Não sei se eu já contei aqui. Acho que não. Enfim. Estou com um projeto de escrever um livro sobre o seriado Boston Legal (Justiça sem Limites). Pretendo comentar os temas mais importantes que lá são debatidos, apontando os principais argumentos apresentados pelas partes e procurando, na medida do possível, indicar quais são os paradigmas reais que deram suporte ao debate, tentando também trazer a discussão para a realidade brasileira.
É um projeto sem prazo para conclusão. Estou fazendo com muito prazer e me divertindo bastante ao rever os episódios.
E como hoje é sexta-feira, o dia nacional da malemolência, nada melhor do que compartilhar momentos de diversão com os leitores do blog.
Fiz aqui um breve perfil do lendário Denny Crane, um advogado excêntrico, rico, divertido, polêmico, narcisista, republicano, conservador, patriótico e, acima de tudo, Denny Crane.
Para quem não acompanha o seriado, Denny Crane é um dos personagens principais e é interpretado pelo ator Willian Shatner, que foi o capitão Kirk da nave Interprise, da série Star Trek.
No Boston Legal, Denny Crane é um advogado de sucesso, mas em final de carreira e, nitidamente, não bate bem da bola, por ser portador do Mal de Alzheimer (ou do Mal da Vaca Louca, ninguém sabe ao certo).
Egocêntrico ao extremo, sente-se bem ao imaginar que é uma “grande ilha”, onde o mundo gira a sua volta.
É capaz de sentir um orgasmo ao ouvir um simples sussurro feminino de seu nome no seu ouvido. Denny Crane.
Sob o aspecto ideológico, ele é uma caricatura do típico conservador de direita norte-americano. Ultra-republicano. É a favor das armas, da guerra, do capitalismo. É contra a proteção ao meio-ambiente, a distribuição de dinheiro para os pobres e contra os homossexuais. Para se ter uma idéia, Denny Crane vive zombando da Declaração de Direitos, apesar de ser advogado.
Ele é, nesse aspecto, o oposto de Alan Shore, o outro personagem principal do seriado. Apesar disso, são grandes amigos e responsáveis pelos diálogos mais engraçados.
No quinto episódio da primeira temporada, Denny Crane participa de um caso que bem demonstra a sua personalidade.
O escritório “Crane, Poole and Schmidt” havia sido contratado para defender uma empresa de plano de saúde que superfaturava medicamentos para idosos, cobrando um valor bem mais alto do que o de mercado. Poole, o advogado responsável pela defesa da empresa, havia surtado a poucos dias do julgamento. Assim, a defesa concluiu que o melhor seria tentar adiar o julgamento, já que se tratava de um caso bastante complexo. O juiz do caso, porém, não concordou com o adiamento e marcou o seu início.
Logo nas suas considerações preliminares, Denny Crane faz o seguinte discurso:
“Odeio velhos, sempre odiei. São uns bebês. Por isso, metade deles usa fraldas. Os idosos são responsáveis por uma grande porcentagem da riqueza do país. Eles atuam na maioria das 500 maiores empresas. Ele movimentam a guerra. E a maioria deles é capaz e saudável. O que fazem? Aposentam-se aos 65 anos e sugam nossos recursos. Temos uma enorme pobreza nesse país. Não podemos educar nossos filhos em grande parte porque esses fortões e inteligentes aposentados estão vivendo da Previdência. Por que não cobrar mais deles?”
Nesse momento, é interrompido pelo juiz, que, assustado, questiona: “Senhor Crane, não estou entendendo sua linha de argumentação.”
E Denny, sem perder a compostura, responde: “Porque você é um idiota. Juízes velhos deviam sair fora”.
Voltando para o caso, Denny prossegue:
“Deixem-me dizer: derrubem meu cliente com uma indenização milionária. Passaremos os custos para o consumidor. Os querelantes pensarão que venceram, mas nós não perderemos dinheiro”.
Nesse momento, o juiz não teve dúvidas: suspendeu o julgamento e prendeu Denny Crane por desrespeito ao Tribunal. E assim Denny, apesar de ter dormido na prisão, conseguiu seu objetivo maior, que era adiar o julgamento.
Outro caso marcante foi narrado no episódio S2E7. Denny Crane foi convocado para defender um réu acusado de estuprar e matar uma criança de 13 anos de idade. Ele não queria pegar aquele caso, pois era da defensoria e o cliente não iria pagar nada. Mesmo assim, o juiz o obrigou a ficar com o caso. Na primeira conversa em particular com o cliente, este confessou o crime. Denny não teve dúvidas: sacou sua arma e lhe deu um tiro no joelho.
Aqui vão algumas frases marcantes, proferidas durante as duas primeiras temporadas, que bem resumem o perfil desse inigualável advogado:
“O sol brilha pelo meu traseiro”.
“Eu não vivo para o amanhã”.
“Denny Crane ama um desafio”.
“Julgamentos não são sobre fatos. Tudo se resume a emoções”.
“Sou tão bom que nem eu acredito”.
“Not gay, not guilt”.
“Dúvida razoável por uma quantia razoável: essa é a promessa de Denny Crane”.
“Nós somos americanos, somos vencedores, é a nossa cultura. Nós declaramos vitória mesmo quando perdemos: eis o que somos”.
“A vida é um cabaré”.
“Estou tão envolvido com a sujeira do mundo dos negócios que vejo o mundo como um grande cólon”.
“Espero que Deus olhe por mim, exceto na privacidade do meu quarto cometendo atos obscenos”.
“É uma sensação e tanto atirar em quem não presta. Algo que vocês, democratas, jamais entenderão” .
“Nós, americanos, gostamos da terra. Queremos uma casa segura, poder guardar nosso dinheiro, atirar em quem não presta”.
“Denny Crane. Bolos de chocolate. Adoro bolos de chocolate. Denny Crane”. (durante as suas hilárias coletivas com a imprensa)
“Você conhece a piada do cara que morre e vai para o portão do céu? São Pedro deixa ele entrar e ele vê um cara fazendo uma defesa oral. Aí ele pergunta para São Pedro: ‘Quem é?’ Ao que São Pedro responde: ‘Ah, é Deus. Ele pensa que é Denny Crane’”.
“Odiamos todos os clientes. Odiar é bom. Permite-nos cobrar mais e dormir bem à noite”.
“Essa vida não tem muito sentido. Advogar, ganhar dinheiro, beber uísque às 9 da manhã. Bem, o uísque talvez tenha algum sentido”.
“Fale o que quiser dos republicanos. Defendemos nossas convicções mesmo estando totalmente errados”.
“Indigentes são pobres. Odeio pobres. Não podem pagar os honorários”.
“O problema com o sistema criminal é que os criminosos têm mais direitos e recebem mais atenção e mais apoio do que as próprias vítimas”.
“Inimitável. É divertido ser como eu”.
“Aprenda uma coisa sobre a advocacia, filho. É tudo uma questão de dinheiro. Eu tenho. Ele não. Vou ganhar”.
“Os pobres estão acabando com este país. Os pobres levaram o país a contrair dívidas. Vejamos o Katrina. Os pobres fizeram com que o país tivesse que gastar bilhões. Os ricos sairam antes do furacão. E os pobres ficaram lá, vendo tudo. E agora somos nós que temos que pagar”.
“Temos que motivar os preguiçosos do país a levantarem do sofá e irem trabalhar”.
“Estou tendo uma ereção. Isso é um bom sinal. Que o julgamento comece. Estou pronto”.
“Denny Crane. Meu cocô não fede. Sai em lindos tons pastéis. Denny Crane”. (em mais uma de suas coletivas com a imprensa).
“Denny Crane: justo e equilibrado. Maluco, justo e equilibrado”.
“Embora eu pareça um Deus para muita gente, existe um ser mortal no interior dessa casca divina”.
“Percebi uma coisa sobre mim mesmo: eu amo o poder. E ele parece retribuir. É meu estado natural. É minha homeostasia”.
“Os EUA estão sitiados. Não por Saddan ou por terroristas, mas por advogados estúpidos, a favor de roubos que querem nos privar do direito de proteger o que é nosso” (ao defender um cliente que atirou em um bandido para proteger a sua propriedade).
“Alma é coisa religiosa. É inconstitucional os Estados Unidos terem alma”. (invocando o princípio da laicidade do Estado).
“Moral? Isso é coisa inventada pela elite para que o povo não se divirta”.
“Não entendo porque as pessoas deixaram de usar a violência para resolver seus problemas. Funciona sempre”.
“A mente humana é como um balde. Pode transbordar. Você vê o sofrimento à sua volta e se envolve. Seu balde enche e logo transborda”.
“Não importa o quanto seu dia e as suas escolhas tenham sido difíceis ou quão complexas foram as questões éticas que teve que enfrentar, você sempre terá o direito de escolher o que comer no almoço”.
“Sou Denny Crane. Até o som do meu nome me fascina”.
“Já atirei num cliente que estuprou uma criança. Já atirei em um mendigo que jogou uma pedra em mim. Já atirei em um bandido que ameaçou o escritório. Desta vez, atirei no meu analista. Isso é diferente. Atirei em um ser humano. Um ser humano de verdade. Os outros eram criminosos ou mendigos. Sidney (o analista) é real. Paga impostos, vive respira, é republicano ”. (demonstrando remorso após atirar no seu analista).
“Any Day; any Crane”.
“Canadá, Japão, Inglaterra, nesses países vermelhos eu estaria na cadeia por atirar em alguém. (…) Vidas foram salvas por eu estar armado. Todos devíamos nos armar. Cada cidadão deveria ter uma arma na cintura. Os criminosos as têm. A resposta não é menos armas, é mais”.
“Sobrenome: Crane. Primeiro nome: Denny. Not Guilt. Câmbio final”.
“Nunca perdi, nunca perderei”.
“A lei está do meu lado, além do governo dos EUA e Denny Crane. Duas forças iguais e imbatíveis”.
Denny Crane e Alan Shore
É, vou esperar o livro, o assunto parece ser bem interessante, mas a serie desconheço, la em casa so pega a globo, a band tambem, mas so se eu ficar segurando a antena…rssssssssss
Hugo,
o programa passa na FOX, mas é uma versão dublada horrível, intragável, sem condições.
O melhor é comprar as temporadas nesses sites tipo submarino, americanas etc. Ou então alugar na locadora.
George Marmelstein
Prezado Dr. George,
adoro o seriado e gostei muito dos seus comentários. Acredito que será uma obra de leitura muito interessante.
Guilherme Arruda
Advogado da União em Niterói – RJ
Caro Dr. George,
Tenho assinatura da sky, mas nunca assisti ao seriado…agora bateu uma curiosidade.
Como tudo que vc. escreve achei muito interessante e a idéia do livro melhor ainda.
Agora uma pergunta que não quer calar …o seu dia tem 24 horas?
Mal tenho tempo de ler o seu blog e vc ainda consegue ver um seriado!
Bom final de semana!
Graça Gouveia
George,
diante da explicação da péssima tradução, acho que se explica o fato de não ter gostado do seriado na fox, vou procurar o original, mas, e as legendas, são de melhor qualidade?
outra série que gosto muito é dr. house, embora não seja da área jurídica, sempre se coloca a questão do direito do paciente não querer determinado tratamento, ainda que esteja todo estrupiado e prestes a morrer, esse dilema é sempre colocado para a equipe do impagável médico e é levado a sério nos EUA, a ponto de ensejar indenização contra o hospital caso salvem a vida do sujeito contra a vontade dele.
Marcelo,
boston legal é o house jurídico.
George
Graça,
meu dia tem menos de 24 horas, pois adoro dormir. Durmo pelo menos dez horas por dia.
O seriado assisto no carro, enquanto estou indo para o trabalho. Ou então no avião, durante uma palestra e outra.
Em casa, não dá: prioridade dos meninos e da mulher.
George
Pelos dialogos que mostrou, nao sei como transformar o BOSTON LEGAL em algo interessante… Transformar PIADA em algo juridico. Era soh o que faltava…
Por que nao faz o trabalho com os MELHORES DO MUNDO? Facilitaria, nao precisaria traduzir nada.
Ah, os melhores do mundo também mereceriam uma análise jurídica. Aquela do Joseph Climber é ótima para discutir e compreender o princípio da dignidade da pessoa humana. Não concorda?
George
Bem para conciliar a Magistratura Federal, o Magistério Universitário, dar palestras e postar no Blog, só acordando, em pleno alvorecer de sábado, as 3:30 am, lavar-se, tomar café e postar as 4:02 am.
Parabéns prezado não só pela disposição física, bem como pela sapiência, humor e adequação de texto para a compreensão dos mais jovens.
Realmente deve(ra) ser interessante ler o seu livro, espero que o defeque – no bom sentido: DEFECAR v.i. 1 obrar. l v.t.d. 2 Depurar; limpar; purificar – para que possamos ter o prazer de lê-lo e, quiçá, dar boas gargalhadas.
Parabéns por seu trabalho.
George! Fazia quase um ano que não entrava no blog do senhor. Idéia absolutamente genial, de fazer um livro sobre Boston Legal. As duas primeiras temporadas são incríveis, com temas profundos e tocados com sabedoria, principalmente nos argumentos finais do Alan Shore (sempre um espetáculo à parte).
Como fã incondicional da série (até ela ter se tornado uma caricatura de si mesma, o que me deixa muito triste) não vejo a hora de ver o livro do senhor nas livrarias. Vou cobrar!
Ah, talvez o senhor não saiba ou não se recorde, mas Boston Legal é um desdobramento de “The Practice”. O Alan Shore surge (se eu não me engano) na última temporada, que se tornou, de longe, a melhor de todas daquela série. Seu senso de justiça, à revelia da ética, entra em confronto com os princípios dos personagens da série. Ele é visto como mau, perverso, sem princípios. O desenvolvimento do personagem em The Practice é fundamental para entendê-lo em Boston Legal, principalmente na 1a temporada.
Ficarei no aguardo para saber mais notícias do seu livro! (acho até que fiquei mais animado do que o senhor)
Dr. George.
Fascinante!!! Sou fã da série e como estudante de Direito fico analisando os casos e situações ali abordadas, por sinal, com muito bom humor.
É incrível ver um tipo como Denny Crane, sem princípios e egocentrico expor suas idéias.
Fiquei curiosa com o livro, será um deleite sua leitura.
Parabéns pelo Blog.
Adriana
Também sou vidrado (VIDRADO). Quarta Temporada, e Quinta lá vamos nós. A, só uma sugestão George, porque você não começa o livro desde a primeira aparição de Allan Shore e de Denny Crane, qual seja, a 8ª Temporada da série “The Practice”, que acabou na oiteva, e na sequencia começou B.L.
Sensacional.
Meus caros,
realmente, o The Practice mereceria alguma menção. Só assisti dois episódios, ainda da primeira temporada. Não achei tão bom quanto o Boston Legal, mas parece que realmente melhora no final, especialmente na última, quando o Alan Shore aparece.
Vou tentar adquirir. Se for o caso, faço um comentário no futuro livro.
eUJccT Good point. I hadn’t thuohgt about it quite that way. :)
Não encontrei uma tirada que não se aplique ao Brasil. Na verdade a dos vencedores não se aplica.
Vejam como ficaria bom assim:
“Você conhece a piada do cara que morre e vai para o portão do céu? São Pedro deixa ele entrar e ele vê um cara fazendo uma defesa oral. Aí ele pergunta para São Pedro: ‘Quem é?’ Ao que São Pedro responde: ‘Ah, é Deus. Ele pensa que é Gilmar Mendes’”.
=)
Gostaia de dizer apenas uma coisa:
“Denny Crane. Denny Crane.”
A série é sensacional, assisti tb a oitava temporada do The Practice pra ver o inicio mesmo, do Shore e do Crane. Excelente, aguardo esse livro com expectativas.
Denny Crane
Os autores forçam um pouco, e sem remorsos, fazem e sabe que fazem. Comete-se um crime e na outra semana já estão julgando? com juiz, advogados, júri e tal? sabe quanto tempo demora pra compor um jurí? nem eu. Mas com certeza naum é em uma semana. Mas na TV vale tudo. Sim, eu sei que é ficção e sendo assim tudo pode, mas então que expliquem, ou tentem. Isso pega como seriado mal feito. Não é o caso desse. Mas não custava melhorar essa parte.
Denny Crane.
Prezado Dr George…
Essa foi a segunda leitura a qual fiz de seus escritos nesse espaço virtual.
A primeira foi “As falácias de Quintino”[ so cearese, e conheço o lendário prestígio de Dr. Quintino].Lá, encontrei um link para este texto.E, rapidamente, percebi a qualidade de suas palavras.Eu, que só buscava algo acerca de Direitos Fundamentais, nesse vendaval de informações que é a internet, me surpreendi sobremaneira ao ler o senhor.Sou estudante de Direito da UESC, uma universidade da Bahia.E, como tantos estudantes e críticos-de-quase-tudo, às vezes me sinto desnorteada com as inúmeras blog-opiniões desse mundo on line.Onde a linha, por vezes, nem sequer existe.
No entanto, senti-me recompesada [temporalmente], como há muito não me sentia, após ter contato com seu blog.
Outra descoberta, foi a existência desse seriado.Hoje mesmo tentarei obter alguns episódios.
Ademais, caso escreva o pretendido livro, será um prazer compra-lo.
Sua mais nova “seguidora”,
Dayane
Olá.
Acho que para uma apresentação o texto ficou interessante. Seria legal discutir algumas problemáticas a partir da personagem.
Abraços
Esse texto está ótimo!! Que venha o livro, comprarei com certeza! Quanto a série, bom sem comentários tenho os DVD’s e não me canso de assistir, não só pela diversão mas pela forma como a lei é praticada, uma boa dica é assistir também a última temporada de “The Practice” S08 que nos apresenta o Alan Shore e o Denny Crane apartir dos 4 ultimos episódios e nos faz entender mais sobre o personagem, Boston Legal é um “Spin Off” dessa série que também foi excelente. E não sou da área de direito mas me interesso pelo assunto.
Denny Crane
“porque se você acreditar em deus e não existir nenhum deus, não há nehum dano, nenhuma falha; mas se você não acreditar, e ele existir você, está ferrado!”
E o livro, sai ou não?
Professor, faça umas análises sobre outros personagens da série. O Alan Shore (James Spader) também merece!!!!
Parabéns pelo blog!
Olá Dr.
Se um dia o projeto do livro sair da gaveta, não esqueça de nos avisar.
Um abraço e boa semana