobre sua pergunta:
    “E aí entra sua importante contribuição, acerca da motivação da propaganda: o especismo. E a finalidade é justamente chocar, como todas as outras propagandas da PETA. Acaso nazistas fossem substituídos por “terorristas” e os judeus por “vítimas indeterminadas”, a decisão do TCF seria idêntica?”

    Eu diria que depende, pois a questão se da na medida em que, usando-se de uma prerrogativa de fazer comparações para atentar as pessoas a sua causa, o PETA causou danos de ordem moral nos judeus. No caso, se fossem vitimas indeterminadas, dificilmente seria a mesma decisão por que primeiramente:
    – quem entraria na justiça para cancelar a propaganda teria o mesmo interesse legítimo dos judeus ou teria o interesse de calar o PETA?
    – Seria muito mais dificil comprovar eventual ofensa a memoria de alguem se a vítima fosse indeterminada.
    Imaginem isso na realidade brasileira, entao. Se fizessem uma propaganda expondo negros escravos humilhados e fizessem a comparação de que os animais sofrem da mesma forma, por mais que se pense na legitimidade do direito do PETA, provavelmente haveria grupos afro-descendentes entrando na justiça para anulação da propaganda, pelos mesmo tipo de motivos dos judeus na Alemanha.

  32. Nobre Guilherme, e “fugindo” do assunto do post (me desculpe pessoal), acredito que talvez haveria sim afro-descendentes entrando na justiça alegando desrespeito, porém a maioria com fortes vínculos com o mercado dessa espécie, e confesso que não teria conhecimento como seria o sentimento dos negros em relação a esse assunto, mas eu não ficaria chateado (se bem que eu não passei pela escravidão, e por todo esse sofrimento, então não posso dizer nada, porém em muitos casos em pleno século XXI, ainda convivemos com ela), mas do meu sentimento talvez eu entenda um pouco, e posso dizer que as imagens sobre a escravidão, não produziriam nenhum efeito maléfico.

    ISSO TUDO TEM CHEIRO DE É DINHEIRO!!… rsssssssss.

    abraços.

  33. Raul,
    enquanto escrevia meu post, você postou se retratando. Se o tivesse visto sequer faria alusão ao termo que você usou no primeiro post. E ressalto: não gosto, também, dos “malas”. Não sou “ativista”, “pró-animais”, ou qualquer que seja a denominação, mas acho que há bons argumentos a serem debatidos – como o estão sendo aqui.

    Agora está corrido para postar algo sobre o “mérito” da questão. Mas só faço a exortação: George, você não vai contribuir p/ o instigante debate? Vamos, meu caro!

  34. Bom, vamos lá.

    FERNANDA)
    Antes de eu ser taxado de “eco-chato”, quero dizer que eu não estou tentando impor vontades, muito menos verdades absolutas. Como a você mesmo disse, o radicalismo e a intolerância em não aceitar opiniões diversas é o que caracteriza o PETA, mas se esqueceu de dizer que isso caracteriza também as pessoas que não dão a mínima para o direito dos animais enquanto seres vivos, uma vez que eles são intolerantes e radicais também.

    TÁCIA)
    Sim, eu sou a favor da concessão de alguns direitos aos animais.

    RAÚL)
    Eu entendo e respeito o fato de você não concordar com nenhuma das opiniões por mim expendidas, mas vou tentar lhe convencer de alguns fatos novamente de forma mais objetiva.
    Primeiramente você tem que entender que antes de sermos serem humanos, somos animais, somos do reino animal, somos uma espécie terrestre (quem é adepto da cientologia e acredita que o ser humano é extraterrestre, considere então que somos todos seres vivos). Assim, sendo, deveríamos co-habitar esse planeta em harmonia. Mas já falhamos nesse ponto, pois não existe harmonia mais no planeta Terra, nós dominamos, conquistamos e submetemos tudo e todos aos nossos anseios e necessidades. Até aqui você concorda?

    Já que somos a espécie dominante do planeta, já que os animais nem se quisessem poderiam se voltar contra nós, deveríamos cuidar deles, manter o “habitat” natural deles, deixar eles viverem suas vidas, ou vocês acreditam que os animais vivem em função do homem? Não, eles possuem vida própria, nós é que desvirtuamos TUDO nesse planeta para satisfazer nossas ambições desenfreadas. E isso é errado, e quem diz isso não sou eu, todos no fundo sabemos, faça um teste, feche os olhos e pense, com franqueza, se nosso planeta é ou não um planeta saudável, com um funcionamento normal e natural. Quanto mais viajado e aculturado você for, mais rápido você irá chegar a conclusão de que nossa Terra está toda deturpada, lotada de lixos tóxicos, aterros sanitários que poluem os solos, rios poluídos, espécies ameaçadas de extinção devido à pesca e caça desenfreada em busca de lucro, ar totalmente corrompido, florestas queimadas, desmatadas e represadas, atmosfera lotada de satélites e lixos nucleares. E isso não é em um ou outro lugar: é no mundo todo. TODO. Até aqui você concorda?

    Partindo do que foi dito no parágrafo anterior, temos que cada ser vivo nasce para cumprir sua função, viver sua vida, por mais insignificante que seja aos nossos olhos (tenho certeza que perante olhos de seres mais evoluídos, o ser humano também é um ser insignificante em sua existência e em seu progresso). Assim, não podemos julgar a razão de ser da natureza, da existência de um ser vivo e da sua necessidade ou não na face da Terra, até porque, se assim formos ver, o ser que mais ameaça a continuidade do planeta somos nós. Se o boi existe, ele existe para seu próprio propósito que é desconhecido para nós, assim como nosso próprio propósito de ser também o é. Até aqui você concorda?

    O DNA de um chimpanzé é 99,4% igual ao de um homem, mas se um de nós pegarmos e entrarmos em um zoológico com uma espingarda e enchermos uma família de macaco de tiros, o maior problema será termos que indenizar o dono do zoológico. Diferentemente seria se fizéssemos isso com uma família de humanos, por quê? Imagine só: 99,4% idênticos!!! Você não sente algo de errado nisso??? Se sim, é porque no fundo sabemos que matar uma família de macacos, é um ato de covardia, da mesma maneira que seria com homens. Talvez com os macacos fosse até pior, porque eles já estavam levando uma vida miserável preso em jaulas e não tinham como se defender. Mas com os homens isso choca mais, e você sabe o porquê. É claro, todos seres vivos possuem uma forte tendência a se solidarizar com seus semelhantes. É instintivo. Até aqui você concorda?

    Se você conseguiu chegar até aqui, já fico feliz, pois você está sendo racional. Nós como seres superiores deveríamos ter um senso maior de responsabilidade, para com nosso planeta e para com aqueles que o co-habitam conosco. Quanto mais evoluímos, maior deve ser nossa responsabilidade. Se o homem ainda não consegue aceitar que os animais não existem para alimentá-los, é sinal de que ainda teremos que evoluir um pouco para que consigamos tirar nossas mãos do “sangue”. Não estou querendo ser sensacionalista, mas quem entende tudo isso, sabe que está fazendo algo que não deveria fazer e ainda o faz, é sinal que é irresponsável, insensível e inconseqüente. Quanto maior nosso grau de evolução, mais temos que nos desprender de certas vaidades e gostos. Até aqui você concorda?

    Sei que nosso planeta é assolado por problemas como a fome e a miséria. Esses que não tem o que comer devem sim comer carne se conseguirem, para que se sustentem. Até porque quem está nesta situação, é quase comparado a um animal selvagem com fome, ele precisa de comer, e por isso mata a sua presa. Essa situação pode chegar a extremos (quem não se lembra do Caso dos Exploradores de Caverna). Mas pessoas mais instruídas como eu, você e todos que lêem esse blog, com certeza são pessoas com mais condições financeiras, mais cultura e acesso à informação. Nós é que estamos indo contra a natureza, contra nossa própria evolução como seres humanos. Aqueles que vivem em situação de miserabilidade, que não tem acesso sequer a um livro, que sofrem de problemas financeiros graves, não tem tempo de se preocupar com sua evolução (com algumas exceções), e muito menos com a evolução da sociedade como um todo. Até aqui você concorda?

    Não é o fato de matar sem dor que torna a atitude mais ou menos louvável, afinal, se você matar alguém com um fuzil ou com uma injeção letal vai fazer alguma diferença significante? O que deveríamos é parar de submeter os animais a situações degradantes como matadouros, confinamentos, jaulas, granjas, etc. Tudo isso é depreciativo, é um câncer na evolução espiritual do homem e até mesmo na evolução da raça humana. Sei que a cultura enraizou certos costumes na gente, mas nós somos livres, nosso pensamento é racional, nós podemos questionar, e questionando, podemos chegar a conclusões salutares para nossa vida. Pense bem. Todas estas coisas são insignificantes para você porque você acostumou-se a ver a conviver com tudo isso. Se você fosse acostumado a viver em um lugar onde nada disso existisse e você conhecesse um açougue, você com certeza acharia que ele é a visão exata do inferno.

    É difícil aceitar, mas o homem desde 5000 A.C. até os dias de hoje, evolui muito tecnologicamente, mas moralmente sua evolução foi quase que imperceptível.

    Tentei não usar os mesmos fundamentos que o PETA usa, mas espero ter conseguido ao menos despertar sua atenção para esses pontos que citei. Não tive a pretensão de te convencer, até porque percebi que você já possui algumas opiniões bem sólidas sobre esse assunto, o que torna difícil algo diferente penetrá-los, quanto mais dissolvê-los, ainda mais quando se tem grandes multinacionais, televisão e artistas fazendo lobby de empresas como perdigão, sadia, etc. (isso no Brasil claro, porque lá fora temos outras milhares).

    Desculpem por qualquer erro de digitação ou grafia, escrevi de uma vez só e sequer revisei a ortografia.

    Para finalizar, gostaria de deixar aqui uma frase de um dos maiores gênios que a humanidade já teve, o que corrobora a tese de que apesar de pouco ter se evoluído nesses últimos milênios, sempre tivemos ao longo da história, pessoas isoladas que se destacaram no meio da massa de manobra, com coragem e capacidade de enfrentar a tão afiada opinião pública e afrontar a cultura já formada, e tentar abrir os olhos para a ética, a bondade e a benevolência:

    “Chegará o dia em que todo homem conhecerá o íntimo de um animal. E neste dia, todo o crime contra o animal será um crime contra a humanidade.”
    Leonardo da Vinci

    Abraço a todos.

  35. Suplementando: Contribuindo para aquela pergunta de Raul “E as plantas podem ser devoradas de forma covarde?” não só elas, e as minhocas, que são aprisionadas em um limitado habita com a finalidade de produzir húmus para uma plantação, aonde estar o direito delas pensando do ponto de vista de PETA?

    Agora observando pela parte da crueldade contra os animais, injecção letal seria uma boa. Que maldade!

    Ps: E não posso deixar de falar da fantástica actuação do grudo de publicidade (Na minha época de “ensino médio”, tinha uma enorme paixão pelo ramo de criação em publicidade), que se esquivou, e produziu um material de requinte, porém já os argumentos defendidos pela PETA, são impensáveis, de acordo com minha limitada mente.

  36. Chaos,

    tinha decidido encerrar a minha participação nesse debate, até por conta de excessos que eu mesmo cometi inicialmente. (Eis-me aqui mais uma vez sendo sincero, ingenuamente sincero). No entanto, sua polidez, seu respeito e sua honestidade me constrangem a continuar. Tentarei ser mais tolerante com os intolerantes (e não incluo você entre eles, que fique claro).

    Já que você expôs seus argumentos por partes, vou tentar comentá-los e/ou refutá-los separadamente também.

    PONTO 01
    “Primeiramente você tem que entender que antes de sermos seres humanos, somos animais, somos do reino animal, somos uma espécie terrestre.”

    De pleno acordo.

    PONTO 02
    “Assim sendo, deveríamos co-habitar esse planeta em harmonia.”

    Duas objeções aqui.

    Objeção 1) Por que você excluiu os vegetais da categoria “espécie terrestre”? Por que você excluiu as bactérias também?

    Objeção 2) Por que há um “dever de harmonia”? O que fundamenta esse dever? Na minha opinião, todo dever (moral ou jurídico) tem um fundamento que valida a sua exigência. O torna essa exigência (viver em harmonia com todos os seres animais) válida? A natureza é assim? Há harmonia na natureza, no que diz respeito à relação entre os animais? O leão que caça e come o cervo está em harmonia com ele? A raposa que mata e come a galinha está em harmonia com ela? O leopardo que ataca e come o búfalo está em harmonia com ele? Preciso de um conceito mais claro de “harmonia”, porque na minha visão há pouca “harmonia” nas relações entre animais de espécies diferentes (e até dentro da mesma espécie).

    PONTO 03
    “Já que somos a espécie dominante do planeta, já que os animais nem se quisessem poderiam se voltar contra nós, deveríamos cuidar deles, manter o “habitat” natural deles, deixar eles viverem suas vidas, ou vocês acreditam que os animais vivem em função do homem?”

    Três objeções.

    Objeção 1) Os animais não podem se voltar contra nós? Não estou certo quanto a isso.

    Objeção 2) Não é apenas o indivíduo humano que domina os animais ditos irracionais. Os animais não-humanos também dominam outros animais não-humanos. A aranha captura o inseto e guarda no seu “depósito” de alimentos. O pássaro captura os vermes e se banqueteia com seus filhotes. A abelha-rainha fica só curtindo enquanto as operárias fazem todo o trabalho. A nossa “dominação” sobre os animais ditos irracionais é circunstancial, segundo o que eu penso. Se as condições mudarem é plenamente possível que nós fiquemos à mercê deles.

    Objeção 3) “Todos somos animais”, você diz. Mas o que nos torna animais “especiais” em relação aos outros, Chaos? Por que devemos cuidar dos outros animais se eles não se cuidam entre si, mas apenas vão tentando sobreviver dia após dia? Por que o tamanduá não deixa as formigas viverem a vida delas? Por que o jacaré que comeu o cara que tava nadando no rio não o deixou viver a sua vida? Acho que você está pressupondo alguma superioridade do homem em relação aos outros animais para poder dizer que o homem tem esse dever em relação a eles, mesmo que eles não tenham em relação a nós ou entre eles próprios. Não vejo outra forma.

    PONTO 04
    “Não, eles possuem vida própria, nós é que desvirtuamos TUDO nesse planeta para satisfazer nossas ambições desenfreadas.”

    Não é privilégio nosso. Você está pressupondo que o homem é mau ao dominar os animais, mesmo que a natureza o tenha dotado de meios para isso. Mas não há maldade em um leopardo usar de suas habilidades para pegar um cervo. Gostaria de saber por quê.

    PONTO 05
    “E isso é errado, e quem diz isso não sou eu, todos no fundo sabemos, faça um teste, feche os olhos e pense, com franqueza, se nosso planeta é ou não um planeta saudável, com um funcionamento normal e natural.”

    Normalmente eu costumo ridicularizar argumento desse tipo, Chaos. Mas vou respeitar a sua honestidade. Você foi muito sincero. Acredito realmente que fala com o coração. Mas quero que entenda que há muitas pessoas que não vêem as coisas deste modo. A mundo natural não é tão “lindo” assim, Chaos. No mundo “natural” há muita matança, destruição (furacões, tornados, terremotos etc.), egoísmo, traição, de modo que essas coisas não são exclusividade do mundo dos humanos.

    PONTO 06
    “Quanto mais viajado e aculturado você for, mais rápido você irá chegar a conclusão de que nossa Terra está toda deturpada, lotada de lixos tóxicos, aterros sanitários que poluem os solos, rios poluídos, espécies ameaçadas de extinção devido à pesca e caça desenfreada em busca de lucro, ar totalmente corrompido, florestas queimadas, desmatadas e represadas, atmosfera lotada de satélites e lixos nucleares.”

    De pleno acordo. O mundo está uma bagunça e o homem tem muita culpa nisso. Algo precisa ser feito e por isso sou plenamente a favor de discussões profundas sobre a necessidade de tratar o ambiente com responsabilidade. Mas isso nada tem a ver com o “direito dos animais”, no meu entender, mas tem a ver com o direito dos homens de viverem em um ambiente equilibrado.

    PONTO 07
    “Partindo do que foi dito no parágrafo anterior, temos que cada ser vivo nasce para cumprir sua função, viver sua vida, por mais insignificante que seja aos nossos olhos (tenho certeza que perante olhos de seres mais evoluídos, o ser humano também é um ser insignificante em sua existência e em seu progresso)”

    Objeção 1) Qual a função do homem, Chaos? Viver sua vida e desenvolver suas potencialidades sem perturbar os outros animais, exceto em estado de necessidade ou em legítima defesa? E por que os outros animais podem viver suas vidas matando-se uns aos outros? Ou temos o dever de impedir isso também?

    Objeção 2) Somos insiginificantes, eu concordo. O leão também, a barata também, a aranha também, a mosca também. E cada um tenta sobreviver da melhor forma possível de acordo com o que a natureza lhe deu.

    PONTO 08
    “O DNA de um chimpanzé é 99,4% igual ao de um homem, mas se um de nós pegarmos e entrarmos em um zoológico com uma espingarda e enchermos uma família de macaco de tiros, o maior problema será termos que indenizar o dono do zoológico.”

    Não é verdade, Chaos. Além do dano material, trata-se de um crime, e um crime até relativamente grave. Mas eu entendi o que você quis dizer, claro. Você quis dizer que o macaco tem uma carga genética quase idêntica a do homem e, por isso, deveria ser um crime de igual ou de quase igual gravidade. Não concordo com isso. O que determina a gravidade de um ato ilícito não é exatamente a carga genética da vítima. O homicídio simples (matar uma pessoa já nascida) é uma conduta punida com pena de 6 a 20 anos de reclusão. Mas matar um pessoa em período de gestação (imagine uma gestação de 8 meses) tem pena diferente, de 1 a 4 anos de reclusão, se houver o consentimento da gestante. A composição genética das vítimas é 100% idêntica, Chaos. Ou você acha que o aborto deveria ser punido com a mesma pena do homicídio? Detalhe: ainda tem o pessoal que defende os direitos do pobre chimpanzé, que tem o DNA 99,4% igual ao de um homem, e é a favor da eliminação de um ser (feto) que tem DNA 100% igual a de um homem (nascido). Coerência mandou lembranças; disse que tem saudade.

    PONTO 09
    “Nós como seres superiores deveríamos ter um senso maior de responsabilidade, para com nosso planeta e para com aqueles que o co-habitam conosco. Quanto mais evoluímos, maior deve ser nossa responsabilidade. Se o homem ainda não consegue aceitar que os animais não existem para alimentá-los, é sinal de que ainda teremos que evoluir um pouco para que consigamos tirar nossas mãos do “sangue”.”

    Aaaaaaaahhhhhhhhh! Então somos superiores!!! Então, segundo sua opinião, é o nosso senso de responsabilidade, ou seja, nossa consciência ética, que nos torna maus por nos alimentarmos dos outros animais. Ele se matam, mas não têm consciência ética. Logo, não são maus. Entendi. Mas temos problema aqui, Chaos. Na verdade, dois. (1) Se somos superiores aos outros animais não somos iguais a eles e não é justo tratar igualmente os desiguais; (2) ter consciência ética apenas implica em lidar com os conceitos de “certo” e “errado”, sendo um “dever” evitar o “errado”. Mas é preciso estabelecer um critério para diferenciar o “certo” do “errado”, Chaos. Você diz que é “errado” se alimentar com carne de frango e se vestir com pelo de chincila e diz que isso é “errado” porque temos consciência ética. E usa a expressão apelativa: “tirar os sangue de nossas mãos”. Eu pergunto: por que não é “errado” também matar e se alimentar de vegetais, manchando as nossas mãos de seiva? Por que a nossa consciência ética não torna essa conduta “errada” também? Qual é o critério para dizer o que é “certo” comer e o que é “errado” comer?

    “Não estou querendo ser sensacionalista, mas quem entende tudo isso, sabe que está fazendo algo que não deveria fazer e ainda o faz, é sinal que é irresponsável, insensível e inconseqüente. Quanto maior nosso grau de evolução, mais temos que nos desprender de certas vaidades e gostos.”

    Uma pessoa que mata uma barata (e até se alimenta dela, mesmo dispondo de outros meios para se nutrir) é irresponsável e insensível, Chaos? Você dá essa denominação a esse tipo de pessoa?
    É difícil aceitar, mas o homem desde 5000 A.C. até os dias de hoje, evolui muito tecnologicamente, mas moralmente sua evolução foi quase que imperceptível.
    “Não é o fato de matar sem dor que torna a atitude mais ou menos louvável, afinal, se você matar alguém com um fuzil ou com uma injeção letal vai fazer alguma diferença significante? O que deveríamos é parar de submeter os animais a situações degradantes como matadouros, confinamentos, jaulas, granjas, etc.”

    Peraí, Chaos. Não entendi. Primeiro você diz que o problema é matar, porque matar uma galinha é o mesmo que matar um homem. Depois você diz que o problema é submeter um animal qualquer a situações degradantes. Não entendi mesmo.

    “É difícil aceitar, mas o homem desde 5000 A.C. até os dias de hoje, evolui muito tecnologicamente, mas moralmente sua evolução foi quase que imperceptível.”

    Acho que concordo. Pelo menos em parte.

    “Não tive a pretensão de te convencer, até porque percebi que você já possui algumas opiniões bem sólidas sobre esse assunto, o que torna difícil algo diferente penetrá-los, quanto mais dissolvê-los, ainda mais quando se tem grandes multinacionais, televisão e artistas fazendo lobby de empresas como perdigão, sadia, etc. (isso no Brasil claro, porque lá fora temos outras milhares).”

    Não é verdade, Chaos. Você tem a pretensão de me convencer, sim. Mas não é problema nenhum. Isso é bom. Mas é importante que ambos, eu e você, estejamos abertos à possibilidade de mudar de opinião diante da força persuasiva dos argumentos. Eu estou disposto, você está?

    Para finalizar, reafirmo meu entendimento. A decisão foi acertada, segundo o que eu penso. Mas se o anúncio contivesse, ao invés de imagens de pessoas, argumentos semelhantes aos que foram apresentados por Chaos e por Mateus, ainda que comparando o holocausto à crueldade com animais, acho que o anúncio deveria ser permitido.

    Um abraço, Chaos.

    Ah, uma última coisa. Antes eu não concordava em NADA com você. Agora concordo em duas coisas: (1) somos todos animais, somos seres terrestres; (2) os indivíduos humanos são superiores aos outros animais (3) o homem está destruindo o planeta de forma irresponsável e (4) o desenvolvimento tecnológico não reflete, nem de longe, o desenvolvimento moral dos indivíduos humanos. Tá vendo? As coisas estão melhorando!

    Raul Nepomuceno.

  37. Corrigindo esse finalzinho:

    concordamos em QUATRO coisas, e não apenas em DUAS. Não foi erro de contagem; depois de escrever o texto ainda consegui localizar mais dois pontos convergentes e não alterei o número.

    :)

    Raul.

  38. E na parte que mencionei a carga genética de um feto, comparando a morte voluntária de um macaco com a o aborto voluntário, gostaria de saber sua opinião tanto em relação a uma gestação de 8 meses quanto uma gestação de 3 meses, já que a carga genética é a mesma.

    Raul.

  39. Concordo com o Raul em suas colocações, so tenho um questionamento
    “É difícil aceitar, mas o homem desde 5000 A.C. até os dias de hoje, evolui muito tecnologicamente, mas moralmente sua evolução foi quase que imperceptível.”

    Essa afirmação é baseada em que? Eu não sei, com tantos conceitos de etica e moral estabelecidos e estudados(direito e dignidade dos animais incluidos nisso) afirmar que a evoluçao moral humana desde 5000 a.C. é imperceptível?

  40. eu tenho um sonho…. eu tenho o sonho de que um dia os bichinhos poderaão receber atendimento veterinario pelo SUS…… sonho com o dia em que todos os animais receberão o seu “bolsa-animal” fornecido pelo Governo Federl para ajudar a terem uma vida digna….. sonho com o dia em que mandados de segurança e habeas corpus não serão exclusividade dos humanos e os bichinhos poderão fazer valer os direitos por meio desses rem´´edios constitucionais….. eu tenho um sonho hoje!sonho com o dia em que homens e animais sentarão juntos nos bancos das universidades, como iguais, até como compensação de uma dívida histórica por milênios de eploração….. eu tenho um sonho… de que todos, homens e bichinhos, viveremos em lliberdade e em plena harmonia num mundo feliz e perfeito,…

    Martin Lion King

  41. Bom, estou acompanhando o debate, apesar de ter dito que “pularia fora”… mas como Chaos fez uma observação ao que eu disse, vou lhe responder.

    Chaos,

    Que eu me lembre, em nenhum momento te chamei de eco-chato. Se estiver errada, por favor me corrija e me mostre onde foi que eu falei isso. Com todo o respeito, me parece que é você que está se rotulando e adotando uma postura defensiva.

    Concordo com vc quando diz que a intolerância e radicalismo existem do outro lado . Sim , existe e do mesmo modo eu repudio e acho abominável. Agora, discordo quando vc diz :

    “mas se esqueceu de dizer que isso caracteriza também as pessoas que não dão a mínima para o direito dos animais enquanto seres vivos, uma vez que eles são intolerantes e radicais também”.

    Em relação à esta última parte, acredito se tratar de Ignorância e não de radicalismo e intolerância, pois são coisas distintas. Uma coisa é vc não dar a mínima para o direito dos animais, por desconhecer a existência deste direito ou por acreditar que não há que se falar nele (negação). Outra coisa bem diferente é ter uma opinião e querer que todos compartilhem dela, não dando espaço para o dialógo. É tudo no 8 ou 80. Ou é ou não é. Manifesta-se através da oposição entre BEM X MAL. Estes sim são os intolerantes ou radicais : não conseguem ( ou não querem) perceber as coisas além da sua visão de mundo.

    Obviamente que estas pessoas às quais vc se refere podem ser radicais/intolerantes, mas isso não é algo absoluto. Não é o fato de uma pessoa considerar que o direito dos animais é algo insignificante que ela será necessariamente radical, mas sim o fato dela acreditar nisso e ridicularizar e não permitir que as pessoas que defendem este direito se expressem e se manifestem.

  42. Eu não iria mais postar nesse tópico pois ando um pouco sem tempo, mas não posso deixar de refutar argumentos tão honestamente , e diga-se de passagem tão bem colocados como os do amigo Raúl, se é que posso chamá-lo assim, mas quem me provoca intelectualmente, me fortalece, e quem me fortalece é meu amigo.
    Irei responder suas perguntas conforme foram colocadas nos tópicos.

    PONTO 2
    “Objeção 1) Por que você excluiu os vegetais da categoria “espécie terrestre”? Por que você excluiu as bactérias também?”

    R: Primeiro porque as árvores, e toda a gama de vegetais são feitos para servir mesmo de alimento, elas dão frutos, legumes, etc. Você não mata ou fere uma planta quando se alimenta dela. Esse é o propósito dos frutos e legumes. Segundo porque não há como preservar bactérias, pois nós sequer as vemos a olho nu. É impossível. E o principal, muitas delas nos trazem doenças gravíssimas.

    “Objeção 2) Por que há um “dever de harmonia”? O que fundamenta esse dever? Na minha opinião, todo dever (moral ou jurídico) tem um fundamento que valida a sua exigência. O torna essa exigência (viver em harmonia com todos os seres animais) válida? A natureza é assim? Há harmonia na natureza, no que diz respeito à relação entre os animais? O leão que caça e come o cervo está em harmonia com ele? A raposa que mata e come a galinha está em harmonia com ela? O leopardo que ataca e come o búfalo está em harmonia com ele? Preciso de um conceito mais claro de “harmonia”, porque na minha visão há pouca “harmonia” nas relações entre animais de espécies diferentes (e até dentro da mesma espécie).”

    R: O dever de harmonia tem embasamento moral não só do homem individual, mas da humanidade em relação ao planeta em que ela vive. Não estou querendo criar regras e normas intergaláticas (o que seria ridículo nesse momento de evolução nosso), mas com certeza se um dia e espécie humana terráquea vier a habitar mais de um planeta, com certeza regras serão necessárias para se cuidar dos mundos habitados. Atualmente deveríamos apenas preservar e co-habitar harmoniosamente nosso planeta.

    Há harmonia sim entre os animais, o leão que caça e come o cervo está em harmonia com seu meio, pois esse é o “habitat” de ambos. Esse não é nosso “habitat”. Não cabe a nós julgar os instintos e necessidades deles, mas tão-somente preservá-los. O cervo não nasceu para ser comido pelo leão, mas tenho certeza que ele quando nasce, já sabe que o leão é seu predador, se assim não fosse, porque os bandos de zebras correm dos leões mesmo antes deles atacá-los, mas não correm de um rinoceronte que é duas vezes maior. Pela lógica, a zebra deveria esperar o leão atacar uma outra zebra para ver do que ele é capaz, pra depois fugir dele, mas não, o instinto da zebra é fugir do leão, e não do rinoceronte, que a meu ver parece ser muito mais intimidador. A harmonia não significa algo calmo ou pacífico, mas algo harmonioso, basta ver o conceito musical de harmonia, muitas vezes temos acordes diminutos, com sétima e nona, que sozinhos seriam um ruído, mas na cadência em que se encaixam soam simplesmente perfeitos.

    PONTO 03
    “Objeção 1) Os animais não podem se voltar contra nós? Não estou certo quanto a isso.”

    R: Não, eles não podem. Você acha que os gorilas teriam condições de se reunir e atacar cidades destruindo os edifícios e matando os seres humanos? Chega a soar bizarra essa hipótese.

    “Objeção 2) Não é apenas o indivíduo humano que domina os animais ditos irracionais. Os animais não-humanos também dominam outros animais não-humanos. A aranha captura o inseto e guarda no seu “depósito” de alimentos. O pássaro captura os vermes e se banqueteia com seus filhotes. A abelha-rainha fica só curtindo enquanto as operárias fazem todo o trabalho. A nossa “dominação” sobre os animais ditos irracionais é circunstancial, segundo o que eu penso. Se as condições mudarem é plenamente possível que nós fiquemos à mercê deles.”

    R: Acho que a resposta dessa pergunta já foi dada.

    Objeção 3) “Todos somos animais”, você diz. Mas o que nos torna animais “especiais” em relação aos outros, Chaos? Por que devemos cuidar dos outros animais se eles não se cuidam entre si, mas apenas vão tentando sobreviver dia após dia? Por que o tamanduá não deixa as formigas viverem a vida delas? Por que o jacaré que comeu o cara que tava nadando no rio não o deixou viver a sua vida? Acho que você está pressupondo alguma superioridade do homem em relação aos outros animais para poder dizer que o homem tem esse dever em relação a eles, mesmo que eles não tenham em relação a nós ou entre eles próprios. Não vejo outra forma.

    R: O que nos torna especiais é nosso senso de responsabilidade moral e nossa intelectualidade.
    Sobre o modo de vida dos animais já respondi quando falei da harmonia.
    O homem não tem dever em relação aos animais em si, mas no que concerne ao desenvolvimento sustentável do mundo em todas suas vertentes possíveis, inclusive quanto a viver em harmonia com outros seres terrestres e preservar a flora desse planeta.

    PONTO 04
    “Você está pressupondo que o homem é mau ao dominar os animais, mesmo que a natureza o tenha dotado de meios para isso. Mas não há maldade em um leopardo usar de suas habilidades para pegar um cervo. Gostaria de saber por quê.”

    R: Justamente pelo que disse ali em cima, o homem é mais evoluído, possui senso de responsabilidade moral e intelectualidade.
    Os animais, por enquanto, já que não são dotados desses atributos, precisam da nossa tutela, eles apenas precisam ter o direito de viver naturalmente. Nós não podemos simplesmente chegar e tomar isso deles. É injusto e arbitrário.

    PONTO 05
    “Normalmente eu costumo ridicularizar argumento desse tipo, Chaos. Mas vou respeitar a sua honestidade. Você foi muito sincero. Acredito realmente que fala com o coração. Mas quero que entenda que há muitas pessoas que não vêem as coisas deste modo. A mundo natural não é tão “lindo” assim, Chaos. No mundo “natural” há muita matança, destruição (furacões, tornados, terremotos etc.), egoísmo, traição, de modo que essas coisas não são exclusividade do mundo dos humanos.”

    R: Eu já havia percebido que você é um tanto quanto cético e que de plano iria refutar e ridicularizar essa minha técnica argumentativa, mas mesmo assim quis trazer um pouco de empirismo para a discussão para que ela se tornasse um pouco mais intensa. Mas você não me disse se você vê ou não o mundo dessa forma. Eu não disse em nenhum momento que o mundo é lindo, ele tem fases e fases, e furacões, terremotos e tsunamis podem fazer parte dele, e mesmo assim ele pode continuar sendo harmônico. O que não é normal são coisas que o homem usa para desvirtuar seu caminho natural, coisas tais como HAARP, AIDS, uso da fé religiosa para fomentar guerras, etc.

    PONTO 06
    “De pleno acordo. O mundo está uma bagunça e o homem tem muita culpa nisso. Algo precisa ser feito e por isso sou plenamente a favor de discussões profundas sobre a necessidade de tratar o ambiente com responsabilidade. Mas isso nada tem a ver com o “direito dos animais”, no meu entender, mas tem a ver com o direito dos homens de viverem em um ambiente equilibrado.”

    R: Um ambiente que não esteja lotado de lixos tóxicos, aterros sanitários que poluem os solos, rios poluídos, pesca e caça desenfreada em busca de lucro, ar totalmente corrompido, florestas queimadas, desmatadas e represadas, atmosfera lotada de satélites e lixos nucleares, com certeza além de ser uma ambiente ecologicamente equilibrado para os homens, também o será para os animais.

    Veja bem, minha idéia não é estender o homicídio para o assassinato de animais, não é o direito dos animais que deve ser o cume da discussão, mas sim a responsabilidade do homem para com o ambiente em que vive, inclusive o dever de proteger outros animais.

    PONTO 07
    Objeção 1) Qual a função do homem, Chaos? Viver sua vida e desenvolver suas potencialidades sem perturbar os outros animais, exceto em estado de necessidade ou em legítima defesa? E por que os outros animais podem viver suas vidas matando-se uns aos outros? Ou temos o dever de impedir isso também?

    R: Sim, exatamente. A partir do momento que para conseguir algo você precisa sacrificar vidas alheias, algo está acontecendo de errado.
    A outra parte já respondi quando falei da harmonia.

    Objeção 2) Somos insiginificantes, eu concordo. O leão também, a barata também, a aranha também, a mosca também. E cada um tenta sobreviver da melhor forma possível de acordo com o que a natureza lhe deu.

    R: Sobreviver, ou melhor, viver, pressupõe uma existência que não interfira na existência alheia. Desde quando temos o direito de decidir o destino de outras espécies? Quem nos deu a tutela sobre o direito de viver das outras espécies? E se por acaso tivéssemos essa tutela legítima, estaríamos realmente resguardando seus direitos?

    PONTO 08
    Não é verdade, Chaos. Além do dano material, trata-se de um crime, e um crime até relativamente grave. Mas eu entendi o que você quis dizer, claro. Você quis dizer que o macaco tem uma carga genética quase idêntica a do homem e, por isso, deveria ser um crime de igual ou de quase igual gravidade. Não concordo com isso. O que determina a gravidade de um ato ilícito não é exatamente a carga genética da vítima. O homicídio simples (matar uma pessoa já nascida) é uma conduta punida com pena de 6 a 20 anos de reclusão. Mas matar um pessoa em período de gestação (imagine uma gestação de 8 meses) tem pena diferente, de 1 a 4 anos de reclusão, se houver o consentimento da gestante. A composição genética das vítimas é 100% idêntica, Chaos. Ou você acha que o aborto deveria ser punido com a mesma pena do homicídio? Detalhe: ainda tem o pessoal que defende os direitos do pobre chimpanzé, que tem o DNA 99,4% igual ao de um homem, e é a favor da eliminação de um ser (feto) que tem DNA 100% igual a de um homem (nascido). Coerência mandou lembranças; disse que tem saudade.

    R: Eu não disse que pelo fato do macaco ter uma carga genética quase idêntica a do homem, deveria se tratar um crime de igual ou de quase igual gravidade. Eu só quis mostrar como nós subjugamos o direito de outras espécies. Particularmente até acho que muitos crimes contra os homens deveriam ter punições mais severas.

    Eu entendi o que você quis dizer quando comparou o homicídio ao aborto, contudo isso foi um critério usado pelo legislador, temos também a eutanásia, etc. que segue essa sua linha de raciocínio, de que pelo mesmo DNA, teríamos a tutela de um mesmo direito sendo feita de forma progressiva. Mas esse não foi o ponto que quis abordar na questão.

    Acho que você exagerou, não fui nada incoerente, posso ter sido sim mal interpretado por ter feito uma redação tosca, mas espero que você tenha entendido o meu ponto de vista agora, eu só quis alertar que nós somos especistas de nascença, pouco nos importamos para a vida ou a dignidade de outras espécies.

    PONTO 09
    “Aaaaaaaahhhhhhhhh! Então somos superiores!!! Então, segundo sua opinião, é o nosso senso de responsabilidade, ou seja, nossa consciência ética, que nos torna maus por nos alimentarmos dos outros animais. Ele se matam, mas não têm consciência ética. Logo, não são maus. Entendi. Mas temos problema aqui, Chaos. Na verdade, dois. (1) Se somos superiores aos outros animais não somos iguais a eles e não é justo tratar igualmente os desiguais; (2) ter consciência ética apenas implica em lidar com os conceitos de “certo” e “errado”, sendo um “dever” evitar o “errado”. Mas é preciso estabelecer um critério para diferenciar o “certo” do “errado”, Chaos. Você diz que é “errado” se alimentar com carne de frango e se vestir com pelo de chincila e diz que isso é “errado” porque temos consciência ética. E usa a expressão apelativa: “tirar os sangue de nossas mãos”. Eu pergunto: por que não é “errado” também matar e se alimentar de vegetais, manchando as nossas mãos de seiva? Por que a nossa consciência ética não torna essa conduta “errada” também? Qual é o critério para dizer o que é “certo” comer e o que é “errado” comer?”

    R: Confesso que a expressão foi apelativa e desnecessária, não sei porque a coloquei, mas sabia que ela seria motivo ou de chacota ou de críticas.

    Sobre essa parte dos vegetais, ou de porque os animais podem se matar e nós não podemos matá-los, espero que já tenha sido bem explicado quando disse sobre harmonia.

    A propósito, não há outra forma do leão se alimentar a não ser de carne, ele nasceu para isso, seu biótipo é para caçar, é da sua natureza. As suas vítimas sabem que o leão é seu predador, e sabem que devem evitá-lo. Nós não, nós felizmente estamos acima disso tudo, nós não precisamos caçar. O critério para dizer o que é certo e errado de comer é o que a natureza nos deu. Você nunca verá um leão comendo arbustos e nem uma zebra comendo um antílope.
    Só para constar, o ser humano é uma aberração da natureza, ele tem biótipo de herbívoro, possui caninos e trato digestivo de herbívoros, mas os olhos, esses são de grandes predadores.

    “Grandes poderes trazem consigo grandes responsabilidades” (Spider Man).

    É muito fácil sermos desidiosos e insensíveis quando o problema não é conosco, não é?

    PONTO 10
    “Uma pessoa que mata uma barata (e até se alimenta dela, mesmo dispondo de outros meios para se nutrir) é irresponsável e insensível, Chaos? Você dá essa denominação a esse tipo de pessoa?”

    R: Não é insensível nem irresponsável, se ela matou para se alimentar. Pode ser para os padrões normais um pouco nojento, mas ela tem esse direito. O que é diferente de criarmos galinhas em granjas para botar ovos o dia todo, ou criarmos elas só para matá-las e comê-las. A industrialização disso tudo a sede de se obter lucro é que faz o homem sair da normalidade para começar a ser cruel. A linha é tênue, mas ainda assim pode ser diferenciada.

    PONTO 11
    “Peraí, Chaos. Não entendi. Primeiro você diz que o problema é matar, porque matar uma galinha é o mesmo que matar um homem. Depois você diz que o problema é submeter um animal qualquer a situações degradantes. Não entendi mesmo.”

    R: Existe algum problema em matar um homem? Existe problema em submeter um homem a tortura e a situações degradantes?

    Em ambos casos há problemas, um não exclui o outro de maneira alguma.

    FINALIZANDO
    Eu estou aberto à possibilidade de mudar de opinião diante da força persuasiva dos seus argumentos. Não considero JAMAIS meus pontos de vista como sendo imutáveis, contudo assim como você, eu preciso de lógica, de coerência no raciocínio, e eu gosto de ser convencido do contrário, apesar de dificilmente alguém aparecer com bons argumentos persuasivos que o façam.

    Depois desse seu último post tive a curiosidade de “googar” seu nome e li um posto seu aqui nesse blog mesmo sobre a foto da Carol Castro, e devo admitir que sua explanação não foi menos que brilhante e altamente persuasiva, argumentativa e lógica. Apesar de que eu não concorde com a limitação ao princípio da liberdade de expressão, contudo isso é outro episódio… rs.

    Abraço a todos.

  43. Chaos,

    Não vou dar prosseguimento à discussão, fique tranqüilo. Quero apenas agradecer sua educação e honestidade na exposição dos seus argumentos. Fico feliz de saber que há pessoas como você e, pode acreditar, isso me faz refletir sobre a minha opinião sobre os “ecochatos”.

    Continuo não concordando com seu ponto de vista e considero suas respostas insuficientes para que eu mude de opinião, mas isso é o que menos importa agora. Não quero polemizar mais. De todo modo quero que acredite que respeito a sua opinião e acho que você tem todo o direito de expressá-la, inclusive comparando a crueldade em relação aos animais com o holocausto, que, afinal, foi o ponto de partida dessa discussão toda.

    Um abraço e desejo uma ótima semana para você.

    Raul.

  44. A Campanha foi radical… Porém, não vislumbrei dano a moral aos alemães. O que a propaganda quis demonstrar é que está havendo matança irracional dos animais, bem como, em sua alimentação.
    Hoje em dia, nos alimentamos de produtos altamente toxicos, cheios de hormônios, etc.
    Creio que a propaganda tenha atirado para este sentido, para o uso irracional de animais, e o desrespeito a natureza.

  45. A propaganda, penso eu, partindo da premissa de que todos os seres vivos têm o direito à vida sem sofrimento, procura transmitir subliminarmente a mensagem de que a mesma irracionalidade que no passado permitiu o Holocausto seria aquela a permitir, hoje em dia, a matança e o sofrimento dos animais.
    Quanto ao conflito entre o direito fundamental à livre manifestação do pensamento e o direito fundamental à honra e à intimidade, acredito que o sopesamento deva ser feito tendo em vista não apenas a ratio de ambas as normas, mas também a extensão e a possibilidade de reversão dos danos cogitados nas sociedades em que a propaganda é veiculada.
    Embora a liberdade de expressar o pensamento busque garantir, em última instância, a propagação de ideias e opiniões entre os homens, é certo que tais ideias e opiniões encontram limite na honra e na intimidade subjetivas e coletivas.
    Nesse sentido, o direito de propagar a opinião de que os animais possuem os mesmos direitos que os homens esbarra no direito das vítimas do holocausto de não terem a imagem de seu sofrimento exposta, sob qualquer fundamento. E arriscaria mais: encontra óbice ainda no direito coletivo da humanidade (e não apenas do povo alemão) à memória do holocausto como fato histórico de grave atentado à humanidade, o que não permitiria não apenas a sua banalização, mas também a sua utilização de forma obtusa, como ocorrido na propaganda.
    Por outro lado, parece-me que, em sociedades as quais não convivem tão intensamente com a memória do holocausto (o que me parece ser pouco factível, uma vez que se tratou de fato de repercussão histórica mundial), os danos decorrentes do cerceamento da propaganda seriam mais sensíveis aos ideais que embasam o Estado Democrático de Direito, o que justificaria a liberação da propaganda, cujos responsáveis estariam sujeitos, no entanto, à reparação dos danos individuais e coletivos eventualmente verificados naquelas sociedades.

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